29 de março de 2025 - 21h43

Quem foi Oil Man, personagem icônico de Curitiba que morreu aos 64 anos

Nelson Rebello, biólogo e professor aposentado, virou personagem da cidade com seu traje mínimo, bicicleta e jeito excêntrico mas sempre tranquilo

PERSONAGEM FOLCLÓRICO
Morre Oil Man, o herói de sunga e óleo que caminhava por Curitiba como se fosse verão eterno

Curitiba perdeu um dos seus personagens mais marcantes neste sábado (29). Morreu aos 64 anos o biólogo Nelson Rebello, mais conhecido como Oil Man — um tipo de herói urbano que andava pela cidade de sunga, tênis e o corpo brilhando de óleo, como se todos os dias fossem verão, mesmo quando o termômetro dizia o contrário.

Segundo o Hospital Evangélico Mackenzie, onde ele estava internado desde quarta-feira, a causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória. O hospital informou que a morte não teve relação com os ferimentos que Rebello sofreu no início da semana, quando foi mordido por seu cachorro em casa.

O sepultamento será neste domingo (30), às 11h, no Cemitério Municipal Água Verde, em Curitiba. O prefeito Eduardo Pimentel (PSD) decretou luto oficial e publicou uma homenagem: “Vai fazer falta. Minha solidariedade aos familiares.” O governador Ratinho Júnior (PSD) também lamentou: “Uma das maiores personalidades da nossa cidade nos deixou.”

Uma figura que virou parte da paisagem - Quem andou pelas ruas de Curitiba nas últimas duas décadas, provavelmente já cruzou com Oil Man. Elecostumava aparecer com o corpo besuntado de óleo bronzeador, sempre usando o mesmo uniforme: sunga justa, tênis, óculos escuros e, às vezes, uma bicicleta. O contraste entre o bronzeado brilhante e o frio típico da capital era parte do personagem.

Para muitos, ele era só um excêntrico. Para outros, uma espécie de símbolo da liberdade. Seu “ponto fixo” favorito era a Rua XV de Novembro, onde caminhava, posava para fotos e conversava com curiosos. Em 2011, chegou a ser homenageado por um grupo de ciclistas da cidade.

O homem por trás da sunga - Apesar do visual chamativo, Nelson Rebello levava uma vida discreta. Era formado em Biologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi professor universitário e, durante muitos anos, morou com a mãe. Quando foi entrevistado pelo Fantástico, da TV Globo, disse que tinha “cinco bicicletas” e que o Oil Man era um personagem criado por ele mesmo — uma mistura de performance de rua, protesto silencioso e filosofia de vida.

“Considero como se fosse uma obra de arte. Uma teoria de bem-estar e saúde. Existe alguma coisa de super-herói mesmo”, disse na época. Mesmo no inverno curitibano, mantinha o uniforme minimalista. Segundo ele, o corpo precisava de sol.

Famoso, mesmo sem querer ser - O personagem acabou ficando conhecido em todo o país, depois da reportagem exibida no quadro Me Leva, Brasil, apresentado por Maurício Kubrusly. Foi nesse momento que muita gente entendeu que por trás daquele visual incomum havia uma ideia — e um certo tipo de liberdade: a de andar por aí como bem entender.

Nelson nunca buscou fama, mas também não fugiu dela. Recebia com bom humor quem o reconhecia nas ruas, e sempre dizia que Curitiba era o palco perfeito para o Oil Man — uma cidade onde ele podia ser estranho sem ser expulso.

Última volta na cidade - A morte de Nelson Rebello comoveu moradores, autoridades e fãs anônimos. Ele era, afinal, um daqueles personagens que não pedem licença para existir, mas acabam virando parte da cidade como um relógio antigo, uma árvore no parque ou uma estátua no centro.

O Oil Man se foi, mas sua imagem — meio homem, meio performance — deve continuar brilhando na memória coletiva de Curitiba. Com sunga, óleo e um sorriso calmo, ele lembrava que, de vez em quando, é possível viver a própria fantasia em plena luz do dia.