Ricardo Eugenio | 14 de dezembro de 2024 - 14h29

Como a Arauco e Inocência planejam o crescimento ao redor da maior fábrica de celulose do mundo

Arauco transforma Inocência com megafábrica de celulose; cidade planeja crescimento com foco em sustentabilidade e qualidade de vida.

PLANEJAMENTO URBANO
A fábrica que promete transformar a economia e o cotidiano de uma cidade no Mato Grosso do Sul - (Foto: Arquivo)

No “meio do nada”, como alguns definem, mas estrategicamente posicionada na vastidão verde de Mato Grosso do Sul, a cidade Inocência está prestes a viver uma transformação inédita. A Arauco, gigante global da celulose, deu início às obras de uma fábrica que promete ser a maior do mundo, com capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano. O investimento de R$ 25 bilhões não é apenas um marco industrial, mas um divisor de águas para a cidade, que optou por planejar seu futuro com mais estratégia do que pressa.

Uma cidade que se reinventa - Com cerca de 7 mil habitantes, Inocência entendeu cedo que a chegada de milhares de trabalhadores temporários não seria apenas uma oportunidade econômica, mas também um desafio social. Inspirados por casos de sucesso – e pelos tropeços – de outras cidades da região, como Ribas do Rio Pardo, o município e a Arauco decidiram adotar um modelo diferenciado: abrigar os trabalhadores em alojamentos a 10 quilômetros da cidade e 40 quilômetros do canteiro de obras.

A proposta, mais do que logística, reflete uma visão. Ao afastar os alojamentos temporários do centro urbano, Inocência mantém sua identidade intacta enquanto se prepara para o impacto econômico. “Não é só construir uma fábrica, mas planejar um futuro”, explica o prefeito Antônio Ângelo Garcia dos Santos, o Toninho da Cofap, que lidera a estratégia para acomodar os trabalhadores fixos sem comprometer a dinâmica local.

Moradias planejadas e progresso controlado - Enquanto os alojamentos temporários terão áreas de lazer, postos de saúde e todas as condições necessárias para atender os operários, a Arauco e a prefeitura já avançam em outro plano: garantir que os cerca de 3 mil funcionários fixos vivam na cidade. Uma lei municipal proíbe moradias permanentes nas imediações da fábrica e, para evitar especulação imobiliária, a Arauco vai construir 700 casas no município, em terrenos cedidos pela prefeitura.

Esse modelo é inspirado no exemplo de Ribas do Rio Pardo, onde a Suzano construiu quase mil casas para os trabalhadores da fábrica inaugurada em 2024. A estratégia evita que um novo núcleo urbano surja perto da planta industrial, preservando o centro da cidade como espaço de convivência e desenvolvimento. “Queremos que a fábrica seja um impulso, não uma ruptura”, afirma o prefeito.


Toninho da Cofap, prefeito de Inocência, lidera planejamento para receber a megafábrica da Arauco

A Arauco e o cuidado com o entorno - Para a Arauco, o modelo de alojamento reflete um compromisso com o desenvolvimento sustentável, não apenas em termos ambientais, mas também sociais. Além de investir na infraestrutura temporária, a empresa lidera um esforço para minimizar os impactos de curto prazo no município, como pressão sobre serviços públicos. Ao mesmo tempo, a chegada da fábrica abre novas perspectivas econômicas, não só para Inocência, mas para toda a região.

Com a conclusão prevista para 2027, a fábrica será mais do que um símbolo de modernidade industrial. A terraplanagem já em curso sinaliza o início de um empreendimento que colocará Inocência no mapa global da celulose. E não é só a cidade que muda: cerca de 400 mil hectares de terras estão sendo plantados com eucaliptos para sustentar a produção, consolidando a vocação do Mato Grosso do Sul como um dos maiores polos do setor no mundo.


Executivos da Arauco recebem licença ambiental para fábrica de celulose em reunião com Riedel – Durante reunião em Campo Grande (MS) em 10 de setembro de 2024, a Arauco anunciou um investimento de R$ 800 milhões em ferrovia para a nova planta em Inocência

O “vale da celulose” e o papel de Inocência - Mato Grosso do Sul já abriga três grandes fábricas de celulose, duas em Três Lagoas e uma em Ribas do Rio Pardo. A nova unidade da Arauco será a quarta, mas com um diferencial significativo: sua capacidade a colocará como líder global em produção. Além disso, há planos para uma quinta fábrica em Água Clara, em um investimento de proporções semelhantes.


Prestes a se tornar novo polo da celulose em MS, Inocência recebe estudo para nortear crescimento

Inocência, por sua vez, não quer ser apenas mais uma cidade no “vale da celulose”. O município está transformando o desafio de receber um empreendimento dessa magnitude em uma oportunidade de crescimento controlado e sustentável. Entre as vantagens, estão a geração de empregos, o aquecimento do comércio local e a melhoria de infraestrutura que acompanha projetos desse porte.

Uma visão de futuro - Embora a fábrica da Arauco ainda esteja a anos de entrar em operação, sua presença já é sentida em Inocência. E não se trata apenas da movimentação de máquinas e trabalhadores. A chegada da indústria é uma chance de redefinir a relação da cidade com o crescimento, integrando progresso econômico e qualidade de vida. Para a Arauco, o projeto é mais do que um investimento bilionário: é um modelo de desenvolvimento que coloca o diálogo com a comunidade no centro de suas decisões.

Assim, Inocência mostra que mesmo os menores municípios podem ser protagonistas de grandes histórias, desde que o crescimento seja guiado por planejamento, cuidado e visão.