"Agora vamos nos preparar para as eleições de 2024"
O deputado estadual retirou a sua pré-candidatura para a Prefeitura de Campo Grande, mas afirmou que a sigla já está se preparando internamente para as eleições municipais
ZECA DO PTEm entrevista ao Grupo Feitosa de Comunicação nesta quarta-feira (16), o deputado Zeca do PT, compartilhou sua experiência ao retornar à Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) após um período de reclusão, destacando a qualidade dos debates parlamentares e a importância do diálogo para impulsionar o crescimento econômico e social do Estado.
Ele falou ainda sobre à sua decisão de retirar sua pré-candidatura à Prefeitura de Campo Grande, enfatizando a necessidade de uma candidatura progressista forte e uma chapa de vereadores sólida. Confira a entrevista na íntegra:
A Crítica: O senhor retornou para Casa de Leis após um período recluso da política. Como foi esse primeiro semestre na Assembleia Legislativa de MS (ALEMS)?
Zeca do PT: Tomei posse, voltei a trabalhar com o foco em três pilares para meu mandato em andamento. O primeiro é a preocupação central com a agricultura familiar, visando apoiar pequenos produtores da reforma agrária, do crédito fundiário, bem como povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, responsáveis pela produção de alimentos para o povo brasileiro. Aqui, como em outras partes do país, a agricultura familiar é responsável por grande parte do suprimento de produtos agrícolas.
O segundo pilar é a qualificação da mão de obra jovem, uma vez que muitas empresas estão se estabelecendo na região devido à rota para o Pacífico, o que promoverá um crescimento significativo no Estado. É fundamental preparar a juventude para aproveitar essas oportunidades.
Por fim, o terceiro pilar é a modernização dos serviços públicos, incluindo saúde, educação e segurança. Voltei ao trabalho com esses objetivos em mente, mas também enfrentei um problema cardíaco devido a um histórico familiar preocupante nesse aspecto. Fui submetido a cirurgias e tratamentos, sendo que o atendimento médico da Cassems, criada durante meu governo, mostrou-se eficiente.
Aos 73 anos, continuei a percorrer o Estado, participando de diversas conferências sobre a Agricultura Familiar, por exemplo. Minha rotina envolve viagens frequentes ao interior, pois nosso desafio é nos preparar para 2024. Apesar dos obstáculos, sinto-me totalmente motivado para continuar trabalhando.
A Crítica: E nesse retorno está se sentindo bem? Enfrentou algum tipo de oposição por parte da oposição?
Zeca do PT: Sinto-me extremamente bem. Depois de quase 30 anos, voltar à Assembleia é uma experiência enriquecedora. Percebo que houve uma qualificação notável não apenas em mim, mas também entre meus colegas deputados. Na Assembleia, testemunho um debate de alta qualidade, onde os deputados discutem economia e política de maneira imparcial, visando o crescimento econômico e o avanço social do nosso Estado. Ao mesmo tempo, essas discussões também refletem questões nacionais, especialmente por meio das comissões permanentes, nas quais sou membro de duas: Meio Ambiente e Agricultura Familiar, que abrangem povos indígenas e quilombolas. As demais comissões estão começando a funcionar efetivamente.
Conversei com o presidente Lula e eu acho que ele vem a Mato Grosso do Sul antes de outubro, devido a uma cirurgia que ele vai fazer. A ideia é ele visitar a ponte sobre o Rio Paraguai, lá em Porto Murtinho.
A Crítica: É evidente que sua posição em relação ao governador Eduardo Riedel sempre foi notável, mesmo antes de sua eleição. Qual panorama atual dessa relação entre o PT e o governador? Recentemente, inclusive, surgiram rumores nos bastidores sobre uma possível postura de oposição de sua parte em relação ao governador. Como você descreveria essa relação neste momento, tanto de Zeca do PT como do próprio partido, com o governo atual?
Zeca do PT: O governador Eduardo Riedel nos procurou em um gesto de humildade e respeito ao PT. Durante nossas negociações, ficou acordada nossa participação no governo, uma vez que a política é intrinsecamente baseada em negociações. Nesse sentido, conseguimos estabelecer a Secretaria Especial da Agricultura Familiar e a Agraer, ambas cruciais para o apoio à agricultura familiar.
O governador tem me surpreendido positivamente, não apenas com sua humildade, mas também com sua sensibilidade política ao dialogar com todas as forças políticas. Ele indicou a importância de identificarmos as demandas e necessidades completas da Agricultura Familiar, e por isso conduzimos 14 conferências no Estado, abrangendo todas as regiões e incluindo os povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Agora, no segundo semestre, estamos trabalhando para sistematizar essas informações e incorporá-las ao orçamento como programas tangíveis, quantificando os recursos para que no próximo ano possamos efetivamente impulsionar o atendimento a esse setor estratégico.
