Gabriel Neri | 01 de abril de 2022 - 17h10

O caminho da Ditadura

Golpe militar de 1964 completa 58 anos nesta sexta-feira

ARTIGO
Gabriel Neri

O mundo vivia um contexto tenso, a Guerra Fria protagonizada pelos Estados Unidos e pela antiga União Soviética influenciava diversos países. O Brasil, mais próximo geograficamente dos EUA, foi o segundo na América do Sul a vivenciar esta situação. Na madrugada entre o dia 31 de março e 1º de abril de 1964, um presidente democraticamente eleito perdeu seu poder para os militares. João Goulart foi o primeiro a sair derrotado de um conflito com motivações duvidosas e medos que nunca se justificaram. 

Antes da nossa Pátria Amada (como se refere o hino), um vizinho do então Estado de Mato Grosso e agora do atual Mato Grosso do Sul, também foi vítima da Operação Condor. Em 1954, o Paraguai foi escolhido como o ‘paciente zero’. Depois veio o Brasil, Argentina (1966), Bolívia (1970), Chile (1973) e Uruguai (1973). A região do cone sul foi atingida totalmente, do salitre chileno, passando pelo chaco paraguaio, montanhas bolivianas às pradarias dos países do Rio da Prata.

Nas prévias do Golpe Militar de 1964 (e não revolução), o país como recorrente em nossa história, estava em instabilidade, econômica e social (Foto: Arquivo)

Nas prévias do Golpe Militar de 1964 (e não revolução), o país como recorrente em nossa história, estava em instabilidade política, econômica e social. Na década anterior, um presidente tinha se suicidado (Getúlio Vargas) e a capital federal saiu do Rio de Janeiro para Brasília. Ainda neste período, chamado de Quarta República, o Brasil, especialmente com o campo-grande Jânio Quadros (o presidente do ‘varre, varre, vassourinha) e João Goulart, teve uma aproximação com nações à esquerda da Guerra Fria. Jânio, para se ter ideia, chegou até a receber Ernesto ‘Che’ Guevara no país.

Porém, Jânio deu o caminho, mas quem provocou os interesses estadunidenses foi o seu sucessor, João Goulart com o Plano Trienal. Esse grande projeto tinha diversos objetivos, entre eles, reformas de base como a agrária e outras políticas sociais tidas como comunistas. Era a deixa para os militares tomarem o poder. Há 58 anos, naquela madrugada, começavam 21 longos anos de nossa história.

Poderia ir a linha óbvia e citar os crimes contra humanidade, torturas, atos institucionais (como o AI-5 que fechou o Congresso Nacional) e outros tantos itens. Mas é preciso olhar de outros contextos. Sermos mais próximos. Trazer novas reflexões. 

Um exercício interessante é imaginar como você se sentiria se alguém tivesse tirado sua liberdade, ferido sua família, te prejudicado ou te causado mal, fosse homenageado? Sem nomear, é provável que tenha pensado em alguém. No caso da Ditadura, os nomes estão nas principais avenidas das cidades, em diversos prédios, monumentos e outros locais tão frequentes em nosso dia a dia.

Usando Campo Grande como exemplo, o Estádio Morenão e toda a Universidade Federal foram feitos nesse período e seguem um padrão de arquitetura da época. Pense no caminho que você faria saindo dessa região para o Aeroporto, por exemplo. Pegaria a COSTA E SILVA, teria a opção de virar à esquerda mais para frente e cruzar ou entrar na ERNESTO GEISEL. Essas são as principais e que estão inerentes ao nosso dia a dia. Nesse caso, foram dois presidentes do período. Mas outras também têm nomes de militares: a Duque de Caxias, a Júlio de Castilho e a Marechal Deodoro. 

Alguns podem ser considerados heróis nacionais e que lutaram pelo Brasil. Mas outros, cometeram crimes imperdoáveis e romperam instituições que nos garantem direitos básicos, além é claro de tirar a vida de tantos. Esses que não devem ser esquecidos, mas que muitos dos culpados já não estão aqui mais para pagar por eles. No entanto, o cimento ou memória que os exalta segue com novas histórias a todo momento. Uma memória que para muitos significa prisão, tortura e morte.

*Gabriel Neri é estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e estagiário no Jornal A Crítica