Ricardo Eugenio | 19 de setembro de 2024 - 14h00

O governador e as chamas: Eduardo Riedel na linha de frente do Pantanal em chamas

Riedel evita polêmicas e foca em resultados concretos na guerra contra as queimadas

MEIO AMBIENTE
Eduardo Riedel classifica como 'operação de guerra' o combate aos incêndios no Pantanal e destaca a integração entre estados e governo federal. - (Foto: Reprodução)

Nos últimos meses, o Pantanal tem vivido um verdadeiro inferno. As queimadas, que acontecem todo ano, se intensificaram em 2024 por causa de uma seca severa, e o fogo se espalhou com uma rapidez assustadora. O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, está no centro dessa batalha. Para ele, o combate às chamas é uma "operação de guerra", e ele não está exagerando.

Em entrevista à CNN Brasil, Riedel explicou como o estado tem enfrentado o problema, que não é novo. A região já passou por momentos críticos antes, como em 2020, quando mais de 3,5 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo. Agora, embora as condições climáticas estejam ainda mais difíceis, o governo conseguiu reduzir a área queimada para cerca de 1,5 milhão de hectares. Isso, claro, não é motivo para celebração, mas o governador acredita que o esforço tem dado resultados.

Uma guerra contra o fogo - Desde o começo do ano, Riedel já sabia que a situação seria complicada. Em fevereiro, antes mesmo das primeiras chamas aparecerem, o estado começou a se preparar. Bombeiros, brigadistas, aviões de combate a incêndio e outros recursos foram mobilizados. Quando o fogo finalmente chegou em abril, as equipes já estavam prontas para agir.

Para o governador, o segredo foi a integração entre o governo estadual e federal. Isso significa que diferentes órgãos, como o Ibama e as Forças Armadas, trabalharam juntos para enfrentar as queimadas. “Não é fácil fazer todo mundo agir em conjunto, mas conseguimos montar um centro de comando que uniu todas essas forças”, disse Riedel. O resultado foi uma operação com mais de 12 aeronaves e mil pessoas no combate direto às chamas.

O Pantanal, com seus rios e áreas alagadas, é um lugar de difícil acesso. Além disso, o fogo se espalha rapidamente por causa da vegetação seca. Mas, com essa estratégia de união e resposta rápida, Riedel acredita que o pior foi evitado. “Tivemos menos perdas do que em 2020, apesar de as condições serem piores”, afirmou o governador.

Causas das queimadas - Quando se fala em queimadas, muita gente pensa em incêndios criminosos, causados de propósito. No Pantanal, isso acontece, mas nem sempre o fogo é intencional. Riedel explicou que a maioria dos focos de incêndio no estado tem origem humana, mas muitos deles não são provocados por criminosos. "Às vezes, é um acidente, como uma bituca de cigarro jogada no chão. Mesmo assim, o dano é enorme", disse o governador.

O problema das queimadas é complexo. Em alguns casos, pequenos agricultores fazem queimadas para limpar o terreno, sem pensar nas consequências. Em outros, o fogo é provocado por descuido. Mesmo assim, Riedel evita apontar culpados. Para ele, o foco deve ser em ações preventivas, para evitar que esses incidentes aconteçam.

Investimento em tecnologia - Mas o governador não quer parar por aí. Além de combater o fogo quando ele surge, Riedel acredita que a melhor solução para o futuro é investir em prevenção. Ele planeja usar mais tecnologia para monitorar o Pantanal, como torres com câmeras e sensores que detectam focos de incêndio antes que eles se espalhem. “Outros setores, como o florestal, já usam essas tecnologias com sucesso, e vamos aprender com eles”, disse.

Outra ideia de Riedel é fortalecer a parceria com os produtores rurais. Afinal, eles também sofrem com as queimadas, que destroem pastos e prejudicam suas atividades. Para o governador, os produtores são aliados importantes na luta contra o fogo, e trabalhar juntos faz parte da solução.

Críticas e política - Enquanto alguns governadores reclamam que o governo federal demorou para agir, Riedel segue um caminho mais pragmático. Ele elogiou a parceria com Brasília e destacou o envolvimento de ministros como Marina Silva, do Meio Ambiente, e Múcio Monteiro, da Defesa. Além disso, o governador lembrou que o próprio presidente Lula visitou a região para apoiar as ações de combate ao fogo. “O governo federal respondeu rápido e com eficiência”, disse Riedel.

O governador evitou entrar em polêmicas políticas e focou nos resultados. Para ele, o que importa é que o estado conseguiu evitar uma tragédia maior. “Não adianta politizar o problema. O importante é que as ações foram tomadas a tempo, e o trabalho integrado funcionou bem”, comentou.

Outros desafios: conflitos e narcotráfico - Apesar de toda a atenção voltada às queimadas, o estado de Mato Grosso do Sul enfrenta outros problemas graves. Um deles é o conflito fundiário, especialmente em áreas onde vivem comunidades indígenas. Esses conflitos, que já duram décadas, têm colocado produtores rurais e indígenas em lados opostos, e a solução é complicada.

Riedel destacou que está buscando resolver esses problemas por meio de conciliação, em parceria com o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF). “É uma questão que se arrasta há muitos anos, mas estamos trabalhando para encontrar uma solução”, afirmou o governador.

Outro fator que agrava a situação é a presença do narcotráfico na região. Como Mato Grosso do Sul faz fronteira com o Paraguai, grupos criminosos têm se aproveitado da fragilidade local para atuar no tráfico de drogas. “Temos que lidar não só com o conflito fundiário, mas também com o crime organizado, que usa essas áreas para seus negócios”, alertou Riedel.

A guerra continua - Eduardo Riedel sabe que a batalha contra as queimadas e outros problemas no estado está longe de acabar. Mas, com uma estratégia clara de integração, prevenção e uso de tecnologia, ele acredita que Mato Grosso do Sul está no caminho certo para enfrentar esses desafios. Para o governador, essa “operação de guerra” não é uma escolha, mas uma necessidade para proteger o Pantanal e as pessoas que vivem ali.