No que diz respeito à nossa relação com o governo, ela tem sido muito positiva. Houve desafios, como a nomeação de cargos estratégicos para a eficácia da Secretaria da Agricultura Familiar e a própria criação dessa secretaria. Entretanto, esses desafios foram superados através de debates sinceros, como deve ser. A vida segue, e continuamos nosso trabalho com uma relação construtiva e produtiva.
A Crítica: Nesta semana ocorreu o lançamento do primeiro projeto de preservação do Pantanal, marcando um passo significativo para a região. Ficou evidente uma participação extremamente ativa dos deputados do PT, com destaque para Vander Loubet e Camila Jara...
Zeca do PT: Exato, na verdade, ele não elaborou um novo projeto, mas tomou medidas cruciais para proteger o Pantanal. O governo suspendeu o desmatamento em andamento, uma ação extremamente necessária e importante para deter a ameaça que estava prejudicando o ecossistema pantaneiro. Foi revogado um decreto que autorizava o desmatamento na região.
Além disso, o governador se comprometeu a formar um grupo de trabalho até a próxima semana. Esse grupo terá a responsabilidade de envolver a sociedade civil, produtores rurais e fazendeiros do Pantanal, bem como os movimentos sociais dedicados à preservação da região. O objetivo é elaborar um novo projeto de lei que seja submetido à Assembleia Legislativa, visando criar políticas que promovam o desenvolvimento sustentável do Pantanal. Esse novo projeto será elaborado com a devida sensibilidade e cuidado para preservar o ecossistema frágil e único que todos reconhecemos e valorizamos.
A Crítica: Certamente, as eleições de 2024 já começam a moldar o cenário político, assim como as eleições municipais anteriores também influenciaram. Um aspecto notável é que o senhor, que estava se posicionando como pré-candidato à Prefeitura de Campo Grande, recentemente anunciou sua retirada dessa corrida eleitoral. O que levou a essa decisão, deputado? Quais foram os motivos que o conduziram a essa escolha?
Zeca do PT: Minha decisão em relação à minha pré-candidatura foi moldada pela observação atenta dos cenários políticos em campo. Desde o início, notei uma diversificação de possíveis candidaturas de direita, incluindo a própria prefeita em busca de votos na ala conservadora, especialmente entre os evangélicos.
Sendo eu uma figura com histórico político e com um posicionamento no campo democrático e de centro-esquerda, decidi manifestar minha pré-candidatura com o intuito de ampliar o diálogo e promover uma aliança mais abrangente. Iniciei conversas com o PDT do Lucas de Lima, o União Brasil da Rose e outros partidos como PV e PC do B, na esperança de unir forças em torno do meu nome. Com minha trajetória de ex-governador e participação em disputas anteriores pela prefeitura de Campo Grande, acreditava que poderia agregar essa unidade.
No entanto, dentro do PT, surgiram pré-candidaturas de Giselle Marques e Camila, assim como de outros movimentos, como o Movimento Negro. Eu saúdo essas iniciativas e vejo como positivas. Diante da pulverização de pré-candidaturas dentro do próprio partido, optei por recuar e concentrar-me em meu mandato, especialmente considerando minha idade, 73 anos. Sinto que posso contribuir de maneira diferente, evitando debates internos ou prévias que o PT possa conduzir.
Acredito que uma candidatura vencedora não depende apenas de um bom candidato, mas também de uma forte chapa de vereadores, alianças políticas sólidas e um programa de governo abrangente.
A Crítica: No passado surgiram comentários sobre o ex-governador Andre Puccinelli "amarelar" em relação ao senhor. Agora, parece que a narrativa mudou, sugerindo que a situação se inverteu, com a possibilidade de que o senhor tenha "amarelado" em relação ao ex-governador, que também é pré-candidato à Prefeitura. Poderia abordar essa mudança de percepção?
Zeca do PT: Não acredito na viabilidade da candidatura do André, sinceramente. Minha perspectiva é que ele lançou sua pré-candidatura como uma forma de avaliar a situação, mas creio que sua inclinação será negociar. Se ele não fechou um acordo com o próprio PSDB, ao menos ocupou um espaço. Na minha opinião, o tempo de André já passou. Sua votação como governador, por exemplo, foi decepcionante. Ele não é ingênuo, e certamente perceberá isso. Acredito que chegou o momento dele de repensar sua posição.