Viveiro de mudas transforma o Cerrado e assegura o futuro da água em Campo Grande
Plantar árvores para 'plantar água': viveiro da Águas Guariroba garante vida e sustentabilidade para as próximas gerações
MEIO AMBIENTEImagine o Cerrado como um grande reservatório natural, onde cada árvore plantada age como um filtro vivo, que absorve, armazena e protege a água, garantindo que rios e nascentes continuem fluindo.
Em um cenário em que cerca de 20% das bacias hidrográficas brasileiras sofrem com desmatamento e contaminação, a preservação vai além de uma questão ambiental; é um esforço vital pela vida e pelas futuras gerações.
Em Campo Grande, o programa Manancial Vivo, que conta com uma parceria efetiva com a Águas Guariroba, tem sido crucial para transformar a paisagem e a mentalidade ambiental, promovendo o reflorestamento e conscientizando a comunidade. Os córregos Guariroba e Lajeado, fontes para 68% do abastecimento local, são o foco dessa restauração, sendo que o Guariroba cobre 50% desse total.
Segundo artigo publicado na revista Science of the Total Environment, entre 2012 e 2016, as práticas de conservação do solo e a recuperação da vegetação ripária na bacia contribuíram para aumentar a vazão de base em aproximadamente 0,018 m³/s.
Essa melhora ocorre mesmo com a diminuição da precipitação média mensal, demonstrando a resiliência hídrica promovida pelo programa, especialmente em períodos de seca. As práticas de conservação implementadas — construção de terraços e cercamento de áreas de preservação permanente — reduziram a erosão do solo em cerca de 25%, baixando a perda de solo de 2,35 para 1,78 toneladas por hectare ao ano.
O viveiro de mudas: semente de um futuro sustentável - No “pulmão” do Manancial Vivo está o 'Viveiro de Mudas Isaac de Oliveira' da Águas Guariroba, localizado na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Los Angeles, ativo desde 2010 e que contribui com a plantação de mudas no programa.
Funcionando como um “berçário de vida”, o viveiro tem capacidade de produzir 50 mil mudas ao ano de espécies nativas do Cerrado, em que as sementes são coletadas em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins. Depois de cuidadas por até dois anos, essas mudas atingem o porte ideal para o plantio.
“Esse viveiro é nosso maior projeto de preservação ambiental. Desde o início, sempre buscamos aprimorar e aumentar sua capacidade para restaurar as áreas de mananciais”, afirma Fernando Garayo, gerente de meio ambiente da Águas Guariroba. Com essas mudas, o programa já cobre cerca de 68% do abastecimento hídrico de Campo Grande, garantindo que a cidade dependa menos de águas subterrâneas e promovendo uma gestão mais sustentável dos recursos hídricos.
O viveiro, que também fornece mudas para ONGs e projetos de conservação, atende à demanda crescente de restauração ambiental na região. Grandes iniciativas, como a recuperação da Serra do Amolar em parceria com o Instituto Homem Pantaneiro, são impulsionadas pelas mudas produzidas no viveiro.
Além disso, parcerias com o Instituto Águas da Serra da Bodoquena e o WWF na Bacia do Guariroba ampliam o alcance dessas ações. Garayo destaca: “A demanda pelo viveiro é alta, e estamos sempre focados em grandes projetos de restauração. A cada muda plantada, vemos um passo adiante para preservar o Cerrado e garantir o futuro da nossa água”, diz.
Esse cuidado também se reflete na gestão criteriosa das mudas doadas. Interessados em plantar mudas nativas precisam preencher um formulário, detalhando o transporte e a área de plantio, para garantir que os cuidados necessários sejam respeitados e que as mudas possam realmente crescer no ambiente correto.
Impacto social: um recomeço para a natureza e as pessoas - O viveiro da Águas Guariroba também se tornou um espaço de recomeço para as pessoas que trabalham no projeto.
Reeducandos do sistema penitenciário de Campo Grande têm a oportunidade de atuar na produção das mudas, reduzindo suas penas e adquirindo conhecimentos sobre práticas sustentáveis. “Cada muda representa uma segunda chance, não apenas para a natureza, mas também para quem trabalha nela”, reflete Garayo.
A produtora rural Isabel Figueira é uma das beneficiadas pelo programa. "Nossa propriedade depende diretamente das nascentes da região. Com o programa Manancial Vivo, apoiado pela Águas Guariroba, replantamos as margens dos córregos, o que aumentou a disponibilidade de água e trouxe segurança para nossa produção e para o meio ambiente”, conta. Para ela, o reflorestamento é uma garantia de que o Cerrado continuará a oferecer recursos para o futuro, um legado para as próximas gerações.
Com um investimento de aproximadamente US$ 6,3 milhões ao longo de dez anos, o programa Manancial Vivo incentivou agricultores locais a adotar práticas de conservação em 4.522 hectares da bacia, promovendo a recuperação de áreas florestais e ripárias e focando na prevenção contra a erosão e o transporte de sedimentos para os rios.
Ciclo de sustentabilidade - Além das práticas de reflorestamento, a Águas Guariroba investe em fontes de energia renovável para abastecer suas operações, uma iniciativa fundamental em um setor que depende de grandes volumes de energia para o transporte e tratamento de água e esgoto.
A empresa alcançou 99% de seu consumo energético a partir de fontes eólicas, reduzindo substancialmente sua pegada de carbono. Esse compromisso com a sustentabilidade energética reduz as emissões de CO e está alinhado às metas globais de combate às mudanças climáticas.
Em uma ação inovadora, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Imbirussu reaproveita o lodo resultante do processo de tratamento como fertilizante em áreas degradadas. Esse lodo, rico em fósforo e potássio, é aplicado no solo para promover a recuperação de áreas comprometidas, fechando um ciclo sustentável. “Esse é um exemplo de economia circular. Os nutrientes que antes iriam para o descarte voltam ao solo, fechando um ciclo e garantindo que recursos essenciais sejam reintroduzidos na natureza”, conclui Garayo.
“Esse viveiro é nosso maior projeto de preservação ambiental. Desde o início, sempre buscamos aprimorar e aumentar sua capacidade para restaurar as áreas de mananciais”, afirma Fernando Garayo, gerente de meio ambiente da Águas Guariroba.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), em média, 14 bilhões de litros de água são perdidos anualmente por erosão e práticas inadequadas de manejo do solo no Brasil, o que sobrecarrega os sistemas de abastecimento e aumenta os custos do tratamento da água. As técnicas aplicadas em Campo Grande têm reduzido a erosão e favorecido a infiltração de água, criando uma barreira contra a seca e aumentando a qualidade dos recursos hídricos disponíveis.
Iniciativas semelhantes em estados como São Paulo e Minas Gerais já indicam uma média de redução de 20% a 30% nas perdas hídricas quando combinam técnicas de recuperação de matas ciliares e conservação de solo, o que reforça o papel essencial de programas apoiados pela Águas Guariroba para a sustentabilidade do Cerrado e de regiões dependentes de recursos hídricos frágeis. Em Campo Grande, com cada árvore plantada pelo programa, uma nova fonte de água se fortalece — e com ela, um compromisso com a vida e o futuro de todos.