Ricardo Eugenio | 25 de julho de 2024 - 18h51

Liberação de água pela Usina de Manso alivia seca histórica no Rio Paraguai

A baixa extrema do nível também ameaça a coleta de água para os cerca de 118 mil moradores de Ladário e Corumbá.

ESTIAGEM EXTREMA
A Usina Hidrelétrica de Manso, em Mato Grosso, liberou volume extra de água durante três semanas para frear a seca histórica do Rio Paraguai. - ( Foto: Furnas/Divulgação)

A Usina Hidrelétrica de Manso, localizada em Mato Grosso, liberou volume extra de água entre 27 de junho e 18 de julho de 2024. Esta medida, adotada em meio a uma estiagem severa, reduziu a queda diária do nível do Rio Paraguai de 1,7 cm para 0,5 cm em Ladário, uma cidade às margens do rio.

Instalada nos municípios de Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia, a usina aumentou a vazão, o que elevou significativamente o nível do Rio Cuiabá, principal afluente do Rio Paraguai. Em 27 de junho, o nível do Rio Cuiabá marcava 90 cm. Dez dias depois, em 8 de julho, havia subido para 1,57 m, antes de recuar para 95 cm em 25 de julho, ainda acima dos níveis observados antes do aumento da vazão.

O impacto da medida também foi notado em Ladário. Nos últimos 13 dias, o nível do rio caiu apenas 6 cm, uma média diária inferior a meio centímetro. No período anterior de 13 dias, a queda havia sido de 22 cm. Sem a liberação de água adicional, o Rio Paraguai estaria próximo de 50 cm nesta semana.

Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) indicam que a vazão na hidrelétrica de Manso subiu de 80 m³/s em 26 de junho para 183 m³/s em 6 de julho. A partir de 19 de julho, a vazão retornou ao normal, em 81 m³/s. Este volume é crucial para evitar uma queda rápida no nível do Rio Paraguai, que está sendo mantida em quatro vezes a entrada de água no lago da usina.

Para comparação, a vazão na hidrelétrica de Itiquira, em Sonora, na divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso, é de 42 m³/s. Durante a estiagem de 2021, a usina de Manso liberava entre 120 e 130 m³/s, mas o nível do lago estava em 28%. Em 23 de julho de 2024, o lago estava em 49,7%, indicando uma capacidade maior para aumento de vazão, se necessário.

Em 2021, o nível do Rio Paraguai em Ladário atingiu 60 cm abaixo de zero, o segundo pior registro desde o início das medições em 1900. O nível atual, em 25 de julho, está 40 cm abaixo do registrado na mesma data em 2021. A previsão é que o período de chuvas comece em outubro, com o nível do rio voltando a subir em janeiro.

A queda acentuada do nível do Rio Paraguai já paralisou o transporte de minérios desde o final de junho. A diminuição do nível também pode afetar a captação de água para os 118 mil moradores de Ladário e Corumbá. A Sanesul, empresa responsável pelo abastecimento, anunciou investimentos para rebaixar a estrutura de captação, alugando uma balsa e adquirindo um conjunto motobomba específico.

A represa de Manso, formada há 25 anos, ocupa uma área de 427 km². Atualmente, é controlada por Furnas e segue as determinações do ONS. A usina, com potência instalada de 210 megawatts, foi projetada para regularizar os ciclos de cheias e secas do Rio Cuiabá, contribuindo para reduzir danos socioeconômicos.

Impacto e perspectivas
A estiagem atual, com chuvas 40% abaixo da média desde outubro passado, projeta um cenário desafiador para a região. Em 25 de julho de 2021, o nível do Rio Paraguai estava em 1,06 m. Nesta quinta-feira, marca 40 cm abaixo daquele nível. Historicamente, as chuvas retornam apenas em outubro, com o nível do rio subindo apenas em janeiro.

Consequências
Além da interrupção do transporte de minérios, a queda do nível do Rio Paraguai ameaça o abastecimento de água em Ladário e Corumbá. A Sanesul já implementa medidas emergenciais para garantir a captação de água. A estatal alugou uma balsa e adquiriu um conjunto motobomba para operar em níveis baixos, adaptando a automação do sistema para manter a vazão adequada.

A represa de Manso, construída em parceria com a iniciativa privada, está localizada no rio Manso, principal afluente do Rio Cuiabá. O consórcio PROMAN, formado por Odebrecht, Servix e Pesa, detém 30% dos investimentos, enquanto Furnas assumiu 70% desde 1999.

Projetada para usos múltiplos do reservatório e da água, a Usina de Manso visa regularizar os ciclos de cheias e secas do Rio Cuiabá, mitigando danos socioeconômicos, conforme informações da empresa.