Era para ser uma pesagem qualquer, dessas em que os adversários fazem poses tensas, trocam olhares fixos e, talvez, um leve empurrão. Mas quando o lendário Mike Tyson, aos 58 anos, subiu na balança ao lado do youtuber Jake Paul, a coisa tomou outro rumo. Tyson, sem muito aviso, deu um tapa em Paul durante a encarada. Não foi um golpe potente, mas foi o suficiente para acender o pavio da provocação que o público esperava ver. Paul, ainda com o rosto avermelhado, se afastou e gritou para as câmeras: “Eu quase não senti. Foi um tapa fofo. Agora é pessoal. Ele deve morrer.”

É assim que chegamos ao dia da luta – marcada para esta sexta-feira, às 22h, com transmissão pela Netflix. A internet já está em polvorosa, e o ringue, que um dia foi o palco solene das grandes lutas, se prepara para receber essa mistura de show midiático e nostalgia. Para os fãs de Tyson, é a chance de rever o ex-campeão em ação, mesmo que ele enfrente um adversário sem o histórico de lutas memoráveis. Para os seguidores de Jake Paul, é mais um capítulo na saga de um youtuber que decidiu brincar de pugilista.

Uma luta oficial que é, ao mesmo tempo, espetáculo e nostalgia - Apesar da aura de show, o combate entre Tyson e Paul foi sancionado como luta profissional. Isso significa que o resultado vai compor o cartel oficial dos dois, uma formalidade que coloca o evento em outro patamar. Serão oito rounds de dois minutos, sem protetores de cabeça e com luvas de 14 onças, o que dá um toque de autenticidade ao embate. Os fãs de Tyson lembram que ele não luta oficialmente desde 2005, quando perdeu para Kevin McBride, embora tenha feito uma exibição em 2020 contra Roy Jones Jr.

Jake Paul, por sua vez, chega com o maior peso de sua carreira, 103,06 quilos, e ostenta um cartel de dez vitórias e uma derrota. Entre suas conquistas, estão vitórias sobre nomes do MMA, como Anderson Silva. O britânico Tommy Fury é, até agora, o único adversário a vencê-lo, algo que Paul costuma lembrar com o misto de humor e desafio que domina suas redes sociais.

Tyson: o herói que virou mito e depois personagem de si mesmo - Tyson, claro, carrega a nostalgia de uma era dourada do boxe. Aos 20 anos, ele se tornou o campeão mais jovem dos pesos pesados, um prodígio que nocauteava com uma agressividade quase primitiva. Daquele Tyson brutal, o que restou foi a figura mais calma, que transita entre podcasts e documentários, mas que ainda parece à vontade no papel de lenda ameaçadora. Ele pesa os mesmos 103,6 quilos de quando estava no auge e, para os fãs mais românticos, esse número parece dizer algo.

A história de Tyson é cheia de altos e baixos: glórias no ringue, queda brusca, prisão, polêmicas e um retorno ao boxe que mais se assemelha a uma viagem no tempo. Sua última luta por um título foi em 2002, contra Lennox Lewis. Agora, contra Jake Paul, ele está em outra fase, mas ainda carrega consigo o peso de seu nome e das lendas que construiu e desfez ao longo dos anos.

Jake Paul: o influencer que se arriscou no boxe e virou fenômeno - Jake Paul é o oposto de Tyson em quase todos os sentidos. Sem qualquer ligação tradicional com o boxe, ele chegou ao esporte como um influenciador que decidiu buscar novos públicos. Suas lutas, embora ainda vistas com ceticismo pelos críticos, atraem milhões. Ele soube capitalizar sua figura polêmica e transformá-la em entretenimento. Cada soco de Paul é um aceno ao seu público, que o vê como o “anti-herói” das redes sociais, alguém que desafia as convenções do boxe e mistura competição com espetáculo.

Um duelo para tempos estranhos - Este encontro entre Tyson e Paul é menos sobre boxe e mais sobre o que o esporte se tornou em tempos de redes sociais e nostalgia. Para quem espera uma luta técnica, o embate de sexta-feira talvez não ofereça isso. Mas, em tempos em que ícones do passado e celebridades da internet dividem espaço, o ringue se tornou o palco ideal para essa colisão. Tyson traz a mística do boxe tradicional; Paul, a energia dos novos tempos.

A luta entre os dois, no fim das contas, é um reflexo de uma era que mistura memórias e números de seguidores. Uma era em que até uma lenda como Tyson pode virar meme, e um influenciador como Paul pode se tornar pugilista. E, no meio de tudo isso, o público só precisa de uma tela e de um horário: 22h, Netflix. Que comece o show.