Lula sugere relação 'sincera' com agro, e fala que quem toma terra são os bancos, não MST
Presidente afirmou durante lançamento do Plano Safra que setor não precisa gostar dele nem ter 'compromisso ideológico' com o governo
LANÇAMENTO DO PLANO SAFRAO presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu nesta quarta-feira (3), estabelecer uma relação "sincera" com o agro. Apesar do aceno em relação ao setor, Lula voltou a defender que, recentemente, não há mais invasões de sem-terra em propriedades rurais do País. Segundo o petista, quem toma as terras, agora, são os bancos.
Lula reconheceu que parte do agro fica "chateado" com algumas condutas da gestão e, diante disso, o setor alega que o governo é "favorável" aos sem-terra. "Mas Vamos ser francos, não são os sem-terra que tomam a terra de vocês, são os bancos que tomam as terras de vocês", rebateu Lula nesta quarta-feira (3), durante lançamento do Plano Safra 2024/2025.
O presidente, então, sugeriu uma relação "sincera" entre o governo e o agro, mas que isso não exigirá um "compromisso ideológico" de gostar do governo. "Vocês Não precisam gostar de mim. Eu certamente vou gostar de vocês, porque não desprezo possíveis eleitores", brincou o chefe do Executivo.
Na fala, o petista defendeu a importância de políticos "que saibam tomar decisões na hora certa". Ele citou o rombo das Americanas e comentou que a companhia era comandada apenas por gestores.
Na esteira da resolução de problemas, Lula também comentou que o governo precisa lidar com a ameaça de greves e citou caminhoneiros. "Vamos tentar cuidar dos caminhoneiros, ver se conseguimos resolver o problema", disse.
Plano Safra
O presidente disse que está feliz com o lançamento do Plano Safra 2024/25 voltado aos grandes produtores. "Eu nunca me importei, nunca levei em conta divergência política quando você tem a responsabilidade de governar o País", afirmou também durante o evento de lançamento do plano no Palácio do Planalto nesta tarde.
Lula ressaltou que os maiores planos Safras do País foram firmados nos governos do PT, tanto os dele quanto de Dilma Rousseff. "Nunca pedi a nenhum empresário agradecimento, porque eu sei a importância da agricultura brasileira", afirmou. Lula alfinetou dizendo que é por isso que os governos do PT fazem um Plano Safra melhor do que "aquele que diz gostar" do setor - uma referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também disse que nunca perguntará a um empresário se ele gosta ou votou nele, reiterando que governa independentemente de ideologia.
O presidente ainda falou que o agro tem sorte de ter uma pessoa como ele, que enfrenta aqueles que tratam de forma pejorativa a exportação de commodities. "Precisamos incentivar muito o crescimento da nossa agricultura", afirmou, e lembrou da tecnologia que o agronegócio brasileiro tem para se destacar no cenário internacional.
Lula destacou que a apresentação da proposta a pequenos e médios produtores vai trazer benefícios ao Brasil, à medida que há estímulos, com o aumento da produção, melhoria da qualidade do plantio e maior dinamismo da economia, como compras de máquinas e equipamentos. A nova edição do Plano Safra terá R$ 400,59 bilhões para as linhas de financiamento voltadas aos médios e grandes agricultores, 10% mais que na temporada passada.
Carne sem imposto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a inclusão das carnes na cesta básica com imposto zero na regulamentação da reforma tributária. "Temos que discutir o que vai entrar na cesta básica. Não tem como separar carne; possivelmente teremos que separar carne in natura e processada", afirmou Lula durante o lançamento do Plano Safra 2024/25 empresarial.
A inclusão das carnes no relatório do grupo de trabalho que discute o principal projeto de regulamentação da reforma na Câmara dos Deputados está sendo negociada pelo governo, setor produtivo e deputados. O novo relatório deve estabelecer a isenção de carne bovina, de frango e suína e especificar quais tipos de peixes com imposto zero. A alíquota geral do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) deve aumentar com a isenção das carnes.
Congelamento de preços
Lula afirmou que jamais tomará atitude de congelar preços no Brasil, ao comentar sobre a garantia de compra de produção de alimentos e inflação.
"Eu jamais vou tomar a atitude de congelar preços. Foi a maior gelada do mundo que fizeram. A minha experiência é que toda vez que congela alguma coisa, aumenta-se o preço e as coisas desaparecem", afirmou durante o lançamento do Plano Safra empresarial 2024/25 nesta tarde.
Antes, ele tinha observado que o governo precisa ter consciência de que, quando incentiva as pessoas a plantar, precisa garantir que elas não terão prejuízo: "A gente tem de comprar o que ele produziu para não jogar nada fora".
'Estado tem que ser indutor, tem que discutir e planejar'
O presidente afirmou que o papel do Estado é ser indutor de desenvolvimento, mas que também precisa cuidar das pessoas. As declarações, dadas no lançamento do Plano Safra empresarial 2024/25, vêm na esteira de um momento em que ele é criticado pela dificuldade em promover uma agenda de corte de gastos.
"O Estado tem que ser indutor, tem que discutir e planejar, de preferência coletivamente, o que se quer do País", declarou. Ele reiterou que sonha com um país desenvolvido e que não fez opção pela pobreza.
Lula disse que sente alergia grande por tratar a todos com muito respeito, independentemente da classe social. "Encontramos o País destruído e estamos reconstruindo", afirmou.
Para o presidente, agora é o momento da colheita. "É por isso que o salário está crescendo, o PIB surpreendeu os negacionistas e vai crescer mais em 2024", disse.
O presidente disse que "os astros" estão se movimentando de forma muito favorável ao Brasil.