Carlos Guilherme | 04 de dezembro de 2024 - 12h00

Mãe de Sophia levou filha morta à UPA com calma e padrasto chegou a dormir em viatura

Sessão na 2ª Vara do Tribunal do Júri expõe detalhes do caso envolvendo maus-tratos e negligência

CASO SOPHIA
Julgamento de Christian Leitheim e Stephanie Silva, acusados pela morte da menina de 2 anos, avança em Campo Grande. - (Foto: Ana Clara Ruiz)

O julgamento de Christian Campoçano Leitheim e Stephanie de Jesus Silva, acusados pela morte da menina Sophia Jesus Ocampos, 2, começou nesta quarta-feira (4) e terá sequência na quinta-feira (5), em Campo Grande. Durante o julgamento, ficou claro que Stephanie e Christian mantiveram a calma após a morte da menina.

Segundo depoimentos colhidos durante a investigação e apresentados no tribunal, Stephanie levou Sophia já sem vida à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino. Médicos relataram que a criança apresentava sinais de rigidez cadavérica e diversas marcas pelo corpo, indicando agressões anteriores. Um investigador da Polícia Civil destacou que a mãe demonstrava calma e apenas se mostrou nervosa quando foi informada de que a polícia seria acionada.

“As médicas disseram que a mãe estava tranquila e que a criança já chegou sem vida, com sinais de morte ocorrida há cerca de quatro horas”, afirmou o policial.

O prontuário médico também trouxe registros de que Sophia já havia sido atendida outras vezes na unidade, incluindo um episódio em que a menina chegou com uma fratura. Na ocasião, Stephanie alegou que o machucado ocorreu quando a criança teria caído no banheiro.

Christian, padrasto de Sophia, confessou durante depoimento que havia agredido a menina dias antes de sua morte. Ele relatou ter dado tapas na criança após ela ter pisado em outro filho dele. Apesar da confissão, Christian manteve a calma durante sua condução à delegacia, chegando a cochilar na viatura, conforme descrito por um dos policiais que o escoltaram.

“O comportamento dele chamou atenção. Ele parecia tranquilo, disse que já esperava pela polícia e, em certo momento, comentou que não era um bom pai e que a culpa era dele”, relatou o investigador.

A defesa de Stephanie e Christian levantou questões sobre possíveis falhas na condução do caso. Entre os pontos destacados, a ausência de imagens das câmeras de segurança da UPA e a dispensa de perícia no local dos fatos. Além disso, a defesa argumentou que informações sobre o histórico médico de Sophia foram narradas, mas não formalmente documentadas no processo.

Por outro lado, a acusação afirmou que as provas são robustas e indicam que os acusados tinham ciência das agressões sofridas pela criança, o que configura negligência.

“Stephanie sabia da gravidade da situação, mas não agiu para proteger a filha. Sua calma e falta de reação diante da morte da menina reforçam o caráter omisso de sua conduta”, destacou o promotor de Justiça. O caso, que teve início em janeiro de 2023, ganhou ampla repercussão em Campo Grande e gerou mobilização pública por justiça para Sophia.