Sonora: o município movido a etanol no interior do Mato Grosso do Sul
Sonora cresceu ao redor de sua usina de etanol, um motor de progresso e sustentabilidade no norte de Mato Grosso do Sul.
INDÚSTRIAEm algum lugar no norte de Mato Grosso do Sul, na divisa com o estado de Mato Grosso e a 486 quilômetros de Campo Grande, uma cidade pequena e relativamente nova cresceu ao redor de uma usina de etanol. Estamos falando de Sonora, município que, nos anos 70, praticamente não existia no mapa. Hoje, com seus 15 mil habitantes, Sonora é um testemunho vivo do poder de transformação da indústria — neste caso, da Usina Sonora, que há mais de quatro décadas mantém suas chaminés acesas, movidas pelo processamento de cana-de-açúcar e pela produção de biocombustível.
A história da usina não é só uma narrativa industrial, mas também humana. Luca Giobbi, atual diretor-presidente e filho do fundador, conta que, no começo, não havia uma cidade. "Primeiro vieram as casas para os trabalhadores, porque precisávamos da população próxima para construir a usina", recorda. Foi assim que a Sonora moderna começou: não como uma vila agrícola, mas como uma cidade que cresceu sob o ritmo da moenda de cana, do vapor e da transformação do caldo de açúcar em etanol.
Uma cidade nascida da indústria - A Usina Sonora não só transformou a paisagem ao seu redor, mas também se reinventou com o passar dos anos. Desde os tempos em que tudo era manual — do plantio à colheita — até a era da automação, ela se adaptou e prosperou. Giobbi comenta como os desafios no início eram inúmeros: falta de mão de obra local, dificuldades técnicas e a tecnologia de produção de etanol ainda incipiente no país. O cenário mudou ao longo das décadas, e a usina foi uma das primeiras do estado a incorporar o que chamamos hoje de “estado da arte” no setor sucroenergético.
Com o tempo, a usina ampliou suas operações, abrindo uma fábrica de açúcar nos anos 90 e, mais recentemente, diversificando suas atividades. Hoje, além de produzir etanol, a Usina Sonora gera eletricidade para suas operações e vende o excedente para o Sistema Interligado Nacional (SIN) — tudo isso a partir do bagaço da cana. É o tipo de ciclo sustentável que faz o setor de biocombustíveis parecer o herói ambiental que muitos ainda relutam em aceitar.
Histórias de quem faz o campo se mover - Entre as engrenagens da produção, porém, estão as pessoas. Angela Cristina de Freitas, analista de controle industrial, fala com orgulho do trabalho na usina e de como isso impactou diretamente o crescimento de Sonora. "Eu trabalho aqui há anos e é gratificante ver que isso ajudou a cidade e o estado a se desenvolverem", diz. Já Michael Antonio da Silva, engenheiro eletricista, compartilha uma experiência pessoal: "Meu sonho sempre foi trabalhar em um lugar que me permitisse pagar meus estudos. E foi o que aconteceu aqui".
Essas histórias, somadas às de outros 160 mil trabalhadores do setor sucroenergético de Mato Grosso do Sul, mostram que a Usina Sonora é mais do que uma planta industrial: é um motor de transformação social e econômica.
Tecnologia e o futuro: indústria 4.0 - O que vem por aí? Giobbi acredita que o futuro está na automação e no uso crescente de tecnologias digitais. A implementação da chamada "indústria 4.0", com inteligência artificial e análise de dados em tempo real, já está em curso na usina. O objetivo é reduzir ao máximo os erros humanos e otimizar os processos, tornando a operação mais eficiente e sustentável. Além disso, há um projeto ambicioso de incorporar o biometano ao portfólio de produtos da usina — combustível produzido a partir da vinhaça, um resíduo da fabricação de etanol.
Mesmo com todas as inovações, a meta principal é clara: alcançar o sonho de Francisco Giobbi, o fundador. "Queremos chegar a três milhões de toneladas de cana moída por ciclo", revela Luca, destacando que o foco da empresa é crescer com qualidade, e não apenas aumentar os números a qualquer custo.
Indústria que transforma e transforma-se - A trajetória da Usina Sonora é um exemplo claro de como a indústria pode ser um agente de mudança profundo, tanto para a economia quanto para a sociedade. Em seus 47 anos de existência, a usina não apenas acompanhou, mas também ajudou a moldar o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. Do interior do estado, ela continua inovando, transformando e adaptando-se às exigências de um mundo que pede cada vez mais sustentabilidade e eficiência.
No fim das contas, a história da Usina Sonora é a história de uma cidade, de uma região e, de certa forma, de todo o Brasil que cresceu em torno da indústria. O que começou com algumas casas ao redor de uma usina se tornou um exemplo de como o desenvolvimento sustentável pode ser feito de forma real e palpável — uma cana de cada vez.
Confira o episódio completo no Indústria Que Transforma, no YouTube, e conheça mais sobre essa história de resiliência e progresso.