Ricardo Eugenio | 19 de agosto de 2024 - 06h14

Assinatura de voos ilimitados: o modelo Netflix pode salvar as companhias aéreas?

Modelo de assinatura para voos ilimitados, como o da Wizz Air, pode ser uma solução inovadora para enfrentar a crise das companhias aéreas.

MODELO DE ASSINATURA
A Wizz Air, uma companhia aérea húngara, lançou uma assinatura anual de 500 que permite voos ilimitados para destinos na Europa. - (Foto: Divulgação)

As dificuldades das companhias aéreas ao redor do mundo são evidentes. No Brasil, vimos recentemente a Gol entrar em recuperação judicial e o fracasso da Itapemirim no setor. Esses problemas fazem parte de um cenário global complicado, causado por fatores como a pandemia, guerras e o aumento dos combustíveis. Todos esses desafios elevaram muito os custos para manter uma aeronave no ar ou até mesmo no chão, estacionada em aeroportos.

Em números, as perspectivas não são animadoras: a indústria aérea deve enfrentar uma queda de US$ 2 bilhões nos lucros neste ano, o que representa 33% a menos em relação ao ano passado. Nos primeiros três meses de 2023, as perdas globais já se aproximaram dos US$ 800 milhões.

Um modelo inspirado na Netflix para salvar o setor? Com o cenário desafiador, algumas companhias aéreas buscam soluções criativas para atrair clientes e garantir uma receita constante. Um exemplo recente vem da Wizz Air, uma empresa húngara de médio porte que lançou uma assinatura de voos ilimitados por € 500 ao ano. Com esse valor, os assinantes podem viajar para diversos destinos na Europa, como Atenas, Madri e Paris, quantas vezes quiserem.

Esse modelo é semelhante ao que a Netflix fez no mercado de filmes e séries. Em vez de pagar separadamente por cada filme ou aluguel, os clientes começaram a pagar uma taxa fixa para ter acesso a todo o catálogo de uma só vez. No caso das companhias aéreas, o princípio é o mesmo: oferecer voos ilimitados em troca de um pagamento anual único.

Por que esse modelo faz sentido? Hoje, muitas aeronaves decolam com cerca de 20% dos assentos vazios. Esses lugares não ocupados significam dinheiro perdido, já que o custo de adicionar um passageiro a mais em um voo é muito baixo. Com a assinatura, esses assentos podem ser preenchidos, enquanto a empresa recebe uma receita recorrente, garantindo que mesmo os passageiros que viajam mais aproveitem os assentos que, de outro modo, ficariam vazios.

Essa ideia tem atraído principalmente companhias de médio porte ou de baixo custo, que veem na assinatura uma forma de competir com as grandes líderes do mercado. Além de garantir mais estabilidade financeira, o modelo pode fidelizar clientes que gostem da ideia de voar mais e pagar menos.

O que esperar para o futuro das viagens aéreas? Se essa tendência crescer, é possível que as viagens aéreas se tornem mais acessíveis e flexíveis, principalmente para quem faz muitas viagens ao longo do ano. Com a pressão por preços mais baixos e a busca por novos modelos de receita, as companhias aéreas precisam inovar. A assinatura de voos ilimitados pode ser uma dessas soluções, transformando a maneira como nos deslocamos, tornando as viagens mais parecidas com serviços de assinatura que já utilizamos no dia a dia.

Embora ainda esteja no começo, a proposta é promissora e já gera interesse. Resta saber se, no longo prazo, outras empresas irão aderir e se o modelo realmente pode trazer a estabilidade que o setor tanto precisa.