Para a persistente Jonice Siebert, o TJMS foi uma extensão de sua vida pessoal
Ela conta, com saudade e o coração cheio de gratidão, um pouco do que viveu ao longo de 31 anos de atividade
TRAJETÓRIAForam 11.373 dias trabalhados no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul. Aposentada recentemente, Jonice Lemos de Souza Siebert entrou no TJMS ainda solteira, aos 24 anos, e casou um pouco depois. Hoje, com os filhos prestes a se casarem, ela conta, com saudade e o coração cheio de gratidão, um pouco do que viveu ao longo de 31 anos de atividade, onde, além da família e da vida religiosa, o Poder Judiciário representou para ela uma extensão de sua vida pessoal.
"Eu acredito que um trabalho é válido quando é desempenhado em favor do próximo. A espiritualidade é muito presente em minha vida, então eu sempre busquei levar uma palavra amiga para um colega e fiz amizades que perpetuaram. Muitas pessoas com quem convivi deixaram marcas em minha história e são meus amigos até hoje", divide Jonice.
Foi por indicação de uma amiga, aliás, que no ano de 1985 ela foi contratada como auxiliar judiciário para atuar no cartório de protesto do antigo Fórum na Avenida Fernando Correa da Costa. De lá, seguiu para o TJ trabalhando na Secretaria Judiciária de 1988 a 1992, onde iniciou no Departamento Judiciário Cível, o Dejuci. No setor, ela fazia o serviço burocrático de cartório, datilografando as decisões em fichas que eram anexadas aos autos. Ela lembra que eles confeccionavam também as etiquetas dos processos. Era um tempo sem muitas ferramentas tecnológicas.
Nesse período ela foi mãe do seu primogênito, Vinícius, em 1989, hoje médico. E, em 1991, nasceu sua caçula, que escolheu o Direito como profissão. Com dois filhos pequenos, ela recorda que passou por uma situação difícil nessa época. Seu marido, que trabalhava em uma multinacional, foi demitido e a oportunidade de ingressar no Tribunal por meio de concurso e garantir uma estabilidade para a família precisou ser adiada, pois as provas ocorreram quando sua bebê tinha entre 1 e 2 dias de vida.
Quando retornou de licença maternidade, em 1992, coincidiu com a decisão do Tribunal de Justiça de dispensar os servidores comissionados e ela fazia parte dessa lista. Jonice foi então conversar diretamente com o Presidente, o Desembargador Milton Malulei, e pedir uma oportunidade de permanecer no Judiciário, contando a situação da sua família. A ousadia deu certo e ela voltou para o Fórum de Campo Grande, atuando na 5ª Vara Cível, passando também pela Vara de Execução Penal e de Fazenda Pública.
Além de permanecer no emprego, foi nessa época que o Desembargador Milton Malulei criou a creche do TJ, e sua filha pode usufruir do espaço até os 5 anos de idade. "Eu tenho muitas fotos dela na creche até hoje, era muito bom, a Isabela se alfabetizou lá".
Boas lembranças desse período ela também tem do convívio com o então Juiz Francisco Gerardo de Souza, que na Vara de Execução Penal atendia muitas mulheres dos presos com dificuldades financeiras. "Ele se comovia com as histórias delas. Aquilo me marcou muito, ele era um juiz tão humano, um exemplo de homem bom e eu achava bonito da parte dele".
Mas lidar com a rotina de processos crime era um pouco pesado para Jonice e ela foi trabalhar na Vara da Fazenda Pública. Lá ficou até ser dispensada em 1998, numa outra leva de demissões de comissionados. E, dessa vez, foi mesmo desligada.
Claro que Jonice não desistiu de continuar sua carreira no Poder Judiciário. Sendo assim, estudou e prestou concurso para agente de serviços gerais, com receio de não ser aprovada em um cargo de maior concorrência. Aprovada, voltou à casa em 2001 e trabalhou na copa por seis meses. E logo toda sua experiência a fez retornar para a Secretaria Judiciária no ano de 2002. No Dejuci novamente, recorda que agora sim existiam os primeiros computadores e as antigas máquinas de datilografia deram lugar às elétricas. "Fiz curso de computador e fui trabalhar no setor de Registros e Debates, onde cada servidor usava um fone de ouvido para escutar as gravações das sessões de julgamento e transcrever tudo para o computador".
Deixando a Judiciária em 2005, foi convidada para atuar na Gestão de Pessoal. "Eu trabalhava como secretária imediata da diretora da Secretaria, mas não no papel, meu salário continuava de Agente de Serviços Gerais, com remuneração baixa. Nessa época meu filho passou em medicina em Cuiabá. Como não tínhamos condições de mantê-lo, fomos tentar uma bolsa no Bionatus, embora o dono de lá não concedesse bolsas".
Foi então que mais uma vez Jonice precisou ser audaciosa. Ela imprimiu seu holerite e apresentou ao proprietário do cursinho pré-vestibular. "Acho que meu salário era praticamente o valor da mensalidade, mas o Vinícus conseguiu uma oportunidade para trabalhar como monitor, o que gerou um desconto de 50%". O esforço valeu a pena mais uma vez: o filho passou na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), além de faculdades de medicina do interior de São Paulo e de Londrina, no Paraná.
Por essa época foi também que Jonice conseguiu ascender ao posto de síndica do recém-inaugurado Juizado Central, no ano 2008, e depois sua coordenadoria. Foram sete anos no cargo e, em março de 2015, retornou ao Fórum de Campo Grande, onde passou seus últimos anos antes de se aposentar em dezembro de 2019.
"Eu só tenho gratidão do Judiciário. Graças a ele consegui formar meus filhos que são meu maior orgulho. Sinto muita falta da convivência com as pessoas. Fiz de tudo também para ajudar quem precisou de mim e para me reconciliar com quem precisei. Sobre minha trajetória, eu defino que sempre tive muita audácia, essa é uma característica minha. Não tenho medo de pedir. Foi no Judiciário que conquistei amadurecimento e responsabilidade. Me sinto feliz por ter escolhido ele como minha profissão e meus filhos sempre tiveram orgulho de mim. Hoje só lembro de coisas boas e sinto saudades que me façam, quem sabe, até mesmo voltar".