Rayanderson Guerra, Vinicius Neder e Gabriel Vasconcelos | 13 de março de 2023 - 15h00

Dino: Autoridades se dedicaram a 'matar' Marielle no dia seguinte ao crime

Flávio Dino determinou que Polícia Federal entre no caso para tentar encontrar mandante do assassinato da vereadora carioca, ocorrido em 2018

POLÍTICA
Pintura de Marielle Franco é exposta no bairro do Estácio, região central do Rio, local do assassinato. - (Foto: Wilton Júnior / Estadão)

Às vésperas de completar cinco anos sem uma solução, o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi classificado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), na manhã desta segunda-feira (13) como um caso 'do que o Brasil não deve ser'. Dino afirmou ainda que políticos e autoridades do Judiciário se dedicaram a 'matá-la' novamente nos dias seguintes ao crime.

"O que foram os 10 últimos anos da política brasileira? A hegemonia do ódio. Marielle foi assassinada e no dia seguinte políticos e autoridades, inclusive do Poder Judiciário, se dedicaram a matá-la novamente. E até hoje é como se houvesse um homicídio por dia. Esse caso da Marielle serve de referência para o que o Brasil não pode ser, não deve ser", afirmou Dino em um seminário na sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio.

O ministro comparou o atual cenário de polarização e disseminação de desinformação e discurso de ódio à ascensão do nazismo na Europa há 100 anos atrás.

"Só é possível entender esse debate compreendendo que vivemos uma quadra histórica, que é a mesma da Europa de 100 anos atrás, em que a manipulação de afetos é constituinte da luta política, sobretudo com uso do ódio", completou o ministro.

Flávio Dino: "Marielle foi assassinada e no dia seguinte políticos e autoridades, inclusive do Poder Judiciário, se dedicaram a matá-la novamente".

Investigações intensificadas

O ministro determinou que a Polícia Federal (PF) apoie o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) nas investigações dos mandantes do assassinato de Marielle e Anderson. Antes de determinar a abertura de inquérito pela PF, Dino negociou os termos da cooperação federal com o MP do Rio. O governo petista procurou evitar atritos com promotores fluminenses e, ao mesmo tempo, cumprir a promessa de campanha feita por partidos de esquerda de colocar órgãos federais na apuração do caso.

Dino colocou um grupo da PF à disposição do MP do Rio na intenção de dar uma resposta em nível federal às pressões sobre a conclusão da investigação do assassinato da vereadora carioca e não criar uma crise institucional com o órgão estadual.

A decisão foi tomada após encontro entre Dino e o procurador-geral de Justiça fluminense, Luciano Mattos. O inquérito da PF é um caminho alternativo à discussão sobre a federalização do caso. Após os dois se reunirem em Brasília, ficou definido que a PF no Rio vai auxiliar o MP na apuração do mandante do crime, sem que os promotores sejam 'atropelados'.