Aline Kraemer | 12 de março de 2025 - 17h59

Eucalipto e transporte fluvial: deputados discutem desafios ambientais no MS

Deputados debatem impactos ambientais e econômicos do avanço das plantações e da concessão da Hidrovia do Rio Paraguai

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Parlamento e representantes argumentaram algumas soluções para mitigar os impactos causados pela plantação de eucaliptos - (Foto: Wagner Guimarães)

O Mato Grosso do Sul está ficando mais verde – mas não necessariamente da forma que se espera. A monocultura de eucalipto avança rapidamente na região do Bolsão, no leste do estado, enquanto o governo discute a concessão da Hidrovia do Rio Paraguai para facilitar o escoamento da produção. No papel, tudo parece bom para o desenvolvimento. Na prática, há dúvidas.

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) resolveu colocar o assunto na mesa. Nesta quarta-feira (12), a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promoveu um debate para entender melhor os impactos dessas atividades. De um lado, o crescimento da silvicultura e seus efeitos na água, no solo e na arrecadação dos municípios. Do outro, a promessa de um transporte fluvial eficiente, mas que pode afetar comunidades ribeirinhas e o Pantanal.

O deputado estadual Renato Câmara.

O deputado Renato Câmara (MDB), presidente da comissão, abriu a reunião deixando claro que a ideia não era condenar nem defender nada, mas avaliar os impactos e buscar soluções. "Todo impacto tem caminhos de mitigação", disse. Em outras palavras: é preciso encontrar um meio-termo entre o desenvolvimento e a preservação.

O eucalipto cresce, a água some? A monocultura de eucalipto tem ganhado espaço no Bolsão, região que abriga municípios como Selvíria, Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas. A madeira abastece indústrias de celulose, mas o crescimento descontrolado preocupa. O secretário adjunto de Meio Ambiente de Selvíria, Valticinez Barboza Santiago, trouxe dados alarmantes: 350 nascentes já secaram ou perderam força, e muitas cidades produtoras ficam apenas com os impactos negativos – sem retorno financeiro.

O problema não é só ambiental. A arrecadação gerada pelo eucalipto vai para Três Lagoas, onde estão as indústrias, enquanto os municípios produtores ficam sem o imposto. "Quem gera a matéria-prima arca com os prejuízos ambientais, mas não recebe o dinheiro", explicou Santiago. Segundo ele, Selvíria perdeu 70 mil cabeças de gado nos últimos anos porque as pastagens foram substituídas pelo eucalipto.

O deputado Zeca do PT sugeriu duas medidas para equilibrar a balança: que as empresas assumam a responsabilidade de preservar as nascentes e que seja criado um fundo de compensação ambiental para os municípios impactados.

O deputado estadual Zeca do PT 

Uma hidrovia eficiente, mas para quem? Enquanto o eucalipto avança na terra, outra polêmica navega pelos rios. A Hidrovia do Rio Paraguai é vista como uma solução para o transporte de cargas, mas há incertezas sobre seus impactos para o Pantanal e para as comunidades ribeirinhas.

Bruno Pinheiro, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), explicou que a concessão prevê 15 anos de operação, com um investimento inicial de R$ 74,3 milhões para tornar a navegação mais segura. A ideia é melhorar a gestão ambiental, o monitoramento do rio e a infraestrutura da hidrovia.

Mas nem todo mundo está convencido. O Ministério Público Federal (MPF) alertou que a população ribeirinha não foi consultada sobre o projeto. Para o procurador Marco Antônio Delfino de Almeida, qualquer grande obra precisa ser debatida com todos os envolvidos. "Até agora, a Antaq não tomou nenhuma iniciativa para ouvir as comunidades que serão afetadas", criticou.

E agora? O debate foi só o começo. O deputado Renato Câmara disse que novas reuniões serão marcadas para aprofundar a discussão sobre o eucalipto e que os questionamentos levantados serão enviados ao Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul).

Sobre a hidrovia, a comissão pretende solicitar um estudo detalhado sobre os impactos da dragagem e organizar uma audiência pública para ouvir a população.


Debate na Assembleia Legislativa reúne deputados e especialistas para discutir os impactos ambientais e econômicos da monocultura de eucalipto e da Hidrovia do Rio Paraguai.

O encontro reuniu parlamentares, especialistas e representantes do governo, além de ser transmitido ao vivo pelo canal da ALEMS no YouTube. O próximo capítulo dessa história ainda está sendo escrito – e promete continuar dividindo opiniões.

Confira abaixo: