Carlos Ferreira e Rafael Rodrigues | 11 de outubro de 2023 - 06h00

Lentes de Higa capturaram a história e transformação de MS ao longo das décadas

Imortalizando a criação de um Estado, o renomado fotógrafo Roberto Higa remonta os desafios e evoluções de MS

#MS46ANOS
População de Campo Grande comemorou em peso a criação de MS - (Fotos: Roberto Higa/Arquivo)

No auge de uma das mais marcantes transições políticas do Brasil, em 11 de outubro de 1977, quando o estado de Mato Grosso foi dividido, criando o Mato Grosso do Sul, um homem se destacava não por discursos inflamados ou decisões políticas, mas por eternizar aqueles momentos com sua câmera. Esse homem é o experiente fotógrafo Roberto Higa.

Enquanto muitos celebravam, debatiam ou protestavam, Higa estava lá, documentando. Suas lentes capturaram reuniões, festas de rua e momentos íntimos entre políticos. Um verdadeiro testemunho visual de uma época.

Enquanto muitos celebravam, debatiam ou protestavam, Higa estava lá, documentando - (Fotos: Arquivo pessoal)

Em um relato recheado de saudosismo e detalhes ricos, Higa rememora: "Parece que a divisão do Estado é amanhã... E estava aquela festa. Sabe aquela festa da criação de MS? Fui na rua fotografar". E assim, ele se encontrou em meio aos principais eventos, capturando a essência da mudança.

Higa destacou a riqueza e a antiguidade de seu acervo, mencionando suas fotografias mais antigas.

“Tenho fotos de 1968, época do Mato Grosso uno. Entre elas, tenho registros da enchente que devastou a Rua Maracaju na Capital nos anos 70”, diz.

Higa destacou a riqueza e a antiguidade de seu acervo, mencionando suas fotografias mais antigas - (Fotos: Arquivo pessoal)

O profissional reforça que a sua paixão pela fotografia nunca acabou.

“Sou verdadeiramente obcecado pela arte. Recordo-me do Paulinho, aquele senhor que sempre estava com seu rádio de pilha, um dos tantos personagens singulares que tive a oportunidade de registrar. No campo profissional, posso afirmar que sou um dos poucos que possuem um acervo como o meu. Muito do que sei, aprendi em São Paulo, e ao retornar, sempre tive o desejo de fazer a diferença com o meu trabalho”, recorda.

Memórias de uma Campo Grande feliz e agora independente - (Fotos: Arquivo pessoal)

No entanto, o trabalho de Higa vai além das imagens. Ele traz consigo histórias, anedotas e uma perspectiva única sobre os eventos que viveu. Cada foto possui uma narrativa por trás, sendo guardião dessas memórias. Questionado sobre sua fama na área, ele é modesto.

"Naquela época, ser reconhecido era diferente. Hoje, com as redes sociais, a fama pode ser mais acessível. Mas para mim, mais do que simplesmente ser famoso, sempre busquei eternizar momentos e contar histórias por meio das minhas fotos”, reconhece.

"Naquela época, ser reconhecido era diferente", explica o profissional - (Fotos: Arquivo pessoal)

Contudo, em um Estado tão jovem quanto MS, a preservação da história nem sempre foi prioridade. Apesar de ter em suas mãos um acervo que ultrapassa as 400 mil imagens, Roberto Higa expressou sua frustração por não ter recebido o devido reconhecimento pelo seu trabalho, que documenta momentos cruciais da história política local.

"É surpreendente como, possuindo um acervo tão valioso em mãos, nunca consegui convertê-lo em uma fonte de renda ou benefício pessoal. A verdade é que nunca fui financeiramente recompensado. Isso me leva a refletir sobre a forma como nossa história é contada”, explica.

O fotografo explica que mantém até hoje a arte de observar o ambiente para capturar os melhores momentos - (Foto: Rafael Rodrigues)

O profissional destaca que o Estado é jovem, e que tem registros fotográficos de eventos icônicos, como a inauguração da Assembleia Legislativa de MS e os primeiros deputados.

“Sou o guardião dessas memórias. Mas percebo que as pessoas aqui estão mais interessadas em narrar suas versões individuais do passado. Tanto prefeitos quanto governadores parecem ter essa inclinação. Estranhamente, ninguém nunca me procurou para colaborar ou preservar esse patrimônio. Cada um quer protagonizar sua própria versão da história”, lamenta.

Acompanhando a evolução de MS, e consequentemente de Campo Grande, o fotografo explica que mantém até hoje a arte de observar o ambiente para capturar os melhores momentos.

As lentes se transformaram em melhores amigas de Higa - (Foto: Rafael Rodrigues)

“Até os dias de hoje, mantenho esse hábito e essa observação. Hoje, a cidade está mais descentralizada. Seja na Mata do Jardim ou na Moreninha, você encontrará praticamente os mesmos serviços e comércios que se encontram na Rua 14 de Julho. Essa expansão pode ser atribuída a políticas de Pedro Pedrossian. Lembro-me de quando a Moreninha começou a ser construída em 1980 e capturei uma imagem de uma jovem de cerca de 10 a 12 anos e sua mãe segurando uma placa agradecendo ao Pedrossian pela obra. Anos depois, em 1993, ao revisitar o local, percebi o quão rápido a cidade e suas pessoas mudaram”, salienta.

Todo o acervo de Higa é guardado em casa mesmo - (Foto: Rafael Rodrigues)

É essencial reconhecer o valor de fotógrafos como Roberto Higa, que, com sua paixão e dedicação, preservam momentos históricos para as gerações futuras. Seu acervo é mais do que simples fotografias; são cápsulas do tempo, transportando quem as vê para um momento específico da história de um Estado em formação.

“Se você não se destacar pela excelência no que faz, saiba que existem muitos outros para ocupar seu lugar. As pessoas geralmente optam pelo que é mais prático e econômico. É essencial se aperfeiçoar, se dedicar e dar valor ao que faz. Se você se acomodar e não se esforçar para entregar qualidade, seu trabalho pode se perder em meio à mediocridade. Não se iluda: sem esforço e dedicação, é fácil ficar para trás na competição”, destaca.

Por essas e outras, Higa prova que não é apenas um fotógrafo; mas sim um cronista visual de uma era que não deve ser esquecida.

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