O Brasil está cansado: afastamentos por transtornos mentais disparam em MS
Entre burnout e boletos, ansiedade e depressão lideram licenças médicas no estado
BURNOUTO Brasil trabalha muito. E, ao que tudo indica, adoece na mesma proporção. Em Mato Grosso do Sul, mais de 8 mil trabalhadores precisaram se afastar do trabalho em 2024 por transtornos mentais e comportamentais. Os dados, divulgados pelo Ministério da Previdência Social (MPS), mostram que ansiedade, episódios depressivos e estresse grave estão no topo da lista de diagnósticos.
Se há alguns anos os afastamentos médicos eram mais associados a problemas físicos, como lesões na coluna, agora as doenças da mente ocupam um espaço cada vez maior na fila do INSS. Em dez anos, o número de licenças por transtornos psicológicos no Brasil mais do que dobrou, passando de 203 mil em 2014 para mais de 440 mil em 2024.
A psicóloga Lóren Lohana Dutra Barbosa diz que não é uma coincidência. Para ela, o mercado de trabalho atravessa um dilema: ou muda e se adapta às novas gerações, ou continuará produzindo estatísticas alarmantes como essa.
“Há muita crítica sobre a geração Z e sua relação com o trabalho, mas o que ocorre é um questionamento sobre relações abusivas no ambiente profissional. Os altos índices de afastamento refletem isso”, explica.
Os motivos que levam um trabalhador a entrar de licença são variados, mas há um padrão: salários baixos, excesso de trabalho, falta de tempo para lazer e um ambiente profissional que cobra produtividade sem oferecer suporte.
Concessões por transtornos mentais e comportamentais em MS
Transtorno Afastamentos
Outros transtornos ansiosos 2.516
Episódios depressivos 2.408
Transtorno depressivo recorrente 1.556
Transtorno afetivo bipolar 861
Reações ao estresse grave e transtorno de adaptação 370
Transtornos mentais devido ao uso de álcoo l89
Transtorno devido ao uso da cocaína 89
Transtorno específico da personalidade 71
Um problema que vai além dos consultórios - O impacto dos afastamentos por transtornos mentais não se resume ao sofrimento individual. Empresas perdem produtividade, a economia sente os efeitos e o sistema público de saúde fica sobrecarregado. No final, todos pagam a conta.
E a tendência, segundo especialistas, é que os números continuem subindo. A pandemia mudou a forma como as pessoas enxergam o trabalho, e muitos passaram a perceber que a rotina frenética de metas, pressão e jornadas exaustivas cobra um preço alto demais.
Para a psicóloga Lóren Barbosa, a solução passa por mudanças estruturais dentro das empresas. "Ou o mercado se adapta e começa a criar ambientes mais acolhedores ou vai continuar adoecendo junto com os funcionários", conclui.
O Brasil, aparentemente, está acordando para a crise da saúde mental. A pergunta que fica é: as empresas também?