Primeira mulher trans em Paralimpíadas fica fora da final dos 400m do atletismo em Paris
Corredora italiana de 50 anos participa dos 400m, mas não avança à final; estreia marca momento histórico.
ESPORTENo Stade de France, em uma manhã que prometia ser histórica, a italiana Valentina Petrillo, a primeira mulher transgênero a competir nos Jogos Paralímpicos, correu sua semifinal nos 400 metros sem conseguir avançar para a final. Apesar do resultado, a presença de Petrillo desencadeou uma avalanche de atenção da mídia, que acompanhou cada passo da atleta de 50 anos, em contraste com a relativa indiferença da torcida presente.
Valentina Petrillo, que compete na classe T12 para deficientes visuais, cruzou a linha de chegada em 57s58, seu melhor tempo, mas insuficiente para garantir uma vaga na final. Precisando terminar entre as duas primeiras, a italiana ficou com a terceira colocação, enquanto a brasileira Clara Silva chegou em quarto, completando a prova em 59s07. A participação de Petrillo, no entanto, teve um impacto que ultrapassou o resultado esportivo.
No Stade de France, a maioria do público presente era composta por estudantes, que assistiram à corrida sem perceber a importância do momento. Mas, do lado de fora da pista, os holofotes estavam voltados para a italiana. Cercada por jornalistas após a prova, Valentina enfrentou uma enxurrada de perguntas e microfones, refletindo o grande interesse e curiosidade sobre sua estreia paralímpica.
Um marco em meio a uma tempestade midiática - Valentina Petrillo, que iniciou sua transição em 2019, tem uma história que se mistura com as complexidades de identidade e esporte. Diagnosticada com a doença de Stargardt, uma condição que causa perda progressiva da visão, aos 14 anos, ela interrompeu suas corridas. Foi apenas aos 41 anos que voltou às competições, já no esporte adaptado, e desde então tem desafiado barreiras, conquistando medalhas e atenção ao longo do caminho.
A estreia de Petrillo em Paris vem em um momento delicado, poucos dias após a boxeadora argelina Imane Khelif, outra mulher trans, conquistar o ouro nos Jogos Olímpicos de Paris e enfrentar uma campanha de desinformação e ataques pessoais que questionavam seu gênero. A presença de Valentina Petrillo nos Jogos Paralímpicos, portanto, não é apenas sobre uma corrida; é sobre a visibilidade trans no esporte, sobre como o mundo lida com a mudança e sobre o papel que essas atletas desempenham em debates mais amplos sobre gênero e inclusão.
Valentina Petrillo, que tem como ídolo o lendário velocista Pietro Mennea, campeão olímpico em Moscou-1980, ainda não encerrou sua participação nos Jogos de Paris. Ela volta à pista na sexta-feira para competir nos 200 metros, carregando consigo a expectativa de todos que veem sua trajetória como um símbolo de resistência e determinação.