Comerciante que escapou de tragédia em Angra diz que foi milagre ter sobrevivido
Meio AmbienteUm dos sobreviventes da tragédia em Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), o comerciante Gerson Valério, de 48 anos, falou pela primeira vez com a imprensa nesta segunda-feira (4). Abalado pela perda de amigos, que segundo ele eram como irmãos, Gerson chamou de milagre ter sobrevivido ao desastre. Ele deu entrevista nesta manhã, ainda internado num hospital particular de Arujá, na Grande São Paulo, cidade onde mora. O temporal na primeira madrugada deste ano deixou pelo menos 50 mortos em Angra.
“A maior dor é a do coração. Perdi meus irmãos todos. Éramos como uma família”, contou Gerson, que estava dormindo quando o barranco cedeu soterrando uma pousada e sete casas na Enseada do Bananal.
Gerson e sua mulher, Eny Valério, de 48 anos, faziam parte de um grupo de 17 amigos de cidades da Grande São Paulo que havia alugado uma casa na Ilha Grande. Além deles, sobreviveram o empresário Flávio Larini e Luiz Henrique Alegrí. Onze pessoas morreram soterradas e duas ainda não foram encontradas nos destroços em Ilha Grande. Nesta manhã, seis vítimas da tragédia foram enterradas em Arujá.
Gerson diz que estava dormindo na hora do desastre e sua esposa estava rezando. Ela teria ouvido um forte estrondo e achado que o barulho vinha do mar. O comerciante acordou com uma grande árvore sobre sua cabeça e com os gritos de Eny e do amigo, Flávio Larini.
“A árvore era muito pesada. Só consegui sair porque vi uma abertura no tronco e segurei por um galho. Foi quando passei por entre o tronco e segurei a mão de minha mulher”, narra.
Segundo ele, Eny também encontrou dificuldades em se locomover. “Ela dizia que havia uma pedra prendendo sua perna e a puxando. Eu disse:
você vai sair daí agora. Foi quando ela conseguiu sair. Flávio ficava dizendo que precisávamos ir para uma parte mais alta do terreno porque outra avalanche estava se formando”.
Segundo ele, os primeiros socorros foram prestados por dois rapazes que usavam lanternas. “Foi um milagre de Deus”, conta emocinado. Em seguida, Flávio, Eny e Gerson foram levados para uma pousada na Enseada do Bananal, que não foi atingida.
O comerciante afirma que a Defesa Civil foi a primeira a chegar ao local e queria removê-los. Gerson impediu que Eny fosse levada porque ela havia fraturado a coluna e os agentes da Defesa Civil não contavam, segundo ele, com nenhuma proteção cervical para transportar a esposa.
Gerson e Eny Valério estão internados desde a madrugada de domingo (3) num hospital particular de Arujá. Segundo os médicos que atendem o casal, eles sofreram múltiplas escoriações, mas nenhuma grave. Eny precisará usar um colete cervical, por causa da lesão na coluna. Não há previsão de alta para eles. Ainda de acordo com os médicos, emocionalmente, Eny é a que está mais abalada.