Carlos Ferreira | 13 de julho de 2021 - 15h30

Estudo aponta que antas estão sendo contaminadas por agrotóxicos em MS

A detecção de agentes tóxicos em amostras confirma que as antas estão expostas a essas substâncias no ambiente que habitam, por contato direto com as plantas, solo e água contaminados

CERRADO DE MS
A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar - (Foto: Divulgação)

Um estudo indica que as antas do Cerrado do Mato Grosso do Sul estão sendo contaminadas por pesticidas diversos e perigosos. O artigo publicado na Revista Wildlife Research [U1], traz um relatório detalhado da detecção de pesticidas e metais pesados nas antas. De todas as antas avaliadas, 41% delas testaram positivo para este ou mais produtos químicos.

A detecção de agentes tóxicos em amostras confirma que as antas estão expostas a essas substâncias no ambiente que habitam, por contato direto com as plantas, solo e água contaminados. A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar. A fonte do aldicarbe é desconhecida, mas a ausência de evidência visual de ingestão de aldicarbe sugere que a exposição não está ocorrendo por meio de iscas envenenadas (muitas vezes utilizadas), mas possivelmente após aplicação deste veneno em campos agrícolas por pulverização, a forma de aplicação de agrotóxicos mais utilizada no estado.

"Isso é assustador e prejudicial e não sabemos ainda os efeitos colaterais para esses bichos. É como se as antas se alimentassem de veneno um pouco a cada dia, alimentando uma bomba-relógio em seu próprio corpo. Essa falta de conhecimento sobre a saúde da anta é um grande obstáculo para um planejamento adequado ações de conservação", alerta a coordenadora da INCAB e uma das autoras do artigo, Patrícia Medici.

As antas estão sendo contaminadas

Estudos da Universidade de São Paulo (USP) demonstraram que a cultura que mais utiliza a pulverização aérea como forma de aplicação de agrotóxicos é a de cana-de-açúcar. Na região avaliada pela INCAB, os plantios de cana-de-açúcar se espalham por um recorte de paisagem de aproximadamente 2.200 km² nos municípios de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina. Da mesma forma, as substâncias mais aplicadas por meio da pulverização aérea são os inseticidas.

Além do aldicarbe, organofosforados - diazinon, malathion e mevinphos também foram encontrados nas patas dos animais. As substâncias podem tornar as antas mais vulneráveis a infecções e doenças, afetando adversamente sua saúde e sobrevivência.

"Já está claro que a agricultura em grande escala no Cerrado brasileiro está resultando em pesticidas e exposição a metais em concentrações que excedem a segurança ambiental e pode causar efeitos adversos à saúde das antas e, talvez, de outros animais. Precisamos olhar com mais seriedade para essa questão que afeta os animais silvestres e as vidas humanas. É inadmissível a utilização de agrotóxicos sem critérios e sem fiscalização", conclui Patrícia.