Iury de Oliveira | 12 de agosto de 2024 - 08h15

Mulheres têm papel de destaque no combate aos incêndios no Pantanal

Dedicação e amor ao bioma movem bombeiras no combate às chamas

OPERAÇÃO PANTANAL
Tenente Letícia Solano, que é campo-grandense de nascimento, mas também corumbaense de coração - (Foto: CBMMS/arquivo pessoal

No coração do Pantanal sul-mato-grossense, onde o fogo ameaça devastar um dos ecossistemas mais ricos do planeta, a luta contra as chamas vai muito além dos equipamentos e veículos de combate. Por trás das 18 aeronaves, sete caminhões de combate a incêndio, seis embarcações e 55 caminhonetes mobilizadas para proteger o bioma, estão homens e mulheres que arriscam suas vidas diariamente. Desde abril, 1170 pessoas, entre elas 714 membros do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, têm se empenhado dia e noite para conter o avanço das chamas. Entre esses heróis, destacam-se mulheres como a Tenente Letícia Solano e a Sargento Katiane Mercado Alves, que enfrentam as dificuldades do Pantanal movidas por um profundo amor à natureza e ao estado que as viu crescer.

A força feminina no combate ao fogo - Nascida em Campo Grande, mas corumbaense de coração, a Tenente Letícia Solano encontrou no combate aos incêndios florestais uma missão que vai além de sua formação em Engenharia Ambiental. Após servir na Marinha como oficial temporária em Corumbá, cidade que a conquistou e lhe deu o título de "pantaneira", Letícia ingressou no Corpo de Bombeiros em 2018, acreditando que trabalharia com projetos ambientais. No entanto, o destino a levou diretamente para a linha de frente do combate aos incêndios no Pantanal.

“Nosso curso começou em janeiro deste ano, se encerrou em junho e em julho eu ingressei na Diretoria de Proteção Ambiental. Uma semana depois eu estava lá, no Pantanal, então com zero experiência assim de combate a incêndio florestal. Só que também estava com uma equipe que é especialista no combate e aí foi muito desafiador e muito aprendizado”, conta Letícia, que após 15 dias de trabalho ininterrupto, reconheceu o impacto devastador do fogo, mas também a força da determinação de sua equipe. “Todos os dias a gente estava lá tentando dar o nosso melhor e a gente conseguia, ao final do dia, combater”.

Sargento Katiane (Foto: Saul Schramm)

Sonho de infância realizado em meio ao caos - A Sargento Katiane Mercado Alves, também de Campo Grande, tem no Pantanal uma missão que vai além do trabalho: é a realização de um sonho de infância. Com 14 anos de carreira no Corpo de Bombeiros, Katiane se voluntariou para as missões no Pantanal desde 2020, movida pelo amor ao seu estado natal e pela responsabilidade de proteger um Patrimônio Natural da Humanidade. “Acho que a maior palavra que a gente tem é responsabilidade, principalmente porque eu nasci no Estado. Sou filha do Estado e a gente vê esses animais, a vegetação e tudo aquilo que toda a minha infância também via, que eu vinha para cá passear, e a gente vê queimando, a gente sofre por isso”, afirma a sargento.

Katiane destaca que, em relação aos incêndios de 2020, a atual estrutura de combate está mais robusta, contando com mais material e apoio da Força Nacional. Apesar da maior intensidade das chamas, o reforço trouxe um pouco mais de eficiência ao trabalho das equipes. Para ela, enfrentar o fogo no Pantanal é uma realização pessoal e profissional: “Eu entrei no bombeiro porque unia duas coisas do que eu gostava: a parte de aventura e de salvar vidas. Então, aquele sonho que geralmente é do homem, de ver a viatura, de brincar de carrinho com a viatura, também era meu. Eu queria dirigir aquelas viaturas, eu queria combater assim como os bombeiros fazem hoje, e eu faço hoje”.

Sargento Monalisa Alves Tabaco é mecânica de voo do KC-390 (Foto: Saul Schramm)

Ação aérea contra as chamas: a missão da sargento Monalisa - Enquanto o fogo consome o Pantanal, muitas vezes a única água que atinge o solo seco e árido vem do céu. Nesse cenário, o KC-390 da Força Aérea Brasileira (FAB) desempenha um papel crucial, despejando até 12 mil litros de água por vez sobre as áreas atingidas. Uma das responsáveis por manter essa aeronave no ar é a Sargento Monalisa Alves Tabaco, mecânica de voo da FAB. Monalisa, que acompanha os pilotos no cockpit e monitora os sistemas da aeronave, é parte vital da operação de combate aéreo.

Filha de um militar da Aeronáutica, Monalisa seguiu os passos do pai e se formou como eletricista de instrumentos, mas encontrou sua verdadeira vocação ao se tornar aeronavegante. Com dois anos e meio de experiência como mecânica do KC-390, Monalisa já participou de outras missões de socorro, incluindo o desastre natural em Canoas, no Rio Grande do Sul. Agora, sua missão é ajudar a controlar os incêndios no Pantanal. “Os incêndios são um desastre natural que nós não gostaríamos que existissem, mas é muito gratificante poder ajudar no combate nesses períodos”, conclui.