A cena é a seguinte: na sede da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, homens e mulheres vestidos de botas e chapéus, armados com bloquinhos de anotações, se reúnem para discutir o futuro do campo. Mas, desta vez, o que está em pauta não são apenas as velhas preocupações com a chuva ou o preço do boi gordo. Em outubro e novembro, a Embrapa vai oferecer uma série de capacitações que prometem sacudir as certezas e introduzir novas tecnologias ao dia a dia da pecuária e agricultura. Tudo isso com um pé no avanço científico e o outro bem firme na terra.

No cardápio dos próximos meses, três cursos chamam a atenção: um sobre melhoramento genético animal, outro sobre integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e, por fim, uma novidade que promete despertar a curiosidade de muitos: um curso sobre pragas, doenças e plantas invasoras em pastagens.

O futuro do gado passa pelos genes - Entre 16 e 18 de outubro, o curso de Melhoramento Genético Animal promete levar pecuaristas, técnicos e acadêmicos para o que há de mais moderno na ciência animal. Em parceria com a Geneplus Consultoria, a Embrapa vai mergulhar nas complexidades da genética bovina – mas sem deixar a bota de lado. “É claro que tem teoria, mas o objetivo é mostrar como aplicar tudo isso lá na fazenda, no campo, com os animais”, explica Gilberto Menezes, um dos responsáveis pela organização do curso. A ideia é que os participantes aprendam a selecionar características desejadas nos animais, otimizando desde o peso à eficiência reprodutiva.

Com uma equipe de especialistas de renome, incluindo pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Minas Gerais, o treinamento vai abordar de tudo um pouco: como melhorar o desempenho do rebanho, quais são as ferramentas genômicas disponíveis e como aplicar a seleção genética para múltiplas características. Para quem gosta de uma boa aula prática, há até mesmo uma visita ao campo para observar de perto como a avaliação de conformação frigorífica funciona na prática.

A promessa? Ao fim, os participantes terão em mãos as ferramentas para implementar programas de melhoramento genético nas suas próprias fazendas – e quem sabe, criar o "gado perfeito" com as características que sempre sonharam.

Integração para os tempos modernos - Uma semana depois, entre os dias 22 e 24 de outubro, a Embrapa realiza a 9ª edição do Curso de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), um sistema que parece saído de um filme de ficção científica, mas que está cada vez mais popular no Brasil. A ideia básica é integrar, no mesmo espaço, a produção agrícola, a pecuária e as florestas – tudo junto, e de forma sustentável. A promessa é alta: produzir mais, impactar menos e ainda sequestrar carbono, aquela palavra mágica que faz os olhos do mercado externo brilharem.

Nesta edição, o curso ganha ainda mais peso com a abordagem de temas que estão em alta, como a Carne Carbono Neutro, uma inovação que coloca a pecuária brasileira no centro do debate sobre sustentabilidade. “A base do curso é a mesma, mas foi atualizada com dados mais recentes e com assuntos como o sistema silvipastoril e o estoque de carbono. É uma ótima oportunidade para quem quer entender como tudo isso funciona na prática”, comenta Valdemir Laura, pesquisador e coordenador do curso.

Os alunos não apenas ouvirão palestras, mas também terão aulas práticas nos campos experimentais da Embrapa, onde poderão ver com os próprios olhos como o sistema de integração funciona – e se convençam de que dá para plantar soja, criar gado e cultivar eucalipto no mesmo pedaço de terra.

E os vilões do pasto? Entre os dias 12 e 13 de novembro, é a vez de um curso um tanto inusitado para muitos: Pragas, Doenças e Plantas Invasoras em Pastagens. Se a praga do campo costumava ser vista apenas como um inconveniente ocasional, hoje os produtores sabem que ela pode significar grandes perdas econômicas. É uma batalha invisível entre o agricultor e as pragas que destroem a produção, além de doenças e plantas invasoras que comprometem a pastagem.

O curso, coordenado pela entomologista Fabrícia Torres, busca oferecer soluções práticas para um problema que os produtores rurais enfrentam diariamente. A ideia é trazer respostas rápidas, com base em estudos recentes, sobre o manejo fitossanitário. O treinamento terá desde diagnóstico e controle de pragas até aulas sobre como melhorar a aplicação de defensivos, sem esquecer das aulas práticas, que ocorrem nos campos experimentais.

Segundo Fabrícia, a intenção é clara: “Queremos entregar informações que possam ser aplicadas imediatamente no campo, trazendo resultados efetivos na luta contra esses problemas que parecem pequenos, mas afetam diretamente a produtividade do setor”.

Quem pode participar? Todos esses cursos são voltados para profissionais do setor agropecuário, estudantes e técnicos, mas também estão abertos àqueles que simplesmente desejam saber mais sobre o que há de mais moderno no campo. As vagas são limitadas e os valores variam, com desconto para estudantes.

No fim das contas, os treinamentos da Embrapa nos próximos meses parecem ter um objetivo comum: preparar o campo para o futuro, mas com os pés no presente. São os genes do gado, o carbono sequestrado no pasto e a luta contra as pragas – tudo junto, com tecnologia, pesquisa e, claro, aquele toque especial que só o trabalho de campo pode proporcionar.