Da redação | 12 de fevereiro de 2025 - 13h27

Professora trans usa fantasia de Barbie e Secretaria de Educação abre procedimento administrativo

Caso gerou críticas de políticos e debate sobre limites pedagógicos e inclusão nas escolas

POLÊMICA NA ESCOLA
Secretaria de Educação abre procedimento administrativo para apurar caso de professora trans que usou fantasia de Barbie em escola de MS - (Foto: Reprodução)

A Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Campo Grande (MS) abriu um procedimento administrativo para apurar o caso da professora Emy Mateus Santos, de 25 anos, que se fantasiou de Barbie para recepcionar os alunos na Escola Municipal Irmã Irma Zorzi, no Bairro Sílvia Regina.

A docente, que é mulher trans e leciona Artes Cênicas, Teatro e Dança, afirmou que outras professoras também usaram fantasias de personagens infantis, mas apenas ela foi alvo de críticas. O episódio gerou repercussão política, levando o vereador André Salineiro (PL) e o deputado estadual João Henrique Catan (PL) a se manifestarem contra a caracterização da professora e pedirem providências à Semed.

A secretaria informou, por meio de nota, que o procedimento administrativo tem como objetivo garantir transparência e averiguar se houve desacordo com as diretrizes curriculares e normas disciplinares.

"Ainda que a prática seja comum, a secretaria conduzirá um levantamento para garantir transparência e adequação às diretrizes curriculares", destacou o órgão.

A professora Emy Mateus Santos, de 25 anos, que se fantasiou de Barbie para recepcionar os alunos

Debate político - O vereador André Salineiro (PL) enviou um ofício formal à Semed, afirmando que a presença da professora fantasiada representaria "orientação sexual dentro da escola", o que, segundo ele, deveria ser responsabilidade dos pais.

“Não podemos aceitar isso como normal. Para deixar bem claro, a orientação sexual deve ser feita pelos pais às crianças e não pela escola”, declarou.

Já o deputado João Henrique Catan (PL) criticou a situação durante discurso na Assembleia Legislativa, pedindo esclarecimentos sobre o uso da fantasia.

"Quero saber quem é esse professor, eu quero saber quem é esse diretor que permitiu que um professor entrasse dentro de sala de aula fantasiado de travesti", afirmou. O deputado também divulgou um vídeo nas redes sociais mostrando as crianças interagindo com a professora.

Professora contesta - Diante das críticas, Emy anunciou que tomará providências legais contra os políticos. Segundo ela, os vídeos divulgados foram retirados de contexto e seu trabalho pedagógico seguiu todas as diretrizes da escola.

"Estou emocionalmente fragilizada e desestabilizada. É o que eu falo para as outras meninas trans. Muda o documento, luta pelo diploma, mas ainda assim vai ser violentada e ter o trabalho diminuído pelo preconceito", declarou a professora.

A Semed reforçou que, de modo geral, "diversos professores adotam o uso de fantasias e caracterizações como recurso pedagógico, buscando tornar o processo de ensino mais lúdico e dinâmico", desde que vinculados ao plano de ensino e currículo.

Repercussão e debate sobre inclusão - O caso teve forte repercussão entre parlamentares e setores da sociedade civil. O vereador Jean Ferreira (PT) divulgou uma nota de repúdio, classificando as críticas à professora como distorção dos fatos e ataque à diversidade no ambiente escolar.

"Emy, uma educadora dedicada, foi alvo de uma narrativa falsa e desumana, distorcendo seu gesto pedagógico de acolhimento às crianças", declarou Ferreira. 

A polêmica evidenciou um debate mais amplo sobre os limites do pedagógico, inclusão e liberdade de expressão no ensino público. Enquanto alguns parlamentares argumentam que a caracterização da professora extrapolou o ambiente escolar, outros apontam que o uso de fantasias é um recurso didático comum.

A decisão da Secretaria Municipal de Educação de abrir um procedimento administrativo sinaliza que o episódio será tratado dentro das diretrizes institucionais, independentemente do embate ideológico. O resultado da apuração deve esclarecer se houve algum descumprimento das normas educacionais.