'Sou um artista prático': Ator fala sobre sua trajetória e bastidores de "Ainda Estou Aqui"
Renan Lima revela detalhes de sua preparação para o filme de Walter Salles e destaca impacto do longa no público e no cinema brasileiro
CINEMA NACIONALO ator Renan Lima já sabia que "Ainda Estou Aqui", filme dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, tinha potencial para alcançar o reconhecimento internacional. Com a indicação ao Oscar neste ano, sua percepção se confirmou. "Não foi uma surpresa. Eu sempre acreditei, pois sentia que existia uma linda história, para além do público brasileiro. E com os prêmios nos festivais, minha expectativa só aumentava", afirmou.
No longa, Lima interpreta o agente Schneiderman, um militar em um dos períodos mais sombrios da história do Brasil. O ator trouxe para o papel uma vivência pessoal: antes de seguir carreira artística, serviu ao Exército Brasileiro. "Eu servi o Exército com 18 anos no bairro da Urca, onde funcionava o centro de capacitação física do Exército. Curiosamente, o general na época era o Heleno. Essa experiência serviu de base para o meu personagem, que também era um militar", relembrou.
Para garantir autenticidade à sua atuação, Lima se aprofundou na pesquisa sobre a ditadura militar e os agentes da repressão. "Por indicação da direção de elenco, assisti às entrevistas da Comissão Nacional da Verdade com militares que prestaram serviço durante a ditadura. Não é uma preparação fácil. No dia do teste, eu fui para a Urca com duas horas de antecedência para justamente entrar nesse personagem e relembrar tudo aquilo que vivi no quartel", contou.
Bastidores e reconhecimento de Walter Salles - Durante as filmagens, a experiência militar do ator chamou a atenção de Walter Salles, que recorreu a ele para detalhes técnicos das cenas. "Lembro que, durante a filmagem, o Walter perguntou: ‘Você é o ator que serviu ao Exército, pode indicar como portar as armas?’", revelou Lima, destacando a preocupação do diretor com a veracidade da produção.
O ator também viveu um momento inesperado nos bastidores que acabou ganhando espaço no longa. Entre uma cena e outra, Lima entretinha as crianças do elenco com truques de mágica. "Walter ficou sabendo e me pediu para demonstrar… A cena acabou entrando para minha surpresa", disse.
Para Lima, a troca com a equipe e elenco foi um dos grandes aprendizados desse trabalho. "O que carrego desse filme é a generosidade e sensibilidade de toda a equipe. Aprendi muito observando e trocando com os profissionais envolvidos", afirmou. "Sou um artista prático, onde minha arte de atuar é inspirada na minha relação com o mundo."
Além do impacto histórico e emocional de Ainda Estou Aqui, Renan Lima vê o filme como um símbolo do fortalecimento do cinema brasileiro. Para ele, o reconhecimento internacional do longa é fundamental para ampliar o espaço das produções nacionais. "Esse filme mostra que a indústria do cinema brasileiro tem um reconhecimento internacional. Para nós, brasileiros, isso é muito importante, pois ainda existe uma resistência daquilo que é produzido internamente", destacou.
O ator também mencionou relatos de espectadores que voltaram a frequentar as salas de cinema depois de anos afastados. "Sinto que esse filme renova a credibilidade dos brasileiros. Ouvi muitos relatos de pessoas que retornaram ao cinema depois de muito tempo. Isso me emociona."
Lima acredita que a memória histórica é um dos pilares desse impacto. Ele reforça que obras como essa são essenciais para que as novas gerações compreendam o passado. "Estamos chegando ao momento em que torturadores e torturados estão morrendo devido à idade, portanto, filmes, livros e documentários são importantes para a memória."
Com uma trajetória marcada pela dedicação à atuação, Renan Lima segue envolvido em novos desafios artísticos. Ele adiantou que tem dois longas-metragens previstos para estrear em breve e que atualmente está nos palcos do teatro, trabalhando com o diretor Hamilton Vaz Pereira no Rio de Janeiro.
Seu olhar sobre a profissão segue firme: a atuação, para ele, é uma extensão de sua vivência no mundo. "Brinco que sou um artista prático. Minha arte de atuar é inspirada na minha relação com o mundo. E esse filme me mostrou, mais uma vez, que a arte tem o poder de resgatar histórias e emocionar as pessoas."
Sucesso - O filme Ainda Estou Aqui voltou ao topo das bilheterias brasileiras após receber, três indicações ao Oscar de 2025 — Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Entre os dias 23 e 26 deste mês, o longa de Walter Salles superou obras como Mufasa: O Rei Leão, Sonic 3 e O Auto da Compadecida 2, sendo o filme que mais arrecadou dinheiro no Brasil durante o período.
O filme arrecadou R$ 5,3 milhões de bilheteria durante o final de semana. Apesar disso, o longa da Disney se manteve como a obra mais vista nos cinemas brasileiros — foram 225 mil pessoas contra 216 mil pessoas de Ainda Estou Aqui. O levantamento é da Comscore, que reúne e divulga dados de bilheterias do mundo todo.