Rayssa Motta | 02 de abril de 2025 - 18h15

Advogado de ex-assessor de Moraes quer OAB contra ministro por devassa em conversas com cliente

Eduardo Kuntz, que defende Eduardo Tagliaferro, indiciado pela Polícia Federal pelo suposto vazamento de mensagens do gabinete de Alexandre de Moraes, afirma que teve prerrogativas violadas; PF analisou diálogos entre o criminalista e o perito

NACIONAL
Ministro Alexandre de Moraes autorizou análise de conversas entre Eduardo Kuntz e Eduardo Tagliaferro. - (Foto: Antonio Augusto/STF)

O criminalista Eduardo Kuntz estuda acionar o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter autorizado a quebra do sigilo de mensagens dele com o perito computacional Eduardo Tagliaferro.

Ao Estadão, o advogado afirmou que vai pedir "providências" da OAB. Ele considera que teve as prerrogativas profissionais violadas.

"Estou cogitando de acionar o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil para tomar providências, considerando que não consta dos autos o pedido e a decisão que autorizou a violação das minhas prerrogativas profissionais, envolvendo a comunicação entre cliente e advogado", afirmou.

O Estatuto da Ordem dos Advogados, que tem status de lei, prevê a inviolabilidade das comunicações do advogado, "desde que relativas ao exercício da advocacia", exceto se houver "indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado".

O perito Eduardo Tagliaferro foi indiciado nesta quarta-feira, 2, pelo vazamento de conversas de servidores dos gabinetes de Moraes no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No relatório final da investigação, a Polícia Federal informa que, com autorização do ministro, analisou as conversas entre o perito e seu advogado "a fim de atestar ou refutar a prática de outras condutas ilícitas atreladas a esta investigação".

"Cabe rememorar que os ataques direcionados a membros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral indicavam a atuação de uma organização criminosa, com diversos núcleos, voltada a práticas de crimes que englobam, entre outros, a desestabilização do Estado Democrático de Direito", justificou o delegado Thiago Batista Peixes, responsável pela investigação.

"Portanto, a análise teve por fim verificar o pertencimento à organização criminosa, bem a prática de condutas orientadas para atingir um objetivo comum."

Com base nos diálogos, a PF descartou "infrações penais extras".