Setlog-MS critica novos termos da BR-163 e convoca audiência pública em MS
Sindicato quer evitar que Mato Grosso do Sul pague caro e receba pouco com o novo contrato da rodovia mais importante do estado.
AUDIÊNCIA PÚBLICAMato Grosso do Sul já foi apresentado como a terra das oportunidades, mas na prática o estado parece funcionar como uma eterna promessa de futuro. Nada simboliza isso tão bem quanto a BR-163. A rodovia, que deveria ser um marco de desenvolvimento, virou sinônimo de frustração: o contrato original previa a duplicação de 800 km até 2019. O que foi entregue? 180 km, e olhe lá. Agora, com a concessão renovada até 2049, o que já parecia ruim ficou pior: menos duplicações, mais pedágios e nenhum plano convincente para resolver o gargalo da principal estrada do estado.
O Setlog-MS, que representa o setor de transporte de cargas, decidiu que não vai aceitar o silêncio confortável que costuma acompanhar esse tipo de decisão. "Estamos pagando caro e recebendo quase nada. O Mato Grosso do Sul não pode mais ser tratado como um estado de segunda categoria", afirma Claudio Cavol, presidente do sindicato, em entrevista ao SBT MS nesta quarta-feira (20). Ele se referia à recente repactuação do contrato entre a CCR MS Via e a ANTT, que reduziu a meta de duplicação para 353 km – menos da metade do previsto inicialmente – e ainda garantiu que o pedágio suba gradativamente para até R$ 15,13 por 100 km.
Pedágio alto, infraestrutura baixa - Cavol não economizou nas críticas. "É um absurdo. O contrato não prevê novas licitações, o pedágio sobe, a duplicação não avança, e a gente ainda precisa aguentar um discurso de que isso é o melhor que poderia ter sido feito. É um retrocesso que vai custar caro para todo o estado", disparou. Para ele, o impacto não é apenas financeiro, mas também logístico e humano. "Menos duplicação significa mais acidentes. A BR-163, hoje, não garante nem segurança, nem eficiência."
Enquanto o pedágio aumenta, os trechos sem duplicação seguem colocando em risco caminhoneiros, famílias e trabalhadores que dependem da estrada. E, no estado que lidera as exportações de carne bovina e grãos, a conta do transporte fica ainda mais pesada. “Isso encarece o frete, encarece os produtos e atrasa o desenvolvimento. Estamos andando para trás, enquanto deveríamos estar correndo para frente”, afirma.
Claudio Cavol, presidente do Setlog-MS, durante entrevista, critica os novos termos da concessão da BR-163 e convoca a sociedade para audiência pública.
Uma audiência e uma batalha - O sindicato tem buscado mobilizar a sociedade para pressionar por mudanças. Uma audiência pública deve ser realizada nos próximos dias, e o Setlog-MS quer que ela seja um marco para virar o jogo. "A audiência é um momento crucial. É a chance que temos de mostrar que a população e o setor produtivo não aceitam esses termos. Precisamos de um contrato que atenda as necessidades do estado, não os interesses de investidores de fora", argumenta Cavol.
O tom do Setlog-MS é combativo, mas também esperançoso. "A população precisa participar. Não podemos deixar que esse contrato se transforme em mais um capítulo de uma história repetitiva: a de que Mato Grosso do Sul merece menos do que outros estados", diz Cavol.
O lucro acima de tudo - A CCR MS Via, concessionária responsável pela rodovia, também não escapou das críticas. Segundo o apresentador Tatá Marques, a empresa prioriza o retorno financeiro de seus acionistas em detrimento das melhorias prometidas. "A CCR não é incompetente. Muito pelo contrário, eles sabem exatamente como maximizar os lucros e entregar o mínimo possível. É isso que estamos vendo. Eles jogam o mínimo exigido na mesa e ficam com o resto no bolso", acusa o apresentador do SBT MS.
Para o apresentador Tatá Marques, a falta de fiscalização e a postura apática das autoridades federais são parte do problema. “Cadê os deputados, cadê os senadores que deveriam defender o estado? O que temos é um contrato que beneficia a concessionária e prejudica a população. Isso não é só uma questão de transporte, é uma questão de dignidade.”
Confira a reportagem:
Uma estrada para onde? O destino da BR-163 parece incerto, mas o Setlog-MS insiste que ainda há tempo para mudar de rumo. “Estamos falando da principal rodovia do estado, por onde passa tudo o que produzimos e consumimos. Se não conseguirmos mudar esse contrato agora, vamos amargar 25 anos de atraso. É agora ou nunca”, finaliza Cavol.
Entre discursos inflamados e promessas de mobilização, a luta pelo asfalto da BR-163 continua. Talvez o asfalto não chegue logo, mas, ao menos, o barulho do Setlog-MS mostra que Mato Grosso do Sul não quer ser cúmplice do silêncio.