Mayara Gabrielle e Patrícia Martins | 01 de novembro de 2021 - 15h30

Atletas sul-mato-grossenses conquistam seu espaço e se mantêm no esporte com bolsa-atleta

Ser contemplado como um dos bolsistas, é o pontapé inicial para realização de um sonho

ATLETAS EM MS
Um dos atletas-bolsistas contemplados - (Foto: Arquivo pessoal)

A vida de atleta é cercada de desafios, além de requerer esforço e dedicação constante. Val Taira, 49 anos, é mãe de três esportistas contemplados pelo Bolsa-atleta, com idades entre 15 e 24 anos e a prova viva de que desistir não é opção. A ampliação de recursos da Fundação de Desporto e Lazer (Fundesporte) para os atletas-sul-matogrossenses facilitou a vida de atletas que lutavam para conquistar ainda mais seu espaço e se manter no esporte.

Val relata que enfrentou dificuldades com os filhos Jhonatan, Erick e Vinícius Taira, que competem através da modalidade karatê desde os oito anos de idade. ‘’Já chegamos a fazer rifas, churrascos beneficentes em prol de viagens para manter meus filhos em alto nível de competições’’. Ela conta que o processo para conseguir a bolsa foi muito disputado devido à quantidade de ótimos atletas no estado que somavam boas pontuações. ‘’E por outro lado, muitos ficaram de fora por competirem somente em âmbito estadual, nunca terem viajado para outros lugares por falta de condições’’.

Jovem acumula medalhas e prêmios das competições (Foto: Reprodução/whatsapp)

Jhonatan Taira começou a competir desde cedo em eventos nacionais e internacionais. Já com 12 anos foi campeão sul-americano e bronze no Pan-americano de Karatê, em seguida acumulou diversos títulos nacionais e internacionais, incentivando os irmãos que logo começaram a almejar grandes conquistas. Erick, o irmão do meio, consagrou-se tri-campeão brasileiro, bi-campeão pan-americano, campeão sul-americano, competidor da categoria internacional e inspirou o mais novo do trio, Vinícius de apenas 15 anos, atualmente bi-campeão brasileiro e bi-campeão brasileiro estudantil, representante da categoria nacional assim como Jhonatan.

 

Filho mais novo de Val foi inspirado pelos irmãos (Foto: Arquivo pessoal)

As bolsas possuem duração de um ano e as responsabilidades do atleta são de representar o estado em todas as competições que ele for usando o logo do estado, o kit composto por duas camisetas, abrigo e mochila mostrando que é bolsista em todos os eventos de participação. E também os de convocação pela Fundesporte para fazer workshop e seminários da modalidade específica a ser representada, é o que garante o presidente do Comitê Gestor da Bolsa Atleta e Bolsa Técnico (Cogeb), Domingos Sávio da Costa.

Domingos também aponta quais são os critérios para um atleta perder a bolsa e se ele consegue recuperá-la em casos como esse. ‘’Se o esportista parou de treinar, mudou de estado ou federação e cometeu alguma infração, ele pode perder a bolsa dentro desse tempo de um ano’’. Ao perder a bolsa, o benefício é repassado para quem está na fila de espera. Caso o atleta que perdeu a bolsa, recebeu apenas três e em seguida foi embora, quem está na sequência esperando recebe o restante até completar as 12 parcelas.

Recuperar não é tão fácil, ele pode ou não ganhar o direito de renovar seus direitos desde que mostre resultados e realize um novo processo seletivo. Para o presidente da Cogeb, não há privilégios.

Com a ampliação dos recursos divulgado no lançamento do MS+ESPORTE, a aplicação de recursos chegará a R$316,7 mil por mês, segundo informações da Consultoria Legislativa do Governo do Estado (Conleg), responsável pela edição do decreto.

O próximo edital está previsto para fevereiro ou março de 2022. As categorias também foram ampliadas e o programa se dividiu em 11 categorias, dentre elas:

Estudantil (121 bolsas de R$ 500);

Universitário (15 bolsas de R$ 950);

Nacional (134 bolsas de R$ 950);

Nacional Paralímpico (28 bolsas de R$ 950);

Máster (11 bolsas de R$ 950);

Pódio Complementar (11 bolsas de R$ 1,2 mil);

Pódio Complementar Paralímpico (13 bolsas de R$ 1,2 mil);

Internacional (13 bolsas de R$ 1,2 mil);

Olímpico e Paralímpico (10 bolsas de R$ 1,4 mil);

Técnico I (19 bolsas de R$ 1 mil);

Técnico II (19 bolsas de R$ 1,5 mil).

A pontuação

 

            

Tabela de pontos

 

Como funciona o processo seletivo

O processo seletivo para os programas Bolsa-atleta e Bolsa-técnico foi realizado de forma online e acessível, sem necessidade do atleta se deslocar para Campo Grande. Com a liberação do edital, coube ao atleta ou técnico anexar a documentação exigida e apresentar os resultados das competições de sua modalidade esportiva no prazo de um ano antes da data de abertura do edital.

