'PSDB não está em extinção, mas seus valores devem ser mantidos', diz Eduardo Riedel
Governador do Mato Grosso do Sul fala sobre fusão do PSDB, popularidade de Lula, queimadas no Pantanal e infraestrutura na América do Sul
POLÍTICAO governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), abordou nesta segunda-feira (17), em entrevista ao Live CNN, a possível fusão do PSDB com outro partido, ressaltando que, apesar das mudanças no cenário político, os valores da legenda devem ser preservados. Além disso, ele comentou a queda na popularidade do presidente Lula, os desafios ambientais enfrentados pelo Pantanal e a importância da infraestrutura para conectar o Brasil ao Pacífico.
"Essa é uma mudança conceitual que o Brasil vai atravessando, dentro de uma reforma política. O PSDB é um partido histórico, que não sei se está em extinção, mas acho que os valores que o PSDB detém da social-democracia são essenciais", afirmou o governador.
Sobre a possibilidade de fusão com outra legenda, Riedel reconheceu que a pressão do atual cenário político tem levado a sigla a discutir novas estratégias. "Claro que essa reforma política tem pressionado um partido que perdeu muito espaço no ambiente da polarização a pensar e discutir com outros partidos algumas alternativas", explicou.
Queda na popularidade de Lula e política econômica - Ao comentar os números do último levantamento do Datafolha, que indicam uma queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Riedel destacou que o próprio governo reconhece esse cenário e apontou a política econômica como um dos principais fatores.
"A gente vive um momento macroeconômico complicado no Brasil. Juros altos, inflação em alta. Quem mais sente isso? A classe baixa, no bolso, no dia a dia das coisas mais básicas", afirmou. "De fato, me parece que as pesquisas mostram um mau humor bastante forte em relação ao presidente. No meu ponto de vista, é preciso rever a política econômica", completou.
Incêndios no Pantanal e desafios ambientais - Outro tema abordado na entrevista foi a questão ambiental, especialmente os incêndios no Pantanal. Riedel enfatizou que a mudança climática e as secas intensas agravaram o problema nos últimos anos. Segundo ele, é fundamental adotar uma estratégia contínua para prevenir queimadas, investindo em infraestrutura e conscientização.
"A gente passou no ano passado por uma das maiores crises de seca e acabou no bioma Pantanal. O resultado são os incêndios. Precisamos mudar a consciência e nos prepararmos para isso, com uma estrutura que não seja apenas sazonal", afirmou.
O governador citou avanços na legislação e investimentos estaduais, como a aquisição de aeronaves para combate ao fogo. "Hoje temos dois aviões, helicópteros e pistas de suporte. O Pantanal tem 12 milhões de hectares sem acesso por estrada. Não dá para mandar caminhão do Corpo de Bombeiros, é uma outra realidade. Precisamos envolver a própria comunidade local no primeiro enfrentamento, capacitando essas pessoas", explicou.
Quando questionado sobre o endurecimento das punições para queimadas ilegais, Riedel alertou para a necessidade de distinguir incêndios criminosos de outras situações. "Temos que separar o joio do trigo. Se for criminosa, tem que haver punição. Mas há muitas situações em que o início do fogo não é crime. Precisamos ser assertivos para não cometer injustiças", ponderou.
Ao ser questionado sobre a aparente dicotomia entre crescimento econômico e proteção ambiental, Riedel afirmou que é possível conciliar os dois. "Ao longo da nossa história, criamos um antagonismo entre desenvolvimento e preservação, principalmente no agro. Mas eu tenho tentado mostrar que esses dois temas não são opostos", argumentou.
Ele citou o Mato Grosso do Sul como exemplo de desenvolvimento sustentável. "Nos últimos 14 anos, mais do que triplicamos a área de grãos sem desmatar. Tudo ocorreu em áreas de pastagem degradada. Isso é extremamente benéfico do ponto de vista ambiental, pois mantém a biodiversidade e melhora o balanço de carbono", explicou.
Marco temporal e demarcação de terras indígenas - Riedel também comentou sua participação nas audiências de conciliação sobre o marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, o debate está longe de um consenso, mas destacou a importância de se avançar em uma legislação clara sobre a questão fundiária indígena.
"Primeiro, é preciso louvar a iniciativa do ministro Gilmar Mendes em buscar o diálogo. É um tema extremamente complexo, e não há consenso, nem mesmo entre os governadores. O Brasil ainda carece de uma legislação clara sobre áreas indígenas, e muitas decisões acabam sendo tomadas com base na Constituição, o que gera conflitos", afirmou.
Ele também ressaltou a importância da regulamentação da mineração em terras indígenas. "Esse é um ponto que precisa ser debatido com clareza, para evitar conflitos e garantir segurança jurídica", disse.
No que diz respeito à preservação ambiental, Riedel destacou o papel do Fundo do Pantanal, que será lançado em março. "O governo do estado vai investir R$ 40 milhões para incentivar a preservação de ativos ambientais. Precisamos remunerar quem protege o meio ambiente, para garantir a preservação dos 84% do bioma que ainda estão intactos", explicou.
Conexão com o Pacífico e investimentos em infraestrutura - Outro tema abordado na entrevista foi a construção de rotas que conectem o Brasil ao Oceano Pacífico. Riedel destacou o projeto da Rota Bioceânica, que passa pelo Mato Grosso do Sul e liga o Atlântico ao Pacífico, atravessando Paraguai, Argentina e Chile.
"Amanhã, vamos sediar um seminário com oito governadores dos quatro países envolvidos no projeto. Essa rota será uma grande transformação para o Brasil e para a América do Sul. Além do impacto logístico, ela também trará benefícios para o turismo e o comércio", disse.
Ele enfatizou a importância da logística para o crescimento da região. "O Pacífico está 14 dias de navio mais perto da Ásia do que o Atlântico. Isso muda completamente o jogo. A China está investindo em um aeroporto no Peru, o que reforça essa tendência", explicou.
Sobre a possibilidade de uma nova rota ligando a Amazônia ao Pacífico, Riedel disse que acompanha o debate, mas ressaltou a necessidade de avaliar os impactos ambientais da iniciativa. "É preciso entender bem os impactos de estradas e outras infraestruturas na região", concluiu.