Festival de Cinema de Bonito abre segunda edição com homenagem a Reginaldo Faria: "Emocionante"
Na abertura do festival, o ator Reginaldo Faria, foi homenageado por sua contribuição ao cinema sul-americano
+ CULTURAComeçou ontem (19), a segunda edição do Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito, encantando o público e crítica. O evento teve início com a exibição do clássico "Selva Trágica" (1963), dirigido por Roberto Farias, um filme que denuncia as desigualdades sociais no campo e a exploração dos trabalhadores no cultivo da erva-mate.
Na abertura do festival, o ator Reginaldo Faria, que faz parte do elenco do longa, foi homenageado por sua contribuição ao cinema sul-americano. Emocionado, Faria comentou ao jornal A Crítica sobre o prêmio: "Cada prêmio tem seu significado e história únicos, assim como cada jogo de futebol é diferente. Este prêmio, em particular, me emocionou profundamente. Depois de tantos anos, nunca imaginei ser homenageado por um trabalho que fiz há 61 anos", comemora.
Faria também falou sobre a evolução do cinema sul-americano e as dificuldades enfrentadas pelo cinema brasileiro ao longo dos anos.
"Desde o início, enfrentamos muita discriminação, não tanto pela qualidade das nossas obras, mas no aspecto econômico. As multinacionais ainda dominam, esmagam e tiram nosso espaço. Desde que comecei no cinema, lembro da luta por exibição. Tínhamos muito menos espaço que o cinema americano. Na década de 70, conseguimos conquistar 50% do mercado, um feito quase milagroso que permitiu que muitos produzissem seus próprios filmes, muitas vezes sem patrocínios ou leis de incentivo."
Ele destacou momentos críticos da história do cinema nacional, incluindo a intervenção de figuras como Jack Valenti e os impactos negativos das políticas do governo Collor de Mello, que cortou drasticamente o financiamento para o cinema brasileiro.
"A classe artística passou a depender de outras atividades, como comerciais, televisão, teatro e documentários. Porém, nosso maior desejo sempre foi fazer cinema de verdade e conquistar o mercado internacional. Apesar de ocasionalmente ganharmos prêmios em festivais, nosso mercado permanece restrito, ainda mais com os canais fechados", lamenta.
A programação do festival, que se estende até o dia 27 de julho, inclui diversas mostras competitivas de filmes sul-mato-grossenses, ambientais e sul-americanos, além de sessões infantojuvenis e pré-estreias no Cine Bonito. Este novo espaço no centro da cidade permite que moradores e turistas assistam a filmes com toda a família, gratuitamente. Oficinas e debates sobre cinema, com a participação de cineastas e especialistas, enriquecerão ainda mais o evento, proporcionando trocas de experiências sobre a produção cinematográfica na América do Sul.
Serão exibidos um total de 42 filmes, dos quais 30 foram selecionados para as mostras competitivas. No último dia do evento, haverá uma homenagem ao cartunista Ziraldo, com a exibição do filme “Menino Maluquinho” no Cine Bonito.
Neste mesmo dia, às 16h30, no Centro de Convenções de Bonito, Auditório Kadiwéu, será exibido o filme de encerramento: “Terceiro Milênio” (1981), dirigido pelo reconhecido cineasta Jorge Bodanzky. O diretor será homenageado e participará de uma conversa após a sessão. O filme aborda a potencialidade econômica do Amazonas e seus desvios, incluindo a corrupção na política indigenista e a presença de fábricas poluidoras.
Às 20h, após a exibição do filme, ocorrerá a entrega dos prêmios Troféu Pantanal para os vencedores das mostras competitivas, com a distribuição dos prêmios feita pela grande atriz Dira Paes.