Rodrigo Sampaio | 03 de novembro de 2023 - 22h30

Fluminense tenta apagar traumas no Maracanã por inédito título da Libertadores contra o Boca

Tricolor carioca joga nova decisão internacional no estádio após ser vice para a LDU, em 2008, e perder a Sul-Americana diante dos equatorianos no ano seguinte; Washington relembra duelo com o Boca e confia na vitória

FINAL DA LIBERTA
Fluminense foi vice da Libertadores, em 2008, para a LDU, em pleno Maracanã - (Foto: FABIO MOTTA/AGENCIA ESTADO/AE)

O Fluminense mais uma vez terá o Maracanã como palco de sua luta pelo inédito título da Copa Libertadores e a primeira conquista continental de sua história. Depois de perder a final para a LDU, em 2008, e ser derrotado novamente pelos equatorianos na decisão da Copa Sul-Americana, no ano seguinte, os cariocas enfrentam o Boca Juniors neste sábado, às 16h (horário de Brasília), buscando exorcizar os traumas anteriores para alcançar a Glória Eterna.

A Libertadores tornou-se uma obsessão para os tricolores não somente pela possibilidade de erguer a taça pela primeira vez, mas também pela melancólico revés ocorrido 15 anos atrás. Depois de ser derrotado fora de casa por 4 a 2 pela LDU, o Fluminense venceu de virada, por 3 a 1, com três gols de Thiago Neves, e levou a decisão para os pênaltis. Os comandados de Renato Gaúcho acabaram sendo derrotados na marca da cal pelo mesmo placar, com Thiago Neves, Conca e Washington errando suas cobranças, deixando 86 mil pessoas engasgadas no Maracanã.

Coincidentemente, Fluminense e LDU reeditaram a final um ano depois, em 2009, pela Copa Sul-Americana. No confronto de ida, o time carioca sofreu com a altitude de Quito e perdeu o confronto de ida por 5 a 1. No duelo de volta, novamente no Maracanã, a equipe tricolor venceu por 3 a 0, ficando a um gol de levar o confronto para os pênaltis, e viu novamente o clube do Equador dar a volta olímpica no Rio. A LDU se sagrou bicampeã da Sul-Americana no último sábado, ao derrotar o Fortaleza nos pênaltis, por 4 a 3, depois de empate por 1 a 1 no tempo normal.

Caso vença a decisão, o Fluminense se tornaria a o 26º clube a conquistar a Libertadores, o décimo no Brasil. O Boca, por sua vez, tenta igualar o número de troféus do também argentino Independiente (7) e se tornar o maior campeão do torneio. Os países já decidiram a competição 15 vezes, com seis vitórias brasileiras e nove argentinas. Ao todo, são 25 títulos da Argentina, contra 22 do Brasil. Uruguai (8), Colômbia (3), Paraguai (3), Chile (1) e Equador (1) também já tiveram equipes campeãs.

DOCE LEMBRANÇA
Apesar de ter ficado com o vice, a campanha na Libertadores de 2008 guarda momentos emblemáticos para os torcedores do Fluminense. Um deles é justamente os confrontos com o Boca Juniors na semifinal daquele ano. Na Argentina, Riquelme marcou duas vezes para os donos da casa, mas Thiago Neves e Thiago Silva garantiram o empate fora de casa. No Maracanã, a equipe tricolor saiu atrás do placar, virou para 3 a 1 e garantiu a classificação para a final inédita eliminando os atuais campeões, repetindo um feito que apenas o Santos de Pelé havia conseguido.

Washington, que havia sido o herói da classificação nas quartas de final contra o São Paulo, marcou o gol de empate no Maracanã contra o Boca. Conhecido pelo faro artilheiro dentro da grande área, o centroavante surpreendeu a todos ao acertar uma linda cobrança de falta. Aos 48 anos, ele atualmente trabalha como secretário executivo de Esportes em Sergipe.

Washington (centro) comemora gol com Arouca (dir) e Luiz Alberto - (Foto: Silvia Izquierdo/AP)

"O jogo estava muito difícil. Eu não era um exímio batedor de falta, mas eu treinava muito. Mas eu estava confiante", relembra Washington. "Naquele ano nós fizemos história. Infelizmente não conseguimos o título, mas o torcedor tem um grande carinho com a gente. Fico muito feliz por estar no rol de ídolos e resgatar a paixão do tricolor pelo Fluminense".

Se o Fluminense de 2008 tinha nomes de peso, como Thiago Silva, Thiago Neves, Conca, Dodô e o próprio Washington, o time de 2023 não fica atrás e conta com a experiência de Marcelo, Fábio, Felipe Melo e Ganso, além do artilheiro Cano e da joia André. À beira do gramado, Fernando Diniz faz trabalho de destaque, que o levou a ser escolhido pela CBF para ser o treinador interino da seleção brasileira. Para Washington, o Fluminense atual se assemelha com o de 15 anos atrás pelo fato de jogar visando o ataque e, por isso, é favorito ao título. Contudo, ele ressalta os perigos do adversário.

"Estou muito confiante de que o título virá esse ano, apesar de o Boca ser um grande adversário. É um time multicampeão, acostumado a títulos", diz. "Eles vão se fechar, marcar forte, catimbar o jogo e, se precisar, levar para os pênaltis, como fizeram nas últimas fases. O Fluminense tem que se preocupar em não levar gol. Essa será a maior dificuldade."

TERROR DOS BRASILEIROS
O Boca Juniors de 2023 está longe de ser aquela equipe que encantou o futebol sul-americano nos anos 2000, mas o peso de sua camisa e a capacidade de controlar as emoções das partidas, sempre apoiados pela fanática torcida, fizeram a equipe chegar à final da Libertadores, mesmo que aos trancos e barrancos. O time argentino se classificou nas penalidades em todas as fases eliminatórias, eliminando o Palmeiras, no Allianz Parque, na semifinal.

Na história da Libertadores, o Boca Juniors disputou seis finais contra equipes brasileiras e saiu vitorioso em quatro oportunidades: em 2007, 2003, 2000 e 1977, tendo como vices Grêmio, Santos, Palmeiras e Cruzeiro, respectivamente. Os únicos times brasileiros a derrotarem o Boca em uma decisão de Libertadores foram o Corinthians, em 2012, e o Santos de Pelé, em 1963. Em 2012, o Fluminense enfrentou os argentinos nas quartas de final e foi eliminado ao empatar por 1 a 1, no Rio, depois de uma derrota por 1 a 0 em Buenos Aires.

Valentín Barco é uma das esperanças do Bocas Juniors para o duelo com o Fluminense - (Foto: Juan Ignacio Roncoroni/ EFE)

Os destaques da equipe são o experiente goleiro Sergio Romero, que defendeu ao menos duas cobranças em todas as disputas por pênaltis na edição deste ano, o astro Edinson Cavani, segundo maior artilheiro da seleção uruguaia, e a promessa Valentín Barco, de apenas 19 anos, mas considerado o melhor jogador do time. À imprensa argentina, a revelação demonstra confiança às vésperas do confronto e afirma que o Boca vai se sentir "em casa" no Maracanã.

A finalíssima da Copa Libertadores 2023 acontece neste sábado, às 16h (horário de Brasília), no Maracanã. O duelo será decidido em jogo único. Em caso de empate no tempo normal e na prorrogação, a disputa irá para os pênaltis. O confronto será transmitido pela Globo (TV aberta), ESPN (canal fechado) e Star + (streaming).