Mariana Lima e Patrícia Martins | 09 de março de 2022 - 09h35

Mulheres na Política: onde estamos quando se trata de representatividade?

Apesar de representarem mais de 51,8% da população do país e mais de 52% do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda são minoria na política

MULHERES NA POLÍTICA
Vereadora Camila Jara (PT) - (FOTO: Divulgação)

Ambientes dominados por homens, como a política, ciência, economia e outras áreas que envolvem altos cargos, quase nunca são associados ao nome de mulheres. Seja no cenário social ou econômico, muitos direitos já foram conquistados sob muita luta, no entanto, quando se trata de política, a representatividade feminina ainda é um caminho longo a se percorrer. Nesta semana do dia internacional das mulheres, o portal A Crítica conversou com representatividades femininas na política para entender a situação, confira.

Apesar de representarem mais de 51,8% da população do país e mais de 52% do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda são minoria na  política. Em Mato Grosso do Sul, dos 79 municípios, sete cidades não possuem nenhuma vereadora ocupando o cargo. Dados das  últimas eleições municipais de 2020, levantados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostram a baixa representatividade feminina na elite política do país, revelando que a desigualdade de gênero ainda é uma inimiga a ser combatida. 

De acordo com dados do TSE, nas últimas eleições municipais foram eleitas somente 651 prefeitas (12,1%), contra 4.750 prefeitos (87,9%) no Brasil. Já para as câmaras municipais, 9.196 vereadoras foram eleitas (16%), contra 48.265 vereadores (84%).

Como uma demonstração dessa disparidade, a vereadora Camila Jara (PT), eleita com cerca de 3.470 votos em 2020, é a única mulher na Câmara Municipal de Campo Grande e afirma que o sentimento em seu cargo é de constante desafio. “É um desafio muito grande e a gente acaba exercendo a todo momento um papel pedagógico, porque eles não vivenciam a realidade das mulheres, temos que explicar as nossas pautas, o porquê da necessidade de lutar para que metade da população brasileira  esteja representada'', relata a vereadora.

 Jara foi a única mulher eleita vereadora na Câmara. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Também como uma das grandes representantes femininas na política de Mato Grosso do Sul, a deputada federal e atual pré-candidata ao Governo do Estado, Rose Modesto (PSD), afirma que a exclusão da participação de mulheres e a falta de apoio dos partidos configura como uma forma de violência política e que essa sub-representação é uma forma de discriminação, que envolve principalmente a falta de reconhecimento. 

“É uma forma de violência política a falta de apoio de partidos quando uma mulher tenta se candidatar a determinados cargos, por exemplo, somos 52% do eleitorado, mas apenas 15% dos representantes eleitos”, diz Rose

Deputada e atual pré-candidata ao governo de MS, Rose Modesto (PSD). (Foto: Divulgação/Câmara)

Além de deputada, Rose é professora de História formada pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). Iniciou sua carreira política em 2008 como vereadora de Campo Grande. No ano de  2018 foi eleita deputada federal com 120.901 votos, a maior votação proporcional. 

E as mulheres eleitas?

Para as poucas mulheres que superaram as dificuldades de serem eleitas a um cargo político no Brasil,  esse é apenas mais um passo diante de todas as outras dificuldades a serem enfrentadas em um ambiente majoritariamente masculino.

Segundo a Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, Luana Tavares, que também é fundadora do curso Conecta de capacitação para mulheres na liderança política, há os  fatores históricos e a falta de mecanismos que favorecem a inserção das mulheres na política, além de um ambiente fechado tradicionalmente masculino.

“Muitas mulheres têm sua  tripla jornada de trabalho e esses ambientes não estão preparados para inseri-las. Enquanto homens conseguem se articular e fazer alianças políticas uns com os outros, o mesmo não acontece com as mulheres. Quando tem um  ambiente onde nós estamos  apenas com uma  ou duas de nós,  existe um clima de competição ao invés de um clima de apoio”, afirma Luana.

Neste segmento, para a vereadora Jara, existe uma comparação dentro do ambiente político para que as mulheres ao invés de se tornarem parceiras e aliadas, acabem se tornando rivais. “Uma das táticas do machismo estrutural é colocar as mulheres como inimigas, para que elas não possam se juntar e mostrar para a sociedade que juntas conseguimos reivindicar nossos espaços e representar às demais mulheres”.

A baixa participação feminina na política gera consequências que se refletem em outros quesitos além da representatividade, como a construção de políticas públicas, execução de ações que sejam voltadas para a população feminina e outras considerações que afetam diretamente a vida de mulheres.

“Infelizmente, a mulher ainda é alvo de violência política. Se levantamos o tom de voz somos descontroladas. São muitos os constrangimentos, como interrupções nas falas, desmerecimentos, e até violência sexual. Situações que acabam muitas vezes por afastar a mulher da política”, desabafa Rose Modesto.

Para além desta problemática, a ausência de protagonismo feminino em cargos de poder acaba quebrando o debate e as soluções em torno de adversidades que são vivenciadas pelas mulheres do país. 

Vereadora Camila em sessão na Câmara.(Foto: Redes Sociais)

MS caminhando

No estado de Mato Grosso do Sul, a representatividade feminina na política cresceu em comparação às eleições anteriores. Enquanto em 2016 foram eleitas 110 vereadoras, as eleições de 2020 elegeram 164 mulheres para ocuparem as cadeiras das câmaras. O número demonstra um aumento de 58%, porém, dos 79 municípios sul-mato-grossenses, sete cidades não possuem nenhuma vereadora ocupando o cargo, são eles: Aquidauana, Batayporã, Camapuã, Maracaju, Naviraí, Pedro Gomes e Sete Quedas. 

Na ocupação do principal cargo político municipal, das 79 cidades, apenas cinco têm mulheres eleitas prefeitas no Estado. O número representa aproximadamente 6,3% do total eleito para as prefeituras. 

Para tentar mudar este cenário, a deputada Rose Modesto anseia por mais leis e políticas que transformem a realidade das mulheres e de toda a população com sua pré-candidatura ao governo de MS. 

“Volta e meia eu escuto a frase: “Mulher não vota em mulher”. Como assim, gente?! Precisamos nos unir para combater esse tipo de pensamento e todo tipo de violência. Conquistamos o direito ao voto, as cotas de financiamento, o tempo de propaganda, mas ainda há muito a ser feito”, reitera. Rose Modesto lançou sua pré-candidatura no último sábado (05), em Culturama, distrito de Fátima do Sul, onde nasceu e viveu durante sua infância.

 Rose em lançamento da pré-candidatura. (Foto: Divulgação)

Para Camila Jara, as mulheres que sonham em ingressar na política não devem ter medo de ocupar os espaços políticos e devem também trabalhar para que outras consigam alcançar seus lugares. “Esse espaço político é nosso por direito, não devemos ter medo de ocupá-lo. Estar aqui também é entender que quando uma mulher sobe, tem que puxar as outras”, conclui a vereadora.

Dentre os cinco pré-candidatos ao governo de Mato Grosso do Sul, Rose Modesto é a única mulher no posto. Em âmbito nacional, dos 27 estados brasileiros, 14 não possuem nenhuma candidata mulher na disputa eleitoral. Já para as eleições presidenciais, apenas a senadora Simone Tebet (MDB-MS) é pré-candidata à Presidência da República.