Carlos Guilherme | 11 de novembro de 2024 - 15h30

Bancário de Campo Grande lança HQ que revive a saga de Garcia Sete Orelhas em busca de justiça

Olimpio Leme transforma lenda de vingança e honra do século 19 em HQ que explora a história e questões sociais

LITERATURA
Olimpio Leme, bancário e artista visual de Campo Grande, revisita a saga de Garcia Sete Orelhas em sua HQ, destacando o tema de justiça e conflitos históricos no Brasil. - (Foto: Raquel de Souza)

O bancário e artista visual de Campo Grande, Olimpio Leme, revisita uma lenda brasileira em sua primeira história em quadrinhos, “Garcia – Luta, Fé e Justiça”.

A obra resgata a saga de Januário Garcia Leal, o “Garcia Sete Orelhas”, um justiceiro do século 19 que embarcou em uma vingança após a morte brutal do irmão, trazendo à tona as complexas questões de honra e justiça em um Brasil colonial. A HQ explora um cenário histórico recheado de conflitos e a presença de comunidades indígenas e quilombolas, marcando a trajetória de Garcia e sua família que, anos mais tarde, migram para a atual região do Bolsão, em Mato Grosso do Sul.

O bancário é de Campo Grande - (Foto: Arquivo)

Inspirado por uma história contada por seu pai durante a infância, Olimpio mergulhou em cinco anos de pesquisa histórica, desvendando detalhes da vida de Garcia e descobrindo uma conexão com sua própria história familiar: seu ancestral, também chamado Olimpio, foi vítima de disputas agrárias na mesma região. Assim, o autor integrou à obra reflexões sobre justiça, desigualdade e os conflitos fundiários que moldaram a formação do Brasil.

“É uma história muito complexa dos idos de 1800, porque toca em temas sensíveis. É claro que muitas das ações dele foram inflexíveis, e a intenção não é glamourizar nem justificar, mas entender que isso fez parte da nossa história e ver o que podemos fazer para não deixar isso acontecer novamente”, explica. E complementa: “Sou o quinto Olimpio Leme Cavalheiro, de nome e sobrenome, e o primeiro Olimpio foi assassinado por disputa de terras, então essa situação de conflito é algo muito próximo da minha família. É uma realidade que acontecia nos rincões do Brasil e que fez parte da formação do Estado”, diz.

Com ilustrações desenhadas à mão e utilizando a técnica de nanquim, cada página da HQ foi feita em uma prancheta individual, exigindo um trabalho minucioso para recriar o universo do século 19 e transmitir as nuances desse período.

“Desde a colonização a história do Brasil foi pautada pelo conflito, e minha ideia não é julgar o que já aconteceu, mas ver maneiras de construir algo em cima disso, de corrigir uma rota. Nosso país tem muitas coisas que precisam ser mudadas, mas a solução não está lá fora, e sim em conseguirmos construir uma nova visão, de uma nação única, com visões diferentes, mas com respeito. Pode parecer utópico, mas tenho esperança”, lamenta.

A HQ explora um cenário histórico recheado de conflitos e a presença de comunidades indígenas e quilombolas - (Foto: Raquel de Souza)

Segundo Olimpio, o objetivo da HQ vai além de contar uma história de vingança, refletindo sobre como o passado pode inspirar uma visão mais justa de sociedade, em busca de uma nação unida, apesar das diferenças.