Dia do veterinário: Conheça Diego Viana, médico-veterinário e pesquisador pantaneiro
A luta em prol da conservação das onças-pintadas e do Pantanal
PANTANALMuito mais do que amar os animais, ser médico veterinário requer agilidade, responsabilidade e até mesmo multidisciplinaridade. São diversas as áreas de atuação desse profissional, e Diego Viana, coordenador há seis anos do Programa Felinos Pantaneiros, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), é a prova disso.
Mestre em Ciências Ambientais e Sustentabilidade, o pesquisador pantaneiro e médico veterinário, é nascido em Corumbá, a 450 km de Campo Grande, e luta bravamente em prol da conservação das onças-pintadas e do Pantanal.
O Instituto Homem Pantaneiro, fundado em 2002, é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que atua na gestão de áreas, conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local e tem como missão “Preservar o Pantanal”. A sede fica em Corumbá.
Diego explica que são realizadas gestões de áreas; de um grande mosaico não formal de unidades de conservação na região da Serra do Amolar que tem o Parque Nacional do Pantanal mato-grossense como o coração da região; conservação de onças-pintadas e pardas; iniciativas de mitigação do conflito entre produção rural e grandes felinos e monitoramento ambiental dos rios Miranda, Aquidauana, Rio da Prata, Perdido e Paraguai.
Em 2014, o médico-veterinário teve a oportunidade de realizar seu primeiro procedimento com uma onça-pintada no Setor de Diagnóstico por Imagem da FAMEZ/UFMS. De lá para cá, o amor - combustível principal que o impulsiona a trabalhar - pelos grandes felídeos, especificamente onça-pintada e a resolução de conflitos com os seres humanos, só foi aumentando, mas a paixão já é antiga e foi motivada pelo contexto familiar.
‘’Até meus 11 anos, eu passava minhas férias na fazenda de um tio da minha mãe, na região de Miranda e vi de perto todo o medo e o impacto das depredações de rebanho bovino. Além disso cresci ouvindo histórias na família do meu pai, relacionadas a onças-pintadas e a relação do meu bisavô com a caça na época que essa atividade ainda era permitida pela legislação Brasileira’’, disse o pesquisador.
Diego Viana pisou pela primeira vez na Serra do Amolar como estagiário em abril de 2012, e hoje, a região é sua segunda casa e o lugar o qual dedica sua vida para proteger. Inclusive, é lá que faz ciência em prol da conservação de onças-pintadas e pardas.
Uma delas é Joujou, considerado símbolo de resistência do pantanal. Após seu resgate em novembro de 2020, com as patas queimadas devido aos incêndios no bioma, o animal voltou a ser visto por pesquisadores na Serra, próximo à Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal.
A espécie está na lista de extinção e vem sendo monitorada há oito meses, através de dados GPS enviados pelo colar que está no animal. Já para visualizá-lo é utilizada uma antena que capta os sinais VHF emitidos também no colar, além de ser respeitada a distância de no mínimo 15 metros da onça. Semanalmente esses dados são analisados para avaliar a eficácia do processo de readaptação do animal, e mensalmente, as buscas são feitas nas áreas onde o animal está, com o objetivo de observá-lo.
Desde 2016 os felinos são monitorados com armadilhas fotográficas por meio de sensores de movimento. ‘’Dessa forma avaliamos diversos aspectos ecológicos das onças e suas presas. Temos o intuito de monitorar mais animais para entender com detalhes como as onças utilizam nossas áreas de estudos’’, aponta.
O Pantanal resiste
Joujou foi um dos poucos sobreviventes em meio a pelo menos 20 mil animais mortos nos incêndios do Pantanal no ano passado, conforme estudo feito pelo Grupo de Estudos em Vida Silvestre. A catástrofe afetou a biodiversidade do local, já que mais de 19% do Pantanal queimou.
Um outro caso marcante para Diego foi o resgate de uma anta durante os incêndios na Serra do Amolar em 2020. A operação transportou o animal de mais de 200 kg em um helicóptero. ‘’O que me marcou também foi o envolvimento da comunidade da Serra do Amolar, de uma brigada indígena do Prevfogo IBAMA, além da Marinha e apoio técnico e logístico de outros pesquisadores’’, lembra. A soma de esforços que fez com que a operação de resgate fosse bem sucedida.
Acompanhe o vídeo que mostra o momento do resgate no helicóptero:
Agora em 2021, a temporada de queimadas volta a acometer a região. Segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), o tempo seco tem piorado a situação do fogo no bioma e o Mato Grosso do Sul é o estado mais atingido pelos incêndios nesse período, com mais de 15 mil focos e cerca de 77.353 hectares queimados.
Dentro desse contexto, a críse hídrica implica no combate ao fogo. A baixa nos rios agrava o problema já que a diminuição dos níveis de água, impacta diretamente no momento dos brigadistas e bombeiros combaterem o fogo, pois precisam se deslocar grandes distâncias para conseguir água e conter os focos em regiões inacessíveis e remotas no Pantanal.
Contudo, medidas já estão sendo implementadas visando minimizar os riscos de maiores incêndios no local com a atuação de brigadas permanentes e comunitárias, além do alinhamento entre todas as instituições que agem nessas situações, dando continuidade aos trabalhos de prevenção e antecipação de crise, cuja finalidade é assegurar a proteção das espécies e lugares especiais de sobrevidas.
O Pantanal queima na maioria das vezes, por ações humanas, provocando um cenário de filme de terror. Pessoas perdem casas, alimentos, animais morrem queimados e os sobreviventes lutam para resistir em um habitat que sofre com os impactos da relação conflituosa entre o homem e a natureza.
Apesar dos momentos críticos vividos nessa guerra ambiental, Diego Viana segue resiliente mas afirma que é difícil ver o lugar sendo tão desrespeitado e destruído a cada dia, em suas postagens nas redes. ''Sempre saímos mais fortes das adversidades, aprendi isso com grandes conservacionistas e veterinários que convivi e convivo até hoje. Porém, precisamos assumir a responsabilidade, reconhecer a necessidade de mudança de antigos hábitos e principalmente querer sair da inércia e do discurso conformista que impera no Pantanal.''
Como se tornar um voluntário
Segundo Diego, é importante primeiro saber que o clima no pantanal é bem hostil climaticamente falando, há dias com temperaturas superiores a 40 graus, mosquitos e mutucas. ‘’A pessoa tem de estar preparada para conseguir desenvolver atividades no Pantanal. O caminho para conseguir ser voluntário é procurar as instituições que realizam ações de conservação na região e estar preparado para as dificuldades’’, afirma.
Deseja ajudar o Pantanal? Entre em contato através do e-mail: faleconosco@institutohomempantaneiro.org.br ou acesse o site para mais informações.
Nesse dia do veterinário, Diego é um verdadeiro exemplo de profissional apaixonado pelo que faz e pelas vidas dos animais que resgata, preserva e cuida. Questionado sobre que legado quer perpetuar com sua profissão, o profissional é categórico: ‘’A humanidade consciente da importância da conservação da fauna e flora para a manutenção da nossa espécie no planeta Terra’’. O Pantanal é vida em abundância e merece respeito!