Da redação | 16 de fevereiro de 2025 - 12h01

"É preciso abraçar o mundo": a história de João da Moto

Livro conta a trajetória de um homem com paralisia cerebral que transformou desafios em movimento

LITERATURA
Além da história inspiradora de João, marcada por uma capacidade intelectual que gerou muita luta, inconformismo e busca de realização pessoal - (Foto: Arquivo)

João Carlos Estevão de Andrade nasceu no Rio de Janeiro, em 1964. Os médicos olharam para os pais e disseram que a vida dele não seria fácil. Paralisia cerebral. Movimentos limitados. Dependência. Uma lista de restrições foi entregue junto ao diagnóstico. Mas João não quis saber de nenhuma delas.

O menino cresceu, mudou-se para Campo Grande e, montado em seu triciclo, fez da cidade sua casa e do asfalto, seu caminho. Virou figura conhecida, militante da inclusão, membro da Associação Pestalozzi e, principalmente, dono da própria história. “A consciência das nossas limitações não pode ser tão débil que nos impulsione à aventura do impossível, nem tão exuberante que nos faça recuar diante da possibilidade do fracasso”, dizia João.

Agora, sua trajetória está registrada em um livro. “João da Moto – Minha História com a Paralisia Cerebral”, lançado em 2021 pela Life Editora, foi escrito por Lenilde Ramos, artista, escritora e compositora de Campo Grande. Amiga de João por mais de 40 anos, Lenilde acompanhou de perto sua jornada e transformou em palavras aquilo que ele sempre viveu na prática: uma vida sem limites.

Muito além do diagnóstico - O livro não é apenas uma biografia. É uma prova de que João enxergava o mundo de um jeito diferente. Enquanto muita gente via barreiras, ele via possibilidades. Se os outros andavam, ele pilotava seu triciclo. Se a fala saía difícil, as ideias vinham claras.

Lenilde conta que João gostava de debates, pensava criticamente sobre inclusão e autonomia. Não queria ser visto como um coitado, muito menos como um herói. Só queria que as pessoas entendessem que, no fundo, todo mundo tem algum tipo de limitação – e que isso não deveria definir ninguém. “É preciso abraçar o mundo como a uma amante, com a paixão que não nos deixa curvados diante de nossas limitações”, refletia ele.

O livro traz ainda fotos, trechos de conversas e frases marcantes de João, como esta: “Para crescer, precisamos cortar a dúvida como prego do conhecimento”.

Um livro que ensina a olhar diferente - Lenilde Ramos não escreveu apenas sobre João. Ela escreveu sobre como a sociedade trata as pessoas com deficiência. João foi uma exceção não porque teve paralisia cerebral, mas porque não aceitou o lugar que queriam impor a ele.

E quem lê João da Moto entende que não é João quem precisa mudar – é a forma como olhamos para histórias como a dele.