Bruno Villas Bôas | 03 de julho de 2021 - 11h51

Manifestantes vão às ruas no Rio, Recife e outras capitais por impeachment de Bolsonaro; acompanhe

Protestos são organizados por centrais sindicais e movimentos sociais, são esperados atos em mais de 250 cidades no Brasil e no exterior

IMPEACHMENT
Homem participa de protesto pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, neste sábado 3 de julho de 2021 - (Foto: REUTERS/Pilar Olivares )

Após semanas agitadas por suspeitas de corrupção no governo federal, manifestantes voltam às ruas neste sábado, 3, em atos em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro e no Recife. Também há registro de atos nesta manhã em outras capitais do Nordeste, como Teresina, Maceió e São Luís. De acordo com os organizadores, ao menos 261 cidades no Brasil e no exterior devem registrar protestos contra o presidente. Os atos deste sábado receberam o nome de "3JForaBolsonaro".

Nos últimos dois meses, esta é a terceira manifestação organizada por opositores do governo com atos programados em centenas de cidades do País; o primeiro foi em 29 de maio e o segundo, em 19 de junho. Além do impeachment, os manifestantes pedem a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população. Este é o primeiro ato após o pedido unificado de impeachment, protocolado na Câmara dos Deputados na quarta-feira, 30.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, milhares de manifestantes iniciaram por volta das 11h uma caminhada pela Avenida Presidente Vargas, principal via da região central da capital fluminense, que está parcialmente fechada. 

Com palavras de ordem, faixas e gritos de "fora, Bolsonaro", o protesto faz críticas à condução do governo no enfrentamento da pandemia. Mas também traz uma pauta diversificada, com demandas sociais e econômicas, inclusive contra a privatização da Eletrobrás e da Cedae, a companhia de saneamento do Estado do Rio. Nenhuma ocorrência foi registrada até o momento.

Nos trios elétricos dos organizadores, oradores se revezam com críticas ao presidente. Uma das vozes ouvidas foi da cantora de samba Teresa Cristina.

"É uma pena que a gente esteja passando por isso. Esse presidente é sujo, é muito corrupto", gritou a cantora. Ela cantou o samba enredo da Mangueira "Pra Ninar Gente Grande", que ataca narrativas históricas oficiais.

Uma das manifestantes é a publicitária Malu Ibarra, 56, moradora da zona sul do Rio. Ela afirma que participou de todas as grandes manifestações na cidade desde as Diretas Já, que mobilizou cerca de um milhão de pessoas em comício na Avenida Presidente Vargas, em 1984. Para ela, o governo Bolsonaro é o pior desde o golpe militar.

"Estou aqui, em primeiro lugar, para fortalecer a democracia. Estou aqui também a pedindo a saída do Bolsonaro ou tentando esvaziá-lo para que não se mantenha no poder na próxima eleição", disse a publicitária. Ela disse que optou por anular seu voto  na eleição presidencial passada.

A grande maioria das pessoas presentes usa máscara. Durante a caminhada, os manifestantes buscam manter distanciamento. A aglomeração é maior no entorno do principal carro de som.

O movimento tem apoio de partidos de oposição ao governo, como PT, PDT, PCdoB, Psol, PCB. Centrais sindicais também estão presentes, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Os participantes exibem ainda cartazes e faixa em referência a diversos movimentos, como negro, feminista e LGBT.

Um grande boneco inflável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi montado na manifestação, com uma faixa "Lula livre" e uma máscara de proteção no rosto. Guardas municipais e policiais militares acompanham o protesto e orientam o trânsito na região. Nenhuma ocorrência foi registrada até o momento.

A partir das 13h, a Cinelândia deve concentrar novos atos na capital fluminense.

Recife

No Recife, centenas de pessoas participam do ato deste sábado. Movimentos sociais e militâncias de partidos de esquerda marcam presença expressiva, mas, diferentemente do protesto do dia 19 de junho na capital pernambucana, muitos idosos, famílias e crianças participam do ato.

Centenas de manifestantes pedem o impeachment do presidente Bolsonaro no Recife. Foto: Pedro Jordão/Estadão

Poucos carros de som conduzem a multidão, que, em sua maioria, caminha sob gritos de "fora, Bolsonaro" e "genocida", bem como o som de batucadas de percussão. A maior parte das pessoas veste vermelho, preto (com alguma referência ao luto pelos mais de 522 mil mortos pela covid-19 no País) ou as cores da bandeira do Brasil.

Em comparação aos dois protestos anteriores na capital pernambucana, há um registro maior no número de cartazes que pedem explicitamente o impeachment do presidente. Há também outros que citam crime de prevaricação, corrupção e a CPI da Covid.

Políticos de oposição ao governo Bolsonaro, como o senador Humberto Costa (PT) — membro da CPI — marcam presença no ato. Em alguns momentos, manifestantes puxam o canto "olê-olê-olá, Lula, Lula", em referência ao ex-presidente petista.

