Com R$ 6,7 milhões, Rio Taquari tenta reescrever sua história e recuperar o tempo perdido
Projeto de restauração ambiental no MS promete recuperar 378 hectares e transformar a vida de 160 produtores rurais
RESTAURAÇÃO AMBIENTALO Rio Taquari, um dos principais corpos d’água do Pantanal, há anos é sinônimo de problema ambiental: erosão, assoreamento e pastagens degradadas. Agora, uma nova tentativa de reverter décadas de danos vem com um investimento de R$ 6,7 milhões. O projeto “Caminhos das Nascentes: Restauração Ambiental na Bacia do Taquari” pretende restaurar 378 hectares ao longo dos próximos quatro anos em áreas críticas de Mato Grosso do Sul. É a resposta do meio ambiente a quem dizia que o Taquari estava condenado.
Financiado pelo edital Floresta Viva — iniciativa do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) com apoio do BNDES —, o projeto envolve um consórcio improvável: de um lado, o setor público, com o Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL) e prefeituras locais. Do outro, organizações privadas, como o Instituto Taquari Vivo e a SOS Pantanal. Juntas, as instituições miram os municípios de Costa Rica e Alcinópolis, onde a degradação das margens do rio impacta diretamente a fauna, a flora e a produtividade agrícola.
O diretor do Instituto Taquari Vivo, Renato Roscoe, está otimista: “É um projeto que une ciência e prática. Não estamos falando de plantar árvores de forma aleatória. Vamos atuar de maneira estratégica para garantir resultados duradouros na recuperação ecológica.”
Pastagens recuperadas e novas sementes no mercado
O projeto começa pelas fazendas Continental e São Tomás, dois pontos de grande degradação na bacia. Ali, serão recuperados 900 hectares de pastagens. O método inclui restauração ativa, com plantio de árvores nativas, construção de terraços e bacias de captação de água. “Essas áreas foram muito exploradas sem manejo adequado”, explica Rômulo Louzada, fiscal ambiental do IMASUL. “Agora, queremos mostrar que a recuperação é possível e que ela pode trazer benefícios econômicos.”
O plano não é apenas salvar o Taquari, mas também transformar a região em um polo de restauração ecológica. A previsão é que a demanda por mudas e sementes nativas cresça exponencialmente, beneficiando viveiros e pequenos produtores locais. Para Leonardo Gomes, diretor executivo da SOS Pantanal, a ideia é reverter anos de negligência: “Não estamos falando apenas de recuperação ambiental. Estamos criando uma nova dinâmica econômica na região, onde natureza e produção caminham juntas.”
O impacto não é pequeno. Mais de 160 produtores rurais participarão de capacitações sobre manejo sustentável do solo. A expectativa é que eles incorporem práticas que melhorem a produtividade sem esgotar os recursos naturais.
O Taquari está no vermelho: décadas de danos acumulados
O Taquari é um dos rios que formam o complexo hídrico do Pantanal, mas sua situação atual é resultado de anos de desmatamento e ocupação desordenada. O assoreamento bloqueia o fluxo natural da água, transformando grandes trechos do rio em áreas alagadas, o que prejudica tanto o ecossistema quanto a atividade agropecuária. “O Pantanal não está isolado. O que acontece no Taquari tem efeito em toda a região. Não podemos mais ignorar isso”, afirma Letícia Koutchin Reis, coordenadora do projeto.
A recuperação das pastagens degradadas nas duas fazendas é apenas a ponta do iceberg. No Parque Estadual Nascentes do Rio Taquari (PENT) e no Monumento Natural Municipal Serra do Bom Jardim, áreas de conservação ambiental serão revitalizadas. “Esses locais funcionam como barreiras naturais contra a degradação. Recuperá-los significa proteger também as áreas produtivas ao redor”, explica Roscoe.
R$ 6,7 milhões e um cronograma apertado - O projeto conta com um cronograma bem definido e um orçamento robusto:
- R$ 6,7 milhões investidos em restauração ambiental e capacitação de produtores;
- 378 hectares de áreas degradadas recuperados em quatro anos;
- 900 hectares de pastagens revitalizadas nas fazendas Continental e São Tomás;
- 160 produtores rurais capacitados para práticas de manejo sustentável;
- Aumento da demanda por mudas e sementes nativas, com impacto direto na economia local.
Leonardo Gomes destaca que a colaboração entre diversos setores foi essencial para tirar o projeto do papel. “O setor privado não faria isso sozinho. O setor público também não. É uma parceria que mostra como podemos alinhar interesses econômicos e ambientais.”
Uma tentativa ousada — e com prazo de validade - O edital Floresta Viva foi desenhado para apoiar projetos de restauração ecológica em biomas como Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. No entanto, há uma questão: a verba não é ilimitada, e o tempo está correndo. O cronograma prevê o início imediato das ações de plantio e manejo, mas a eficácia depende da adesão dos produtores e da eficiência na execução.
“Não é só plantar árvores. É cuidar do solo, monitorar o crescimento e garantir que essas áreas não sejam degradadas novamente”, enfatiza Roscoe. Para isso, serão utilizados sistemas de monitoramento e avaliação periódica dos resultados.
Para quem vive na região, como pequenos produtores de Alcinópolis, o projeto é visto com ceticismo e esperança. “Já vimos muitas promessas. Se dessa vez funcionar, será uma bênção. Nosso pasto já não aguenta mais”, diz Joaquim dos Anjos, dono de uma pequena propriedade no entorno do Taquari.
O futuro do Taquari está em jogo - Rômulo Louzada, do IMASUL, acredita que o projeto tem potencial para ser replicado em outras bacias hidrográficas do Pantanal. “Se conseguirmos estabilizar a situação no Taquari, podemos aplicar o mesmo modelo em outros rios que enfrentam problemas semelhantes.”
No final das contas, a recuperação do Taquari não é apenas uma questão ambiental. É uma tentativa de mostrar que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há espaço para soluções inovadoras.