Geliel Oliveira | 20 de agosto de 2021 - 11h20

Em ato de desespero, filhos são entregues a militares no aeroporto de Cabul, no Afeganistão

As imagens divulgadas pela ONG Rise to Peace nas redes sociais, mostram crianças sendo transportadas em meio a multidão

TALIBÃ x AFEGANISTÃO
Tropas dos EUA pegam criança por cima de cerca - (Foto: Divulgação)

Diversas imagens de desespero no aeroporto de Cabul que circulam pelas redes sociais, viralizam na internet desde a última terça-feira (17). A tomada do Afeganistão pelo grupo terrorista Talibã, que prega a imposição da sharia (lei islâmica), tem forçado pessoas a sair do País, e em algumas ocasiões até entregarem seus filhos para militares nos arredores do aeroporto pedindo por salvação.

As imagens divulgadas pela ONG Rise to Peace nas redes sociais, mostram crianças sendo transportadas em meio a multidão até chegarem a soldados posicionados atrás de muros. Em entrevista à Reuters nesta quinta-feira, o secretário de Defesa, Ben Wallace, alertou que não é possível remover menores desacompanhados do país. “Não podemos simplesmente levar um menor por conta própria. A criança foi levada porque a família também será levada“, afirmou Wallace.

Em outras imagens é possível acompanhar também uma mulher que se apresenta com uma pasta de documentos que comprovariam a permissão para que ela deixasse o país. Aproximadamente sete mil militares norte-americanos continuam no local para garantir o acesso dos que querem sair do Afeganistão ao aeroporto.

Ao jornal britânico The Independent, um paraquedista do Exército do Reino Unido, cuja identidade não foi revelada, descreveu o clima em que as pessoas se encontravam. “Elas gritavam ‘salve meu bebê’ e jogaram os bebês em nós, alguns deles caíram no arame farpado. Foi horrível o que aconteceu. Ao final da noite, não havia nenhum homem entre nós que não estivesse chorando”, lamentou.

Ao decorrer dos fatos durante a semana, pelo menos sete pessoas morreram pisoteadas, vítimas de disparos de armas de fogo ou caindo de aviões que decolaram rumo aos Estados Unidos. Investigações estão em curso para identificar também os corpos de restos mortais humanos encontrados no trem de pouso da aeronave militar que deixou o país.

Contexto - Em 2001, o Talibã teve participação direta no atentado de 11 de setembro contra o World Trade Center, nos Estados Unidos, quando as Torres Gêmeas foram derrubadas por aeronaves interceptadas pelos terroristas da Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden. Na época, os talibãs foram acusados de protegê-lo e escondê-lo.

A consequência disso tudo foi a invasão do Afeganistão por tropas americanas, que lá permaneceram por quase 20 anos. Durante esse tempo, o país foi palco de guerras, que culminaram na morte de milhares de pessoas (civis e militares) e custaram bilhões de dólares aos EUA.

Em 2011, Bin Laden foi capturado pelo governo americano e executado no Paquistão.  Com a morte do líder da Al-Qaeda, durante o governo Barack Obama, alguns prazos foram estipulados para a saída dos militares americanos do Afeganistão.

Em fevereiro de 2020, Donald Trump (então presidente dos EUA) assinou um acordo que previa a retirada completa das tropas do território afegão em 14 meses. No mesmo ano, após eleito, o atual presidente, Joe Biden, prometeu evacuar os militares restantes até o 20º aniversário do atentado às Torres Gêmeas. Essa ação iniciou-se em maio deste ano.

Com esse movimento, já era esperado pela comunidade internacional um avanço das forças talibãs para recuperar o poder. Eles começaram dominando todas as cidades grandes, até darem seu "cheque-mate" na capital. Após o ocorrido, o presidente do Afeganistão, Asharaf Ghani fugiu do País e se exilou nos Emirados Árabes Unidos. Em entrevista coletiva na última quarta-feira (18), ele alegou que deixou o país para evitar um "banho de sangue" e que uma grande tragédia acontecesse depois do Talibã tomar a capital Cabul. 

"Se eu tivesse ficado, estaria testemunhando um derramamento de sangue em Cabul", afirmou Ghani. "Estou realizando consultadas aos outros até que possa voltar para continuar com meus esforços por justiça aos afegãos", continuou.

Com o Talibã no poder, e se for como foi nos anos 1990, a população vai enfrentar uma deterioração das liberdades civis, especialmente para mulheres e meninas cujas liberdades foram ampliadas no governo civil.

Grupos terroristas também podem se reconstituir em breve. Em um briefing para senadores na manhã de domingo, o presidente do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, disse que grupos terroristas como a Al-Qaeda poderiam se reestruturar no Afeganistão antes dos dois anos que as autoridades de defesa haviam estimado anteriormente para o Congresso por causa da recente e rápida tomada do país pelo Talibã, segundo um assessor do Senado que ouviu os comentários.

A situação pode resultar em uma crescente ameaça de terrorismo, justamente quando se aproxima o 20º aniversário do 11 de setembro de 2001, os ataques da Al-Qaeda ao World Trade Center, em Nova York.