Rayssa Motta | 24 de abril de 2024 - 18h45

Presidente da OAB leva a Pacheco propostas sobre sustentações orais e solução de conflitos

Proposta de Emenda à Constituição capitaneada pela Ordem dos Advogados prevê que julgamentos sejam anulados se defesa for impedida de apresentar suas alegações orais a um colegiado de magistrados

PEC DAS SUSTENTAÇÕES ORAIS
Beto Simonetti é o presidente da OAB e o articulador da PEC das Sustentações Orais - (Foto: Raul Spinassé/OAB)

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, e o vice-presidente da entidade, Rafael Horn, estiveram nesta quarta-feira (24) com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para entregar pessoalmente o texto da PEC das Sustentações Orais.

O ofício que acompanha a Proposta de Emenda à Constituição afirma que o direto dos advogados às sustentações orais - momento em que a defesa expõe seus argumentos antes do julgamento - "tem sido alvo de violações recorrentes".

O plenário da OAB aprovou o texto por unanimidade na semana passada. A versão passou por ajustes pontuais ao longo dos últimos dias antes de ser entregue ao Congresso.

A OAB propõe a inclusão de dois novos parágrafos na Constituição. O primeiro prevê o direito à sustentação oral, em sessões presenciais e virtuais, nos julgamentos colegiados em todas as instâncias. O segundo restringe a capacidade dos órgãos do Poder Judiciário de "limitar, restringir ou excluir as hipóteses legais de intervenção da advocacia no processo, particularmente a sustentação oral". Ou seja, é uma tentativa de blindar eventuais reações dos tribunais pela via administrativa.

Veja o que propõe a OAB na PEC das Sustentações Orais:

Entenda o caminho até a PEC

Os tribunais superiores têm impedido as sustentações em algumas modalidades de recursos e pedidos, como os agravos, embargos, petições de suspeição e medidas cautelares. A regra foi incluída nos regimentos internos do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Como mostrou o Estadão, Beto Simonetti procurou o STF para conversar sobre o assunto ao longo dos últimos dois anos. O presidente da OAB chegou a se reunir com o atual presidente do tribunal, o ministro Luís Roberto Barroso, e com a ministra Rosa Weber, sua antecessora, além do ministro Alexandre de Moraes.

A avaliação, no entanto, é que os ministros ouviram, mas não demonstraram disposição para promover mudanças. Sem um aceno concreto do STF, o presidente da OAB concluiu que o diálogo não terá mais efeito prático. O caminho encontrado foi a via legislativa. Além de Rodrigo Pacheco, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também foi procurado e já está atualizado sobre a iniciativa.

A PEC vem sendo debatida na cúpula da OAB há pelo menos cinco meses. Conselheiros têm agido cuidadosamente para evitar que a proposta seja lida como uma agressão ao STF ou uma ruptura com o tribunal. Há um esforço para evitar a politização da iniciativa, após o período turbulento do 8 de Janeiro.

A proposta começou a ganhar força em novembro do ano passado, depois que o ministro Alexandre de Moraes barrou um advogado de fazer sustentação oral no TSE. Ele argumentou que o direito não está previsto no julgamento de recursos e ironizou: "A OAB vai lançar outra nota contra mim, vão falar que eu não gosto do direito de defesa. Vai dar mais uns quatro mil tuítes dos meus inimigos."