Há quase 94 anos, uma pequena reunião na antiga sede da Associação Comercial de Campo Grande, na Rua 14 de Julho, selou o destino de uma cidade e de um estado.

Era 15 de janeiro de 1931 quando o tenente César Bacchi de Araújo, então prefeito-interventor, decidiu reunir criadores da região e fundar o que hoje é a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul, a Acrissul. Naquele contexto de pós-Revolução de 1930, em que o país ainda vivia as tensões da Era Vargas, nascia uma entidade que, ao longo das décadas, se tornaria uma das principais vozes do agronegócio sul-mato-grossense e um símbolo de poder em Campo Grande.

No próximo ano, a Acrissul completará 94 anos, carregando consigo uma história entrelaçada à do desenvolvimento de Campo Grande. A entidade começou pequena, com o objetivo de organizar o setor agropecuário na região sul de Mato Grosso, quando o estado ainda era um só. O primeiro presidente, Dolor Ferreira de Andrade, liderou os passos iniciais de uma associação que, hoje, se tornou sinônimo de tradição, poder e persistência em meio a um Brasil em constante transformação.

Presidente da Acrissul, Guilherme Bumlai - (Foto: Arquivo)

Por trás da fachada das festas agropecuárias e dos discursos políticos, há uma entidade que soube navegar por diferentes contextos históricos, preservando a cultura rural enquanto se adaptava às novas demandas econômicas. Sob a presidência de Guilherme Bumlai, a Acrissul continua a exercer sua influência, agora em um Mato Grosso do Sul consolidado como uma potência agropecuária. “A Acrissul é muito mais que uma associação de criadores; ela faz parte da espinha dorsal de Campo Grande e do nosso estado”, afirma Bumlai, enfatizando o papel estratégico que a entidade desempenha desde sua fundação.

A Expogrande: vitrine do agro e palco de negociações - Um dos principais legados da Acrissul é a Expogrande, feira agropecuária que se tornou, ao longo de 84 edições, um evento de destaque nacional. Em 2024, a feira alcançou números expressivos: um faturamento de R$576 milhões, cinco vezes mais do que no ano anterior. A feira reuniu 150 expositores, movimentou R$22 milhões em leilões e atraiu mais de 114 mil pessoas em dez dias de programação. Muito além dos números, a Expogrande é um ponto de encontro entre o campo e a cidade, onde tradição e modernidade se misturam em negócios que vão desde a venda de gado até a comercialização de maquinário de ponta.

Durante a feira, concessionárias venderam veículos em volumes que normalmente demorariam um mês para atingir. Isso reflete a força do evento, que mobiliza produtores, empresários e famílias inteiras em busca de entretenimento e oportunidades de negócio. Bumlai resume: “A Expogrande é o espelho do que Mato Grosso do Sul tem de melhor. Ela mostra a força do agro, mas também revela a capacidade de Campo Grande de se renovar e crescer”.

Perspectivas para 2025: inovação e tradição lado a lado - Já de olho na 85ª edição, prevista para ocorrer de 3 a 13 de abril de 2025, a Acrissul prepara novidades que devem atrair ainda mais público e negócios. A ideia é manter o equilíbrio entre tradição e inovação, um desafio em tempos de mudanças rápidas e demandas por sustentabilidade. “Estamos trabalhando para que a Expogrande continue relevante, sem perder sua essência”, diz Bumlai. As adaptações tecnológicas e o foco em práticas mais sustentáveis prometem dar o tom da próxima edição, numa tentativa de atrair tanto o grande produtor quanto o visitante comum, que muitas vezes vai à feira em busca de diversão e cultura.

A Expogrande não se limita aos leilões e à compra e venda de maquinários. Shows, exposições e um ambiente que mistura o rústico e o moderno fazem parte de um evento que se tornou, para muitos, um ritual anual. Para a Acrissul, é uma forma de reafirmar sua importância não apenas no setor agropecuário, mas como um dos pilares culturais e sociais de Campo Grande.

Uma entidade resistente em um estado de mudanças - À medida que 2025 se aproxima, a Acrissul se prepara para celebrar 94 anos de uma trajetória marcada por desafios e vitórias. A entidade, que começou com a simples missão de organizar criadores de gado, hoje se vê como uma guardiã da tradição e, ao mesmo tempo, uma catalisadora de inovações necessárias para enfrentar os novos tempos. Em um Mato Grosso do Sul que se moderniza a passos largos, a Acrissul continua a resistir, mantendo suas raízes fincadas na cultura do campo e no desenvolvimento regional.