Parlamentares e líderes do agro de MS enviarão carta a Gilmar Mendes em resposta às invasões
Em reunião nesta manhã (3) na Assembleia Legislativa de MS (ALEMS), parlamentares e representantes do agronegócio decidem enviar carta ao ministro Gilmar Mendes
DECISÃOEm reunião realizada nesta terça-feira (3) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), parlamentares e líderes do setor agropecuário decidiram enviar uma carta ao ministro Gilmar Mendes, presidente da Comissão de Conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando que o magistrado ouça as preocupações dos produtores rurais do Estado. A medida é uma forma de garantir o cumprimento dos mandados de reintegração de posse em propriedades invadidas, buscando restabelecer a normalidade e evitar novas invasões.
O deputado Coronel David (PL), integrante das frentes parlamentares Invasão Zero e de Defesa do Direito de Propriedade, destacou a gravidade da situação, com cerca de 900 proprietários afetados pelas invasões em MS.
"Deliberamos que vamos enviar uma carta ao ministro Gilmar Mendes para que ele possa ouvir os clamores dos produtores rurais. O objetivo é assegurar o cumprimento dos mandados de reintegração de posse, restabelecendo a normalidade e evitando que a falta de cumprimento desses mandados incentive novas invasões de propriedades no Estado", afirmou o parlamentar. David ressaltou que a solução para o problema no Estado poderia ter impactos positivos em outras regiões do país que enfrentam desafios semelhantes.
"Acredito que essa questão precisa ser discutida no STF. A Comissão de Conciliação liderada pelo ministro Gilmar Mendes parece estar avançando para um desfecho que realmente reflita a vontade da maioria da população brasileira, que não deseja ver esse tipo de conflito. Além disso, essas invasões prejudicam significativamente a produção agrícola no Brasil", explica.
Famasul e Acrissul defendem urgência na resolução do conflito - O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Marcelo Bertoni, enfatizou a necessidade de um cronograma claro para a indenização dos produtores afetados.
"Não podemos tentar corrigir uma injustiça criando outra. O produtor precisa ser indenizado, mas a questão é como o governo brasileiro vai estabelecer um cronograma de pagamento para essas áreas? Essa discussão está ocorrendo hoje no STF, onde estamos tentando encontrar um caminho pacífico que traga a pacificação no campo para ambos os lados", disse Bertoni.
Bertoni alertou que a reintegração de posse, emitida no dia 23 de agosto, deve ser cumprida urgentemente, pois os produtores têm até o dia 15 de setembro para iniciar o plantio.
"É importante destacar que estamos enfrentando crimes cometidos por parte da comunidade indígena, que estão sendo investigados, possivelmente também pelo Ministério Público Federal. O juiz decidiu que os indígenas sejam relocados para uma área específica, permitindo que o produtor tenha acesso à propriedade para realizar o plantio. Estamos solicitando que os parlamentares levem essa carta ao ministro para garantir que a reintegração de posse seja efetivamente cumprida", reforçou.
O presidente da Famasul afirmou que os produtores precisam trabalhar imediatamente, ou então, irão passar por dificuldades.
"Estamos pedindo isso porque, embora sempre se fale sobre a vulnerabilidade dos indígenas, é importante lembrar que, ao retirar o produtor rural de sua terra, onde ele produz o alimento, sustenta sua família e paga suas contas, estamos também colocando-o em uma situação de miséria. E aí, quem vai atender aos direitos humanos desse produtor, que também será levado à miséria? Precisamos resolver a pobreza dos indígenas, mas sem colocar o produtor na mesma situação. Para resolver esse problema, a única solução é sentar e dialogar; não há outro caminho", afirmou.
Durante a reunião, Bertoni também abordou a questão do marco temporal, que estabelece critérios para a demarcação de terras indígenas, mas destacou a importância de encontrar uma solução que ofereça segurança jurídica para os produtores. "Se a decisão for entregar metade do território nacional aos indígenas, desde que haja compensação financeira, é um direito meu receber essa compensação. Precisamos de um cronograma para pagamento dessas terras, mas também de uma solução que evite novas expropriações e garanta a segurança jurídica no país", afirmou.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, manifestou preocupação com a suspensão das ordens de reintegração em instâncias superiores, o que, segundo ele, tem prejudicado os produtores rurais. "Os indígenas invadem propriedades, e, ao solicitar a reintegração de posse, vemos esses pedidos sendo suspensos, deixando o produtor rural com o prejuízo de sua propriedade invadida. Nosso trabalho é assegurar que a justiça seja feita e que os produtores tenham seus direitos respeitados", afirmou Bumlai.
Audiência no STF - Como já noticiado pelo portal A Crítica, no último dia 28, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), decidiu se retirar da segunda audiência de conciliação realizada pelo STF, que trata das ações que questionam a constitucionalidade da Lei do Marco Temporal na demarcação de terras indígenas.
A entidade insiste que a Lei de 2023, aprovada pelo Congresso Nacional que restabeleceu o Marco Temporal depois que a tese foi derrubada pelo STF, precisa ser suspensa, pedido que já havia sido negado pelo Supremo. No manifesto lido durante a reunião a APIB criticou a decisão da Comissão de aprovar as propostas por maioria e não por consenso e afirmou que os povos indígenas não vão se submeter a mais uma violência do Estado brasileiro em uma conciliação forçada.
O secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, chegou a propor que a Audiência fosse suspensa para que se buscasse um novo diálogo e entendimento sobre a participação da APIB. O juiz auxiliar do ministro Gilmar Mendes, Diego Veras, que presidiu a reunião da comissão especial de conciliação, ressaltou que ninguém na comissão tem poder de veto e que a saída da Articulação dos Povos Indígenas não impediria a continuidade do debate.