Natalia Yahn | 13 de março de 2025 - 10h40

Pesquisadores estudam impacto do fogo no Pantanal e estratégias para evitar incêndios

Mudanças climáticas e longos períodos de seca aumentam risco de queimadas na região

MEIO AMBIENTE
Pesquisadores estudam os impactos do fogo no Pantanal para definir estratégias de manejo e evitar grandes incêndios. - Saul Schramm/Secom/Arquivo

O Pantanal é um bioma que sempre conviveu com ciclos naturais de cheia, seca e fogo. No entanto, as mudanças climáticas têm agravado a situação, tornando os incêndios florestais cada vez mais frequentes e intensos. A seca prolongada, o aumento das temperaturas e a redução das chuvas criam um cenário propício para a propagação do fogo, ameaçando a biodiversidade e o equilíbrio ambiental da região.

Diante desse cenário, pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) realizam desde 2021 um estudo para entender os impactos das queimadas no bioma e definir estratégias eficazes para o manejo integrado do fogo. O projeto faz parte do programa Peld (Pesquisas Ecológicas de Longa Duração) do Nefau (Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas), com apoio do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia).

O pesquisador e doutor em Biologia Geraldo Damasceno Júnior explica que o Pantanal tem uma certa resistência ao fogo, mas o excesso de queimadas pode comprometer sua recuperação.

Doutor em biologia e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Geraldo Damasceno Júnior

“O Pantanal é forjado no fogo, por isso tem resiliência a ele. Algumas áreas se regeneram rapidamente, em até dois meses. O que estamos avaliando é como o fogo tem alterado esse equilíbrio e qual seria a melhor época para realizar queimadas controladas, evitando grandes incêndios”, destaca Damasceno.

No Cerrado, por exemplo, o manejo do fogo é feito a cada dois a três anos. No Pantanal, ainda não há um consenso sobre o tempo ideal para essa prática. O estudo busca identificar quando e como a queima preventiva pode ser feita de forma segura, reduzindo o acúmulo de biomassa seca, que alimenta grandes incêndios.

Seca prolongada aumenta risco de queimadas - Outro fator que preocupa os especialistas é a redução do volume de chuvas no Pantanal. Dados do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) apontam um déficit hídrico superior a 200 mm entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, em locais como Porto Murtinho e Porto Esperança.

A meteorologista Valesca Fernandes alerta que as chuvas continuam abaixo da média histórica e que os próximos meses podem ser ainda mais secos.

"O ano de 2024 foi um dos mais críticos em termos de seca. Agora, mesmo com uma leve melhora, o cenário ainda exige atenção. As chuvas estão irregulares e há risco de novos períodos de estiagem severa”, afirma.

Desde 2018, o Pantanal enfrenta períodos de seca mais longos e extremos, algo que não era visto desde a década de 1960. O pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, reforça que essa mudança no clima tem impacto direto na frequência e intensidade dos incêndios.

“O Pantanal tem enchido cada vez menos e estamos vivendo um ciclo de seca prolongado. Isso faz com que o fogo se alastre mais rapidamente e tenha consequências mais graves. Ainda não sabemos por quanto tempo esse padrão climático vai durar”, explica Padovani.

O estudo da UFMS também avalia os efeitos do fogo em diferentes paisagens do Pantanal, analisando o impacto nas espécies de fauna e flora

Ações de prevenção e combate ao fogo - Para reduzir os danos causados pelos incêndios, o Governo de Mato Grosso do Sul tem investido em diversas frentes de prevenção e combate ao fogo.

O Corpo de Bombeiros Militar (CBMMS) mantém bases avançadas em áreas remotas do Pantanal, garantindo uma resposta rápida em caso de incêndios. Além disso, são realizadas ações educativas com comunidades locais e proprietários rurais, orientando sobre boas práticas para evitar queimadas descontroladas.

O estudo da UFMS também avalia os efeitos do fogo em diferentes paisagens do Pantanal, analisando o impacto nas espécies de fauna e flora. A ideia é entender como os animais e as plantas reagem após um incêndio e quais áreas são mais sensíveis às queimadas.

“Nosso trabalho analisa como o fogo afeta diferentes ambientes, especialmente os campos inundáveis, que são essenciais para o ecossistema e também utilizados como pasto. Estamos estudando como répteis, aves e pequenos invertebrados lidam com esses eventos”, explica Damasceno.

O uso controlado do fogo, aliado a estratégias de monitoramento climático e ações preventivas, pode ser a chave para evitar tragédias ambientais no Pantanal. O desafio dos especialistas é equilibrar a presença natural do fogo no bioma sem permitir que ele saia do controle e cause destruição em larga escala.

Com as pesquisas em andamento, a expectativa é que o manejo integrado do fogo seja aprimorado, garantindo a preservação do Pantanal sul-mato-grossense, que ainda mantém 84% de sua vegetação nativa preservada, sendo um dos biomas mais conservados do mundo.