Carlos Guilherme | 10 de junho de 2024 - 09h00

Mato Grosso do "Sol": Energia solar muda realidade dos agricultores com metas de sustentabilidade

Transição para a energia renovável está transformando a agricultura, elevando a eficiência e sustentabilidade e moldando um futuro econômico e responsável

AGRO É TEC
Sistema de irrigação da MS Energy - (Foto: Divulgação)

Nas primeiras horas da manhã em Mato Grosso do Sul, quando o sol nasce por trás dos inúmeros campos de soja e milho, não é apenas a natureza que desperta. Uma rede de painéis solares espalhados por diversas propriedades rurais começa a capturar energia. Essa transição redefine não apenas a relação dos agricultores com a terra, mas também com a energia que move suas atividades diárias.

Imagine começar seu dia sabendo que a luz do sol não apenas faz suas plantas crescerem, mas também alimenta todas as máquinas e sistemas necessários para manter sua fazenda próspera. Como você acha que isso mudaria sua rotina diária e suas despesas mensais?

Tertuliano Soares, 56, tem uma propriedade rural em Rio Negro, a 170 km de Campo Grande. Ele se tornou um pioneiro no uso de energia solar em sua fazenda, quando começou com uma pequena instalação para suprir as necessidades básicas da propriedade. Ao perceber os benefícios, ele aumentou o uso de painéis solares.

"Quando implantamos os primeiros 20 painéis solares há cinco anos, o objetivo era apenas reduzir a dependência da energia elétrica tradicional e os custos na época. Desde então, ampliamos para 200 painéis. Agora, produzimos cerca de 80% da energia que consumimos, o que representa uma economia anual de aproximadamente R$ 120 mil em contas de energia”, relembra.

Painéis solares da MS Energy - (Foto: Divulgação)

O produtor também destaca como a energia solar influenciou a sustentabilidade e eficiência da produção. "A transição para a energia solar não só reduziu nossos custos operacionais, mas também aumentou nossa competitividade no mercado. Com a economia gerada, investimos em tecnologias de irrigação e automação, que melhoraram o rendimento das culturas de soja e milho em até 30%”, detalha.

Já parou para pensar no impacto ambiental e econômico que a adoção de energia solar poderia ter na sua vida ou na comunidade ao seu redor?  Para Tertuliano, isso já está mais que comprovado.

“A quantidade de energia solar que captamos em apenas um dia é suficiente para operar todos os nossos equipamentos de irrigação por uma semana. Imagine o impacto que isso poderia ter em outras propriedades e regiões se as pessoas tivessem condições de adotar soluções semelhantes”, destaca.

O custo inicial de instalação é um dos principais entraves à adoção mais ampla de energia solar entre as famílias nas áreas urbanas. Para uma família de quatro pessoas, que atualmente desembolsa cerca de R$ 210 mensais em energia elétrica, o investimento inicial para a implementação de um sistema de energia solar tem o preço médio de R$ 25 mil. Esse valor inclui tanto os equipamentos necessários quanto a instalação, que deve ser realizada por profissionais especializados. Porém, reconhecendo essa barreira, muitas empresas no setor têm trabalhado para tornar a energia solar mais acessível. Muitas estão facilitando esse processo por meio de opções de financiamento e planos de pagamento flexíveis, permitindo que um número maior de famílias possa investir em energia limpa e sustentável.

Nesse contexto, a coordenadora comercial da MS Energy, Amanda Chiminacio, detalha as tecnologias utilizadas para integrar a energia renovável aos sistemas de irrigação, que incluem não apenas painéis solares e inversores, mas também baterias e sistemas de automatização.

"Os benefícios para as propriedades rurais são imensos, desde a redução significativa dos custos com energia elétrica até a independência energética, que protege os produtores das oscilações dos preços da eletricidade”, explica.

