Morris Fabiana | 21 de agosto de 2021 - 11h11

#CGFaz122: Lídia Baís se torna inspiração para história em quadrinhos de artista paulistano

O projeto que carrega referências da Morada dos Baís e da artista ganhou vida e foi distribuído para as redes públicas, como forma de apoiar a cultura local

ARTE DO MS
Revolucionária, louca, a frente de seu tempo, artista plástica e pequenina, essa facilmente poderia ser Frida Kahlo, mas é Lídia Baís - (Foto: Reprodução)

Sendo uma personagem que resiste ao tempo e às circunstâncias, a vida de Lídia Baís é inspiração para uma história em quadrinhos. O projeto que carrega referências da Morada dos Baís e da artista ganhou vida e foi distribuído para as redes públicas, como forma de apoiar a cultura local.     

Revolucionária, louca, a frente de seu tempo, artista plástica e pequenina, essa facilmente poderia ser Frida Kahlo, mas é Lídia Baís. Uma das primeiras campo-grandenses, nascida um ano depois do surgimento da nossa Capital. Pertencente a uma das famílias mais influentes da região e confiante o bastante para dizer que eles ficariam conhecidos não pelos seus feitos, mas pelas obras dela.  

Em 2017, o quadrinista, Fábio Quill, veio criar raízes em Campo Grande e sem saber da relevância de Lídia, foi à Morada dos Baís fazer um tour, a fim de conhecer locais importantes de sua nova casa. Ele conta que ficou em choque quando chegou ao predio. “ Em 2012, eu fui ao México e visitei a Casa Azul, morada da Frida Kahlo. Só depois de cinco anos, conheci a casa de Lídia. Para mim, isso foi como um soco no estômago. Os dois locais possuem objetos pessoais das artistas e obras do seu cotidiano. Eu me questionei, porque eu me desdobrei para ir no México e chegando em Campo Grande eu não conhecia a Lídia? Porque esta mulher não é conhecida? O que aconteceu para que sua história, tão incrível, tenha sido apagada?”, relembrou.

Passou a infância dividida entre Campo Grande e colégios internos - (Foto: Fabio Quill)

Lídia viveu uma vida livre e para uma mulher da sua época, este ato era a mais pura rebeldia. Passou a infância dividida entre Campo Grande e colégios internos. Quando mais velha, sentiu que aqui era pequeno demais para sua grandeza e fugiu para o Rio de Janeiro, sem dinheiro e sozinha. Seu foco era estudar na Academia de Belas Artes, e assim, foi.

Nesta jornada de autoconhecimento, Lídia passou por várias religiões, expressões artísticas e foi internada em alas psiquiátricas por ser considerada instável, mas conseguiu fazer sua primeira exposição no Rio de Janeiro, durante 10 dias. Depois, escreveu um livro, compôs músicas, pintou paredes, quadros, voltou para casa e foi embora  por diversas vezes, mas seu fim foi aqui. Ela morreu aos 85 anos, com dezenas de obras perdidas no tempo e 25 quadros restaurados. 

Fábio Quill, explicou que durante um bom tempo a história da artista ficou martelando em sua cabeça. “O incômodo foi só crescendo. Através de conversas com os moradores vi que a pergunta sobre, qual é o lugar de Lídia na história? Não era uma questão só minha e percebi que tudo isso poderia dar uma boa narrativa em quadrinhos”, contou. 

Em busca de respostas para si próprio e talvez mudar um pouco essa realidade, o artista produziu a HQ A Casa Baís tendo a personagem principal inspirada em Lídia. Ela não possui nome e permite que qualquer um se identifique com sua história, cheia de diálogos, reflexões e resistência. Dando um gostinho de como poderia ser viver como Lídia e matando a saudade da nossa Morada. 

 Capa da HQ A Casa Baís - (Foto: Fabio Quill)

A casa em que a artista morou grande parte da vida, se tornou seu museu e por si só, o local é uma obra de arte, não de Lídia, mas do  engenheiro João Pandiá Calógeras e Bernardo Baís. O prédio foi construído entre os anos de 1913 e 1918, sendo o primeiro sobrado da Avenida Afonso Pena e o primeiro em alvenaria de tijolos da cidade. Foi a casa da família Baís, pensão, casas lotéricas, sapatarias e deu frutos a muitos, com seu grande pomar, que ocupava toda a quadra vizinha. Além disso, passou por dois incêndios, degradação, abandono e mesmo assim as pinturas de Lídia, que compõem as paredes no local, resistiram, assim como a sua história.

Antes da pandemia, o local nos permitia um misto de sensações. Com música, culinária e museu, o espaço era como a casa dos artistas. Com o início da quarentena, a Morada precisou ser fechada e hoje passa por uma reforma para retornar à prefeitura. O Serviço Social do Comércio (SESC) foi o responsável pelo local durante seis anos, organizou mais de 900 apresentações e anunciou no começo do ano, que devolveria a diretoria do espaço à Capital. A prefeitura informou que a reforma ainda não tem previsão de término, mas que quando for concluída, o objetivo é retomar com as mesmas atividades que o Sesc realizava.

Com música, culinária e museu, o espaço era como a casa dos artistas - ( Foto: Reprodução/ SESC)

A HQ, A casa Baís, foi selecionada em edital da Prefeitura Municipal de Campo Grande e financiado pelo Fundo Municipal de Investimentos Culturais (FMIC 2019), realizado por meio da Secretaria de Cultura e Turismo - Secturprojeto. Além disso, foi distribuída para professores como uma forma de levar a história da Lídia para dentro das escolas, incentivar à leitura e propagar o conhecimento cultural.   

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