Redação | 12 de março de 2025 - 16h35

O dia em que Flávia Regina nasceu de novo

Depois de anos esperando um rim, paciente comemora aniversário no hospital e toca o sino da vitória

DOAÇÃO DE ORGÃOS
Flávia Regina celebra seu aniversário no hospital após receber um transplante de rim. A equipe médica organizou uma surpresa para marcar o momento especial - (Foto: Arquivo pessoal)

Flávia Regina Escobar Braga tinha dois aniversários. Um no papel, 28 de fevereiro de 1979. O outro, no coração, 25 de fevereiro de 2024, dia em que recebeu um novo rim no Hospital Unimed Campo Grande. Entre um e outro, 45 anos e uma vida inteira de altos e baixos. O lúpus, doença autoimune que ataca órgãos e tecidos do corpo, comprometeu seus rins. A diálise virou rotina. A fila do transplante parecia não andar. Até que, num sábado, o telefone tocou.

"Era o doutor dizendo que havia um doador", lembra Flávia. "Eu nem era a primeira da fila, mas a ansiedade tomou conta. Quando cheguei ao hospital e confirmaram que o rim era meu, eu chorei, meu marido chorou, a gente agradeceu a Deus. E eu pensei o tempo todo na família que concordou em doar os órgãos do seu filho".

A cirurgia foi um sucesso. Três dias depois, Flávia comemorou 45 anos ainda no hospital, cercada por médicos e enfermeiros que organizaram uma festa improvisada. Apagou as velas, tocou o sino da vitória e celebrou o começo de uma nova vida.

Flávia Regina e seu marido, Francisco Douglas, aproveitam um momento ao ar livre após o transplante. Um novo começo depois de anos na fila de espera. | Foto: Divulgação

Uma espera longa, uma nova chance - O diagnóstico veio em 2007. O lúpus é traiçoeiro. No começo, dores e cansaço. Depois, os rins começaram a falhar. Em 2023, Flávia precisou iniciar a diálise, primeiro no hospital, depois em casa. Quatro trocas por dia. Todos os dias. Sem exceção.
O nefrologista Alexandre Cabral acompanhava tudo de perto. Ele sabia que a diálise prolonga a vida, mas não é um destino. "O transplante melhora muito a qualidade de vida e aumenta a expectativa de vida também", explica o médico.

No Brasil, mais de 25 mil pessoas esperam por um rim. Algumas ficam anos na fila. Outras, não chegam a tempo. Flávia teve sorte.

O doador era um jovem cuja família autorizou a doação dos órgãos. Para Flávia, um gesto de amor e generosidade. "Eu pensei muito neles. Se não fosse essa decisão, eu ainda estaria na fila".

Tocando o sino da vitória - No dia 28, dia do seu aniversário, a equipe médica preparou um bolo e reuniu todo mundo na enfermaria. Não foi só um parabéns. Foi um ritual de passagem. Flávia segurou a cordinha do sino e fez soar o barulho da vitória. "Foi impressionante. Pensei na família do doador, no pessoal do hospital que fez tudo aquilo por mim, no amor de Deus". Dias depois, recebeu alta. Voltou para casa com o marido, Francisco Douglas, e uma sensação diferente: a de que agora podia fazer planos.

Para quem ainda espera um transplante, ela deixa um recado: "Não desistam. Sejam otimistas. Acreditem na bondade das pessoas e na benevolência divina".

https://youtube.com/shorts/MKQVuIVmFfA