Além disso, há um impacto direto na sustentabilidade e na preservação ambiental. "Substituindo os combustíveis fósseis, a energia solar ajuda a reduzir significativamente a emissão de poluentes como o CO, contribuindo para a luta contra as mudanças climáticas. Esta mudança também aumenta a resiliência das propriedades rurais, o que permite que os produtores operem de forma autônoma em relação à rede elétrica tradicional”, diz.

Em MS, os dados mais recentes apontam que a capacidade de geração de energia solar alcançou 881,7 MWh em agosto de 2023, abastecendo 113.955 pontos de consumo entre residências, empresas, fazendas e prédios públicos. Os números mostram ainda que no segundo semestre do ano anterior, houve um aumento superior a 88% na potência instalada, conforme levantamento realizado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).

Sistema de irrigação da MS Energy - (Foto: Mairinco de Pádua)

Agora, se tratando de todo o País, a energia solar fotovoltaica beneficia mais de 3 milhões de unidades consumidoras, com uma capacidade instalada que já ultrapassa os 23 gigawatts, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Desde 2012, o setor solar fotovoltaico impulsionou cerca de R$ 115,8 bilhões em novos investimentos, gerou aproximadamente 690 mil empregos e contribuiu com R$ 30,2 bilhões em tributos, espalhando benefícios por todo o Brasil.

Transição energética - Para a coordenadora de Energias Renováveis e Bioindústrias da Semadesc, Mamiule de Siqueira, ações do Governo do Estado contribuem para que essa realidade atinja grande parte de MS. "O Governo tem apoiado a adoção de tecnologias renováveis na agropecuária com uma série de programas estratégicos, como o MS Renovável, Precoce MS, e Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal, que promovem a sustentabilidade e aumenta a eficiência energética”, explica. O Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO Rural), por exemplo, está oferecendo condições favoráveis para financiamentos de painéis.

"A energia solar tem sido fundamental para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, diminuindo a pegada de carbono e aumentando a autossuficiência energética das fazendas. Hoje, a energia solar já responde por cerca de 13% da matriz energética de MS, com um crescimento na instalação de sistemas de microgeração e minigeração distribuída, além de grandes usinas solares”, detalha.

Como previsto, esse impulso energético chegou ao viveiro da MS Florestal em Água Clara, empresa pertencente ao grupo Bracell. Entre as inovações implementadas no viveiro, estão os painéis fotovoltaicos instalados que são fundamentais para a produção de energia limpa e essencial para a operação.

 “Na gestão florestal moderna, a adoção de tecnologias avançadas e o uso de energias renováveis refletem nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável. Esse é o tipo de investimento que nos permite garantir a otimização do uso dos recursos naturais nas nossas operações. Estamos comprometidos em liderar pelo exemplo, promovendo práticas sustentáveis desde o viveiro”, afirma o gerente interino do Viveiro MS Florestal, Maurício Prieto.

O presidente do SRCG, Alessandro Coelho - (Foto: Arquivo)

Além dos painéis, entre as tecnologias implantadas no viveiro, estão os sistemas inteligentes de controle e gestão de água, que garantem a irrigação nas quantidades exatas e nos momentos mais oportunos para as mudas, minimizando o desperdício. O sistema de captação de água permite sua reutilização.

Entre as vantagens técnicas e ambientais, o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG), Alessandro Coelho, foca nos benefícios econômicos e estratégicos para o setor. "A dependência de concessionárias de energia e o alto custo dos impostos são inviáveis. Com uma das tarifas mais elevadas do país, Mato Grosso do Sul precisa buscar alternativas ao modelo convencional de fornecimento elétrico".

A energia renovável tem revolucionado as propriedades rurais e urbanas, oferecendo uma fonte de energia limpa e renovável que reduz significativamente os custos e a dependência de combustíveis fósseis. Com avanços tecnológicos contínuos e crescente acessibilidade, a energia solar está prestes a se tornar ainda mais popular, transformando não apenas a maneira como geramos energia, mas também como vivemos e trabalhamos no dia a dia.