Entre luz e sombra, Filipi Silveira demonstra resiliência para continuar fazendo arte
Confrontado com desafios pessoais e profissionais, o ator e diretor mostra que a paixão e determinação superam qualquer obstáculo
TRAJETÓRIAEm 2017, a vida do ator e diretor Filipi Silveira tomou um rumo inesperado. A saudade de seus pais, o ex-vereador Cristóvão Silveira e Fátima Silveira, resultou em um impacto profundo de sua saúde mental e física. O estresse causou uma doença conhecida como Retinopatia Serosa Central, resultando na perda quase total da visão em seu olho esquerdo.
Essa reviravolta poderia ter encerrado a carreira de muitos, mas com Filipi foi diferente. "Fazer arte é minha cura", declarou ele, fazendo jus ao título de seu primeiro longa-metragem, “Até o Fim”. Mesmo enfrentando desafios como a pandemia e entraves de produção, Filipi permanece dedicado em seu trabalho, com novos roteiros e projetos sempre em mente.
“Ser um ator, diretor e roteirista com problemas de visão é um desafio significativo. O esforço visual é intenso, as fontes precisam ser ampliadas e não posso recorrer a corticoides. No momento, estou em plena produção do meu primeiro longa-metragem e, durante esse período, notei que a visão do meu olho direito estava se deteriorando. Já perdi a visão de um olho e não posso correr o risco de perder o outro. Por isso, precisei fazer uma pausa nas filmagens para receber uma injeção ocular”, explica.
Ecoando o poeta Ferreira Gullar, que diz: 'a arte existe porque a vida não basta', Filipi vai ao mesmo caminho, já que desde que se tornou produtor, passa mais tempo atrás de uma mesa do que em sets de filmagem.
“Sou apaixonado por cada fase: a criação, a escrita, o desenvolvimento e a concretização de um projeto. Meu compromisso com a arte é uma promessa feita aos meus pais de que jamais abandonaria meus sonhos. Embora muitos afirmem que estou em constante luto, prefiro ver que, mesmo de luto, continuo lutando”, diz.
Seu compromisso com o cinema vai além da tela. Ele é também um defensor da cultura e da educação, legados deixados por seus pais. Recentemente, conversou com importantes figuras políticas para reafirmar a necessidade de valorizar a educação como uma potente ferramenta de transformação social.
“Meu pai pode não estar fisicamente presente, mas sinto que seus ensinamentos reverberam constantemente em minha vida. Há quem diga que seguiria seus passos na política, mas acredito que não é necessário ocupar um cargo para atuar politicamente. Afinal, todos nós somos seres políticos por natureza. Contudo, minha política se manifesta através da cultura, uma poderosa ferramenta de transformação”, diz. Filipi esteve recentemente com o governador Eduardo Riedel, senador Nelsinho Trad e com o secretário Estadual de Educação Hélio Daher, onde propôs uma homenagem a seu pai em uma escola integral. “Fiquei feliz ao ver que concordaram com a ideia”, comemora.
Parceria, amizade e lealdade - Dizem que, na adversidade, mostramos nossa verdadeira força. E Filipi é a prova viva disso. Rodeado de colegas e profissionais que também enfrentam suas próprias batalhas, ele transforma cada produção em uma jornada de superação. Entre esses amigos, tem Aline Rezende, que, com sua própria história de desafios, oferece suporte indispensável nas produções de Filipi, sendo sua assistente de produção executiva.
“Ela colaborou com meu pai em diversas campanhas e tinha uma relação muito próxima com ele e minha mãe, ao lado de seu marido, Mário César. Temos um vínculo tão próximo que o nome de seu filho é Filipi, escrito com três "i's", assim como o meu”.
Aline enfrenta uma condição que a categoriza como PCD, tendo momentos bons e outros mais desafiadores. “No entanto, nosso trabalho é uma fonte de realização para ambos. Com sua família nutrindo um profundo carinho por mim, Aline se tornou uma presença essencial em minhas produções. Sempre ativa e dedicada, ela aceitou o meu convite no ano passado para fazer parte da equipe do meu filme. Mesmo com os obstáculos, ela demonstra resiliência e continua se adaptando”, detalha.
Formada em Farmácia e integrante de uma família tradicional de Campo Grande, Aline explica que tem duas doenças distintas. A distonia, infelizmente, ainda não possui cura na medicina atual; é possível apenas uma melhora na qualidade de vida.
“A primeira condição é um problema cervical, que levou à necessidade de uma cirurgia na coluna em 2018, consolidando minha condição de deficiência em minha CNH. A segunda, manifestada em dezembro de 2022, é uma distonia cervical, caracterizada por contrações involuntárias nos músculos, comprometendo a minha fala, deglutição e causando intensas dores”, explica a profissional.
Ao falar de Filipi, Aline detalha que a parceria vem sendo extremamente enriquecedora. “Em meio a tantos desafios e agitações, percebemos que enquanto ele necessitava de uma visão, eu buscava uma voz. Assim, nasceu uma colaboração sólida e, ao nos darmos conta, nossas famílias já estavam unidas ao nosso lado”, diz.
“Sou extrovertida e sempre pronta para uma brincadeira, mas, inesperadamente, perdi minha capacidade de falar. Quase simultaneamente, o Filipi perdeu a visão. Diante de prazos a cumprir, o pânico se instalou. No entanto, nossa equipe compreendeu e tudo correu bem. Em nosso grupo, a confiança é genuína”, salienta.
Sobre a importância e a representatividade de PCDs na indústria de filmes, Aline enxerga a oportunidade como recompensadora. “Muitos vêem a inclusão de pessoas com deficiência como um desafio. No entanto, somos tão normais quanto qualquer um. Representamos uma parcela da sociedade que, embora enfrente limitações, possui imenso potencial. Hoje, representamos cerca de 80% do projeto”, comemora.
A trajetória de Filipi lembra a arte oriental do Kintsugi, onde as quebras são remendadas com ouro, prata ou platina, valorizando o imperfeito.
“Viver é uma jornada repleta de desafios. À medida que envelhecemos, enfrentamos o aprendizado de lidar com perdas, algo que a escola não nos ensina. Por isso, é vital abraçar cada momento e buscar a superação. Reconheço, pela minha vivência, que afirmar que ‘o tempo cura tudo’ é um consolo superficial, mas temos que aprender a conviver”, diz o diretor.
Em meio a tudo isso, uma coisa é certa: a memória de seus pais, o amor de seus próximos e sua paixão pelo cinema são os combustíveis que o impulsionam a seguir adiante, olhando sempre além dos obstáculos.
Para ficar por dentro do trabalho de Filipi, siga ele no Instagram (@filipi_silveira).
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