Ricardo Eugenio | 11 de setembro de 2024 - 20h35

Com Bolsonaro inelegível, Ciro Nogueira vê em Tereza Cristina a solução

Presidente do Progressistas, Ciro Nogueira ainda confia em Bolsonaro para 2026, mas já vê Tereza Cristina como substituta ideal.

ELEIÇÕES 2026
Ciro Nogueira e Tereza Cristina se cumprimentam em visita a Campo Grande para evento político. - (Foto: Reprodução)

Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas e senador pelo Piauí, está em Campo Grande, mas a cabeça dele já está em 2026. Em meio à campanha de reeleição da prefeita Adriane Lopes (PP), Ciro aproveitou para reafirmar o que todos já sabem: ele quer Jair Bolsonaro de volta na corrida presidencial. Só que, como todo bom estrategista, já prepara uma alternativa caso o ex-presidente não consiga driblar a justiça eleitoral. E essa alternativa tem nome e sobrenome: Tereza Cristina.

No palco do evento, sob o sol do Mato Grosso do Sul, Ciro fez questão de enaltecer Tereza Cristina, sua colega de partido e ex-ministra da Agricultura no governo Bolsonaro. "Se Bolsonaro não conseguir reverter essa absurda inelegibilidade, espero que ele indique uma mulher, que tenho certeza fará história como a maior presidente que o Brasil já teve", disse o senador, referindo-se a Tereza Cristina.

Tereza, que estava ao lado de Ciro, reagiu com um sorriso típico de quem já ouviu o suficiente sobre o assunto, mas que ainda não se comprometeu. “Seria uma honra ser presidente, mas a única coisa que tenho certeza hoje é que estou ajudando a construir uma candidatura de direita no Brasil”, respondeu ela, diplomática. A frase soa como um “nunca diga nunca”, uma postura típica de quem sabe jogar o jogo da política.

O "plano A" ainda é Bolsonaro - Embora Ciro tenha se mostrado animado com a ideia de uma candidatura feminina e com a possibilidade de Tereza Cristina ser uma alternativa viável, o "plano A" continua sendo trazer Bolsonaro de volta ao páreo. O ex-presidente foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho de 2023, após uma reunião controversa com embaixadores em que ele questionou a lisura do sistema eleitoral. Desde então, seus aliados mais próximos, incluindo Ciro, estão focados em encontrar uma saída jurídica para reverter a decisão.

Entre as opções, fala-se em uma proposta de anistia, uma carta que o bolsonarismo vem tentando emplacar no Congresso. Outra possibilidade seria o próprio TSE voltar atrás, algo que, para a oposição, soa como uma hipótese remota, mas que Ciro trata como um cenário factível. "Nossa prioridade é tornar Bolsonaro elegível. É o desejo de milhões de brasileiros que ele volte a liderar", enfatizou.

Ciro, no entanto, sabe que o tempo corre contra Bolsonaro. 2026 já está no horizonte, e enquanto a elegibilidade do ex-presidente não é resolvida, a direita precisa de um plano de ação. E é exatamente aqui que Tereza Cristina ganha força.

Tereza Cristina, a opção "plano B" - Tereza Cristina tem um perfil que agrada muitos setores da direita. Ex-ministra da Agricultura, foi uma das figuras-chave no governo Bolsonaro, especialmente por sua conexão com o agronegócio, setor que é vital não só para a economia brasileira, mas também para o jogo político. No Congresso, ela é conhecida por sua capacidade de articulação e sua postura discreta, que a mantém longe dos holofotes mais polêmicos da política nacional. Uma figura moderada, Tereza é vista como um nome que poderia agregar diferentes correntes da direita, algo crucial em um cenário sem Bolsonaro como protagonista.


Ciro Nogueira, Tereza Cristina e o deputado federal Luiz Ovando.

Para Ciro, que foi um dos homens de confiança de Bolsonaro ao longo do governo, Tereza Cristina representa uma continuidade da pauta bolsonarista, mas com uma roupagem menos agressiva. Sua candidatura, caso venha a se concretizar, poderia ser uma tentativa de manter unido o bolsonarismo, ao mesmo tempo que atraísse uma parte do eleitorado mais moderado, que torceu o nariz para os excessos do ex-presidente, mas que continua alinhado com a agenda conservadora.

O teatro da política - Ciro Nogueira não esconde o jogo: sua preferência é, sem dúvidas, por Bolsonaro. A fidelidade é clara, quase reverencial. Mas Ciro também é pragmático. Com ou sem Bolsonaro, o Progressistas quer manter sua relevância no cenário nacional e, para isso, precisa de uma figura forte na disputa de 2026. Tereza Cristina, com seu perfil técnico e pouco dado a confrontos diretos, surge como essa figura.

Na política, como bem sabe Ciro, é preciso estar preparado para todos os cenários. E se o plano A falhar, ele já deixou claro que o PP tem uma carta na manga. O gesto de elogiar Tereza Cristina publicamente, em pleno evento de campanha em Mato Grosso do Sul, não é apenas um afago entre colegas de partido; é um movimento calculado. Ciro não só sugere, mas começa a preparar o terreno para o que pode ser uma das candidaturas mais fortes da direita nas próximas eleições presidenciais.

Tereza Cristina, por sua vez, faz questão de não se comprometer — ao menos não ainda. A senadora sabe que até 2026 muitas águas vão rolar, inclusive no tabuleiro jurídico que ainda mantém Bolsonaro como uma incógnita. Enquanto isso, ela permanece uma peça central nos bastidores, sempre pronta para ser chamada ao jogo.

Um futuro ainda incerto - Seja com Bolsonaro ou com Tereza Cristina, o certo é que o Progressistas está se movimentando para ocupar um papel de protagonismo em 2026. A visita de Ciro Nogueira a Campo Grande, ao lado de Tereza e da prefeita Adriane Lopes, reforça que o partido está afinado, com planos claros para o futuro. Ainda que a decisão sobre Bolsonaro esteja longe de ser resolvida, Ciro deixou claro que não há vazio de liderança no partido.

Para os eleitores de direita, o recado foi dado: o jogo ainda não acabou, e o Progressistas tem mais cartas para jogar. Agora, resta saber qual será a resposta do eleitorado diante de um possível cenário sem Bolsonaro e com Tereza Cristina como a nova estrela da vez. O tempo — e a política — dirão.