O diretor da Fundesporte, Marcelo Ferreira Miranda, ressalta que para garantir a transparência de todo o processo, é liberado o edital, o primeiro resultado, período de recurso, o qual a equipe da Fundesporte analisa, e após esse prazo é publicada a lista final de contemplados. “Esse procedimento é feito para que a gente possa garantir que os melhores atletas e técnicos sejam contemplados por meio dessa iniciativa”.

Marcelo destaca que o Bolsa-atleta, é um dos principais programas de políticas públicas para o esporte em Mato Grosso do Sul, e a Bolsa-técnica é pioneira no Brasil, servindo de modelo para outros estados, inspirando inclusive o Governo Federal a criar uma bolsa nacional nos mesmos moldes.

Mato Grosso do Sul consolidou-se como o primeiro estado do país a conceder auxílio financeiro mensal a professores formadores e treinadores de atletas. Criado em 2017, o Bolsa Técnico é um instrumento de valorização, reconhecimento e motivação a estes profissionais de Educação Física. O programa, concebido pelo Governo do Estado e administrado pela Fundesporte, beneficiará 30 técnicos neste ano.

Dentre as modalidades mais atendidas estão o judô e a natação. Marcelo enfatiza a descentralização das bolsas contempladas antes somente na capital partindo para diversas cidades do interior do estado. Um município que se destaca é Amambaí, em uma escola indígena com quatro bolsistas que treinam na aldeia e são campeões sul-americanos.

Em contrapartida, o esporte menos favorecido é o skate que não obteve nenhuma inscrição para concorrer às bolsas. O presidente da Fundesporte acredita que não houve procura por ser uma modalidade nova que ainda está se organizando e montando sua federação no estado, mas que nas próximas edições da bolsa, terão candidatos e certamente os contemplados.

Nesta edição de 2021, foram apenas 684 inscrições, um número pequeno para todo o estado. Marcelo explica que a quantidade de inscritos está ligada ao imaginário de muitas pessoas acreditarem que o bolsa-atleta e o bolsa-técnico está fora do seu alcance.  “Muitos perdem a chance de concorrer a bolsa achando que não vão conseguir, é importante que as pessoas acreditem que há possibilidade, a bolsa é real, é um recurso que está destinado para isso, a gente quer contemplar o maior número possível de bolsistas, e não há nenhum tipo de favorecimento, o que vale são resultados”.

Marcelo ressalta a importância da organização das federações esportivas, que façam sua parte na divulgação para seus atletas, orientando-os a procurarem a Fundesporte para esclarecer dúvidas e auxiliarem na apuração da documentação exigida. “Quanto mais organizada a federação, maior a possibilidade de atletas daquela modalidade ser contemplado”, completa. A baixa procura também parte pela falta de conhecimento e organização, já que é feita uma ampla divulgação na internet e em veículos de comunicação. É importante haver parceria por meio das federações, tanto na divulgação como na eficácia de fiscalizar e aprovar os melhores atletas.

Amanda Lima Leal, de 21 anos, atleta de wrestling, soube do edital pelo seu professor e relata que antes de receber a bolsa enfrentou complicações financeiras. ‘’Precisei arrumar uns trabalhos para participar das competições. Eu não conseguia focar só nos treinos’’.

 

Amanda em competição de wrestling (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje, ela recebe a categoria nacional e mantém os devidos cuidados com o que consome para manter seu rendimento e garantir a bolsa durante os 12 meses em que é oferecida. Amanda é mais uma das contempladas que persistiu e acreditou no sonho, indo atrás e se informando sobre o processo para conquistar a bolsa. É necessário se dedicar todos os dias para as competições.

Apoio além da bolsa

Convênios estão sendo fechados para oferecer atendimento em diversas áreas aos atletas, como nutrição, fisioterapia, psicologia e educação física. Já existe uma parceria com o Centro de Avaliação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que avalia a performance dos atletas e em breve uma parceria será lançada com escolas do governo, visando oferecer cursos de qualificação para os bolsistas, pensando na inserção no mercado de trabalho. Terão cursos gratuitos, ensino à distância, curso de graduação, pós-graduação e cursos específicos. ‘’Os que não são gratuitos, têm desconto. A vida esportiva precisa preparar esses atletas para o mercado de trabalho também’’, afirma o presidente da Cogeb, Domingos.

Cuidar da alimentação, do descanso e da própria mente, além do incentivo ao esporte por meio de investimentos financeiros, aliado ao estímulo do desenvolvimento profissional e qualificação dos atletas-bolsistas é o que faz a diferença no rendimento e evolução como pessoas e profissionais, para a vida toda.