Por Carlos Marun | 18 de novembro de 2024 - 16h35

400 DIAS, O FIM DO MITO

Carlos Marun (*)

ARTIGO
Carlos Marun - (Foto: Fábio Rodrigues)

Quatrocentos dias de Guerra e a principal consequência disto é o fim do mito de invencibilidade de Israel.  São coisa do passado as rápidas e espetaculares vitórias como em 1948 e na Guerra dos Seis Dias em 1967. E mesmo na Guerra do Yom Kuppur em 1973, quando em 16 dias Israel controlou um ataque do Egito e da Síria e contra-atacou. Lá  eles lutavam pela existência da sua Pátria. Hoje, o que vemos é um Israel atolado na luta por uma causa injusta, que é impedir que os Palestinos também tenham o seu Estado e permitir que colonos israelenses se instalem em terras “griladas” aos  vizinhos. O resultado é que as suas FFAA estão há mais de um ano em combate contra grupos de resistência mal armados e até famintos sem nada conseguirem conquistar, causando “apenas” mortes e destruição. É a luta por uma causa imoral que enfraquece Israel, interna e externamente. 

É verdade que a superioridade aérea “continua a mesma”, como a voz daquela famosa personagem publicitária, mas no restante “quanta diferença…”. As derrotas começaram no 07/10/2023, quando o mais festejado serviço de inteligência do mundo não conseguiu prever o que iria acontecer. 

No campo de batalha Israel já admitiu a morte de 798 de seus militares , isto tendo libertado somente 7 reféns em Gaza e penetrado não mais do que alguns poucos metros no Líbano. E isto mesmo estando recebendo bilhões de dólares em armas e munições. 

O moral de seus soldados está baixíssimo, com fanáticos religiosos se recusando a lutar e reservistas recusando novas convocações. Além disto cresce o número de suicídios entre seus soldados, que não conseguem se readaptar a vida comum depois de terem sido coautores das maiores barbáries praticadas neste século contra uma  população civil, coisa que, não obstante a evidente menor dimensão, guarda semelhanças com o Holocausto promovido pelo nazismo, o que eles com justa razão aprenderam a odiar.

Já conseguiram assassinar todos os líderes maiores do Hezbolah e do Hamas, e a luta continua como se nada tivesse acontecido. Parece que esqueceram que esta política de assassinatos seletivos é por eles praticada há décadas e os resultados tem sido sempre pífios. Os comandantes são substituídos e, como agora, a luta continua. 

Além disto os reveses acontecem também de outra forma. É evidente que o Irã conquistou capacidade tecnológica e militar para machucar Israel. Isto ficou provado  pelo fato de Israel só ter retaliado o último ataque iraniano após a chegada ao país de armas e soldados americanos para ajudarem no controle de um eventual contra-ataque. E a tal retaliação aconteceu de forma contida. 

Neste campo o próprio Hezbolah tem surpreendido, tendo conseguido bombardear com precisão quartéis dentro de Israel e até “enfiado” um drone dentro do quarto de Nethaniahu na sua residência de verão. Isto sem falar nos ienemitas, que além de causarem problemas para a navegação internacional, também já conseguiram bombardear Tel-Aviv.

Somem-se a isto os prejuízos à Economia Israelense, que tem centenas de milhares de seus cidadãos em idade produtiva engajados na Guerra, viu sumir o turismo e está gastando fortunas para manter o seu esforço bélico. Israel é hoje um dependente militar e financeiro completo dos EUA. 

Ou seja, para sobreviver como uma nação normal e não como um quartel, Israel também precisa da Paz e a verdade é que ela não pode mais ser obtida pela força das armas. Muitos israelenses já se convenceram disto e protestam nas ruas pedindo um cessar-fogo e uma solução política para o conflito,  que possa resultar em uma Paz sustentável.

E como poderia ser conquistada esta Paz? Inicialmente teria que diminuir muito o evidente racismo que considera que vidas palestinas valem menos que vidas israelenses e que é a verdadeira razão do apoio que os massacres promovidos por Nethaniahu ainda tem em Israel e no mundo. No dia em que for considerado pela maioria que todos que todos ali são seres humanos 90% do caminho terá sido percorrido. Na sequência viriam os “detalhes”: Devolução dos reféns, libertação de prisioneiros palestinos, instalação do Estado da Palestina, respeito as fronteiras internacionais, reconhecimento por todos os Estados Árabes do Estado de Israel…

É isto! Existe um caminho para a Paz, difícil de ser percorrido, mas viável. E, acreditem, Israel precisa tanto dele quanto os Palestinos e o resto do mundo.

*Carlos Marun é advogado, engenheiro e ex-ministro de Estado.