Sonia Racy | 23 de abril de 2025 - 12h05

"Temos a possibilidade de fazer uma revolução na educação"

Crítico do sistema de educação padronizado, que segue um currículo linear para todos, empresário defende um ensino personalizado

DANIEL CASTANHO
Daniel Castanho aposta num futuro com educação personalizada - Foto: Grupo Ânima/Divulgação

Apaixonado por educação, Daniel Castanho diz que se envolveu com o tema desde a infância. “Meu pai tinha escola, então, eu fui o filho do diretor da escola. Eu almoçava e jantava falando sobre educação.”

Hoje, ele preside o conselho de administração da Ânima – instituição com 400 mil alunos e 16 mil funcionários –, que foca na aprendizagem individual do aluno, e é um crítico da formação padronizada. “Você entrega um conteúdo, cobra uma prova e dá um certificado, mas é a mesma coisa para todo mundo. E é isso que aconteceu nos últimos anos, nos últimos séculos”, diz. “Agora, a gente tem a possibilidade de fazer uma revolução na educação. De ter uma educação personalizada.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

Sempre ouvimos que a educação é o futuro. A educação chegou ou continua sendo o futuro?

Eu falo que as instituições de ensino deveriam ser a grande locomotiva da sociedade. Agora, é muito difícil mudar. Você tem o governo que define todas as regras. Então, por isso acaba que as normas são mais rígidas e muitas vezes não permitem que a educação seja essa grande locomotiva da sociedade.

Por que a gente anda devagar?

Você vê os grandes movimentos da educação. E eu acho que isso não é um privilégio do Brasil, isso acontece em todos os lugares. Agora, eu acho que a gente está num momento único da história. Se você parar para pensar na Grécia, naquela época (na antiguidade), você tinha uma educação personalizada, para poucos. Depois, passou um tempo, a gente tem uma educação padronizada para muitos. É a mesma coisa para todo mundo. O foco ainda está no conteúdo. Você entrega um conteúdo, cobra uma prova e dá um certificado. E é isso que aconteceu nos últimos anos, nos últimos séculos. E, agora, a gente tem a possibilidade de fazer uma revolução na educação. De ter uma educação personalizada para muitos. Para mim, as grandes tendências que você tem agora na educação, e que a gente deve mudar: acabou o currículo linear, ou seja, aquele currículo que é a mesma coisa para todo mundo, independentemente das habilidades ou dos desejos individuais. Você entra na universidade, vai fazer a mesma carreira, o mesmo currículo, o mesmo perfil. Então, imagina a gente acabar com o currículo linear, ter uma flexibilidade muito maior, no qual os alunos vão fazendo as suas escolhas dentro de um percurso formativo diferente.

O sistema já está em funcionamento?

Por isso que eu estou falando que a legislação ainda, não necessariamente, dá essa total flexibilidade. Ela dá alguma flexibilidade, mas as pessoas, as instituições de ensino, muitas vezes – e eu estou falando público, privado, de educação básica, superior –, usam essa flexibilidade não necessariamente para melhorar a qualidade, para melhorar a experiência do aluno, mas para reduzir custos. Quando você usar para realmente repensar a escola como um todo e repensar a experiência do aluno, aí, sim, a gente cria um outro ambiente. Então, além de você quebrar o currículo linear, é você pensar a universidade, a escola, como um grande ecossistema de aprendizagem. A gente tem de mudar de um sistema de ensino fechado, (em que) não interessa o que o aluno aprendeu, o que importa é o que o professor ensinou. O ecossistema de aprendizagem é muito mais aberto, é integrado, onde você aprende de uma maneira muito mais fluida.

O que é a Ânima? O que o fez entrar nessa área?

É um ecossistema de aprendizagem. (Antigamente) As regras eram mais rígidas, mas meu pai dizia: “Não importa a nota que você tirou na prova, eu quero saber se você realmente aprendeu”. Então, a prova é simplesmente para que você saiba o que você não sabe. E eu falo isso para os meus filhos. Você tirou 7, 6 ou 9, não interessa. Eu quero saber se agora, se você fizesse (a prova), você tiraria 10.

É um termômetro para você mesmo?

É igual quando você faz terapia. No primeiro dia, eu falei assim: “Olha, eu quero me curar das coisas que eu não conto para ninguém, nem para mim mesmo”. Quer dizer, esse é o grande motivo pelo qual você faz uma prova. Para que você saiba o que você não sabe. E aí você possa evoluir.

Como fazer para atrair a atenção do aluno com tanta coisa acontecendo fora da escola, com a inteligência artificial?

A inteligência artificial vai ajudar, acelerar essa experiência do aluno. Esquece essa questão de presencial e a distância. Eu acho que (a tendência) é um ensino híbrido, integrado, permeável, indissociável. Você não pode mais pensar em uma sala de aula e o professor escrevendo na lousa e todo mundo copiando. Quer dizer, ficar passando um PowerPoint. Isso você pode até transmitir, deixar as aulas gravadas. A sala de aula tem de ser um lugar de brainstorm, um lugar para você discutir grandes temas depois de ter visto e ter estudado aqueles vídeos e lido várias coisas que você tem de ler. Aí você pode ir para a escola sem professor. É o “espaçomaker”, são os laboratórios, é trabalhar em equipe, aprender com os outros. A inteligência artificial tem de fomentar e acelerar, potencializar o professor, não vai substituir o professor.