Luís Eduardo Leal | 05 de agosto de 2021 - 16h50

Ações da Petrobras impedem queda forte no fechamento do Ibovespa

"Não fosse Petrobras, teria sido pior", diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch

ECONOMIA
Ações da Petrobras impedem queda forte no fechamento do Ibovespa - (Foto: Estadão)

O Ibovespa perdeu força no período da tarde desta quinta-feira, migrando de ganhos para perdas no dia, com a relativa satisfação decorrente de endurecimento do viés do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a inflação, no comunicado da quarta à noite, dando lugar à retomada de temores sobre a situação fiscal, com a proposição de novo Refis em que empresas e mesmo pessoas físicas poderão utilizar precatórios federais, próprios ou de terceiros, para amortizar o saldo devedor remanescente. O parecer do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) foi interpretado como um pacote de coloração pouco fiscalista, no momento em que o governo busca ganhar tração, com as urnas de 2022 adiante.

Depois do "devo, não nego, pago quando puder", do ministro Paulo Guedes (Economia), e da insistência do presidente Jair Bolsonaro em elevar o Bolsa Família a R$ 400, mesmo ante resistência da equipe econômica a tal valor, a conjugação de parcelamento de precatórios com ampliação de programa social visando à reeleição tem ferido a confiança do mercado.

Assim, o forte balanço e a sinalização da Petrobras (ON +9,63%, PN +7,88%) sobre dividendos foram o que impediu nesta quinta o Ibovespa de mergulhar em correção mais intensa. No fechamento, o índice da B3 mostrava baixa de 0,14%, a 121.632,92 pontos, entre mínima de 121.128,39 e máxima de 123.540,76, com giro financeiro reforçado nesta quinta-feira, a R$ 42,0 bilhões.

"Não fosse Petrobras, teria sido pior - e no momento em que grandes empresas de energia e de commodities, como Rio Tinto, Glencore, entre outras, têm batido estimativas. Não conseguimos acompanhar o sentimento positivo do exterior, com percepção de risco sobre Brasil que tem afetado a precificação de ativos do País. O que está provocando isso é a reeleição de Bolsonaro: com a popularidade que ele tem hoje, a reeleição não cabe no fiscal. Tão simples quanto isso, o que se reflete em prêmios de risco em todo tipo de ativo brasileiro", diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, chamando atenção também para o câmbio.

Assim, mesmo que o mercado tenha mostrado a princípio alguma satisfação com o comunicado do Copom - ainda que em parte se pense que o BC, atrás da curva, corre agora contra o tempo -, o dia foi de depreciação do real, mesmo ante a estabilidade do DXY, índice que contrapõe a moeda americana a referências como euro, iene e libra. Aqui, o dólar à vista fechou em alta de 0,57%, a R$ 5,2156, tendo chegado na máxima do dia aos R$ 5,2261, saindo de mínima, pela manhã, a R$ 5,1113.

"Conforme amplamente esperado, o aumento da Selic ficou em 1 ponto porcentual, e o comunicado mais duro também se confirmou, com indicação sobre elevação do patamar de juros acima do nível considerado neutro, para ancorar as expectativas inflacionárias. Até o fim do ano, esperamos Selic a 7,5%", diz Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.

"O Copom está relativamente atrasado - ou seja, atrás da curva - para manter a inflação sob controle e, por isso, precisa realizar uma normalização mais acelerada da Selic, o que já começou após a última reunião e deve se estender, nas próximas decisões, fazendo com que a taxa de juros suba para um patamar próximo de 8%", diz Paloma Brum, economista e analista da Toro Investimentos.

Passado o Copom, a situação fiscal permanece no foco do mercado, e o parecer protocolado nesta quinta pelo senador Fernando Bezerra para novo Refis não contribuiu para melhorar o humor do investidor, resultando na virada no câmbio e em ajuste nos juros, que foram às máximas do dia com a divulgação da proposta, trazendo o Ibovespa para terreno negativo. Na semana e no mês, o índice da B3 recua agora 0,14%, colocando os ganhos do ano a 2,20%.

Mesmo com os sinais de Selic mais encorpada ao longo deste segundo semestre, as ações de bancos, em meio a uma temporada em geral favorável de resultados trimestrais, estiveram entre as perdedoras do dia, com destaque para Bradesco ON (-1,68%) e BB ON (-1,78%). Vale ON (-3,06%) e as ações de siderurgia (CSN ON -3,96%) reagiram à queda pronunciada, de 6,61%, no minério de ferro em Qingdao, a US$ 171,55 por tonelada, pressionado pelos sinais de que a China deve ampliar restrições sobre a produção de aço, em um quadro de piora da demanda.

Assim, Bradespar (-5,11%), que tem participação no capital da Vale, segurou a ponta negativa do Ibovespa, à frente de Braskem (-4,17%) e CSN (-3,96%). No lado oposto, além de Petrobras ON (+9,63%) e PN (+7,88%), destaque também nesta quinta-feira para Magazine Luiza (+2,51%) e Totvs (+1,81%).