Em tempos de polarização e embates políticos cada vez mais intensos, há figuras públicas que optam por uma estratégia diferente: menos barulho, mais diálogo. Adriane Lopes, atual prefeita de Campo Grande, é um exemplo dessa abordagem. Discreta e firme, ela está em busca da reeleição e, para isso, articula alianças importantes para garantir a continuidade de seu trabalho na capital do Mato Grosso do Sul.

A prefeita e candidata à reeleição, Adriane Lopes (PP), mantém uma agenda mais reservada durante o dia, focada no expediente da prefeitura. Porém, à noite, a partir das 18h30, ela participa de um grande evento no Rádio Clube Campo, com a presença de lideranças importantes do Progressistas (PP), como o presidente nacional do partido, Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro, e a senadora Tereza Cristina, além de apoiadores da sua campanha.

Nome de destaque no Progressistas, Adriane assumiu a prefeitura em 2022, após a renúncia do então prefeito Marquinhos Trad, e desde então vem construindo um estilo de governança que procura se descolar dos discursos mais agressivos da política nacional, sem, no entanto, ignorar as alianças importantes que podem garantir sua permanência no cargo. Neste cenário, a presença do senador Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, em sua campanha, aparece como uma peça-chave para atrair eleitores da direita, especialmente aqueles que ainda se identificam com o legado do ex-presidente.

A construção de uma liderança discreta - Adriane não é uma figura de grandes manchetes ou de declarações polêmicas. Sua trajetória política é marcada por um estilo mais pragmático e de bastidores. Religiosa e dedicada, ela sempre buscou pautar seu mandato em valores de trabalho árduo e uma gestão com foco no dia a dia da cidade. Como prefeita, tem se dedicado a temas como saúde e infraestrutura, áreas que, especialmente em tempos de crise econômica, afetam diretamente a vida do cidadão comum.

Essa postura discreta e conciliadora, no entanto, não significa que Adriane não esteja atenta aos jogos de poder. Sua articulação para trazer Ciro Nogueira à sua campanha demonstra um cálculo cuidadoso: ao trazer o ex-ministro de Bolsonaro, ela busca angariar o apoio de um eleitorado que, nos últimos anos, se alinhou fortemente à direita e ao bolsonarismo. Nogueira, que é uma figura influente no Progressistas e teve papel de destaque no governo federal, chega com a missão de reforçar a ligação de Adriane com o eleitor conservador, ao mesmo tempo em que a prefeita mantém sua imagem de gestora centrada nos desafios locais.

O peso de Ciro Nogueira na campanha - A decisão de Adriane de trazer Ciro Nogueira para o centro de sua campanha tem um propósito claro: reconquistar o voto de eleitores bolsonaristas que, em um primeiro momento, ficaram órfãos após Jair Bolsonaro optar por apoiar Beto Pereira (PSDB) em Campo Grande. Para a prefeita, que também conta com o apoio da senadora Tereza Cristina e de outras figuras influentes no estado, o movimento é estratégico. Ela precisa se reposicionar dentro do eleitorado conservador, especialmente após a escolha do ex-presidente.

O próprio Nogueira, que foi um dos principais articuladores políticos do governo Bolsonaro, tem uma boa base de apoio em Mato Grosso do Sul, e sua presença traz legitimidade ao projeto de Adriane. Ao trazê-lo como “estrela” da campanha, a prefeita mostra que, apesar de seu perfil discreto, sabe que a política é feita de alianças e de construções a longo prazo.

A missão de reconquistar o eleitorado - Uma das principais questões para Adriane Lopes, entretanto, é como reconquistar o eleitorado bolsonarista que se dispersou com o apoio de Bolsonaro ao PSDB. Nessa disputa, ela precisará fazer mais do que apenas contar com o nome de Ciro Nogueira. A prefeita terá que mostrar que seu trabalho à frente de Campo Grande fala mais alto do que as dinâmicas da política nacional. A escolha de Ciro não se dá apenas pela ligação com o bolsonarismo, mas também pela experiência de articulação e diálogo que o ex-ministro traz consigo.

Ao contrário de outras candidaturas que optam pelo embate direto, Adriane parece apostar no discurso de continuidade e serenidade. Ela procura se distanciar dos extremos, enquanto reforça sua ligação com temas que impactam diretamente a vida da população, como a melhoria dos serviços públicos e o desenvolvimento de projetos de infraestrutura. Nessa linha, Adriane se posiciona como a candidata que, em meio ao barulho político, está focada em “fazer acontecer” em Campo Grande.

Uma campanha para consolidar a imagem de gestora - Diante dos desafios eleitorais de 2024, Adriane Lopes tenta consolidar a imagem de uma prefeita que, apesar das adversidades políticas e da falta de um apoio explícito de Jair Bolsonaro, continua com uma agenda de realizações e de diálogo. Seu encontro com Ciro Nogueira e outros líderes do Progressistas é um passo importante para garantir que, mesmo sem o peso da máquina bolsonarista, ela consiga garantir o apoio necessário para sua reeleição.

Em sua campanha, Adriane não se apresenta como uma figura de confronto, mas como alguém que busca equilíbrio e resultados. Essa pode ser sua maior vantagem: em um cenário onde a política parece cada vez mais polarizada, a prefeita de Campo Grande prefere apostar em alianças estratégicas e na continuidade de um trabalho focado em resultados concretos. E, com isso, tenta mostrar que, em tempos de crise, ser uma gestora eficiente e comprometida com o cotidiano da cidade pode falar mais alto do que gritos e palavras de ordem.