Maceió

Em Maceió, devido às fortes chuvas que caíram na cidade nos últimos dias, o número de manifestantes foi muito menor do que o registrado no ato do dia 19 de junho. A Polícia Militar não divulgou estimativa quanto ao número de participantes do ato.

As centenas de manifestantes presentes gritavam palavras de ordem como "Bolsonaro genocida" e "fora, Bolsonaro", os manifestantes percorreram as ruas da capital empunhando faixas e cartazes. O ato também fez referência às suspeitas de corrupção na compra de vacinas, alvo de investigação por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da CPI da Covid.

D evido às fortes chuvas que caíram na cidade nos últimos dias, o número de manifestantes foi menor do que o registrado no ato do dia 19 de junho. Foto: Carlos Nealdo/Estadão

São Luís

 Na capital maranhense, os manifestantes ocuparam a Praça Deodoro, região central de São Luís, na manhã deste sábado. Eles pediam o impeachment do presidente Bolsonaro, e a manutenção do auxílio emergencial no valor de R$ 600,00.

“Mais uma vez, viemos pedir a manutenção do auxílio emergencial até o fim da pandemia. Estamos em defesa da vida e contra a má distribuição das vacinas. Somos contra esse governo genocida e o impeachment é a melhor saída”, diz Eduardo Correa, estudante de Economia da Universidade Federal do Maranhão.

O ato teve uma pequena discussão entre manifestantes e um jovem, identificado como Eduardo Andrade, apoiador do presidente que proferiu palavras de apoio a Bolsonaro no meio da manifestação. Na mesma hora, a situação foi tranquilizada pela turma do “deixa disso”.

Com um número maior de participantes do que a manifestação de 19 de junho, o ato contou com a presença de movimentos partidários e entidades, como Psol, PSTU, PDT, PCdoB, PSB, PT, PCB, PCO, UJS, UJC, CUT, Sinproessema, UNE, UBES, CTB e APLUMA. O ato terminou na Ponte José Sarney.

Em São Luís, os manifestantes caminharam da Praça Deodore à  Ponte José Sarney em ato pelo impeachment de Bolsonaro. Foto: Davi Max/Estadão

Em São Paulo, o ato está previsto para ter início às 15h. A concentração será em frente ao Masp, na Avenida Paulista. A Secretaria de Segurança Pública do Estado vai reforçar o esquema de policiamento, com cerca de 600 policiais.

Em Brasília, a manifestação está prevista para ter início às 16h, em frente ao Museu Nacional.

Os atos deste sábado são organizados por movimentos sociais como MST, MTST, frente Povo Sem Medo, Brasil Popular, Coalizão Negra por Direitos, União Nacional dos Estudantes (UNE), Central de Movimentos Populares (CMP) e Uneafro Brasil. Partidos como PT, PSOL e PCdoB apoiam as manifestações.

Neste sábado, 3, manifestantes protestaram contra o presidente Jair Bolsonaro em Genebra, na Suíça. Foto: Reprodução/Twitter Frente Internacional Brasileira

Assim como nos últimos dois atos, protestos contra o presidente Bolsonaro também foram registrados no exterior. Em Berlim, na Alemanha, dezenas de manifestantes se reuniram  no  Portão de Brandemburgo. Segundo informou a agência de notícias Deutsche Welle em sua conta brasileira no Twitter, eles criticaram a gestão da pandemia no Brasil, pediram o impeachment de Bolsonaro, além de denunciarem a violência contra os povos indígenas. Cartazes também lembravam a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018.

Além da capital alemã, também foram registrados atos em Munique e Viena.

Atos adiantados

As manifestações de hoje estavam previstas para ocorrer somente em 24 de julho, mas foram antecipadas pelos organizadores depois do caso Covaxin vir à tona na CPI da Covid.

Bolsonaro foi acusado de prevaricação por membros da comissão depois de o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmar em depoimento que alertou o presidente da República sobre supostas irregularidades na compra de milhões de doses da vacina indiana contra a covid-19. Senadores protocolaram uma notícia-crime contra Bolsonaro na última segunda-feira, 28. A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou na noite de sexta-feira, 2, a abertura do inquérito para investigar o presidente. Rosa Weber acolheu pedido assinado pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros.

Na quarta-feira, siglas da esquerda, centro e da direita, além de ex-bolsonaristas protocolaram na Câmara um "superpedido" de impeachment de Bolsonaro. O documento lista 23 crimes que teriam sido cometidos pelo presidente desde que tomou posse. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também convocou uma reunião extraordinária para o dia 20 de julho com o objetivo de discutir a apresentação de um pedido próprio de impeachment.

No último dia 19 de junho, dezenas de milhares de pessoas protestaram contra o presidente em mais de 400 cidades do Brasil e do exterior. Os protestos ocorreram de maneira pacífica e reuniram, segundo os organizadores, mais de 750 mil pessoas. Pelas redes sociais, o presidente Bolsonaro ironizou os protestos. O chefe do Executivo postou o vídeo de um protesto pequeno em Paranaguá para dar a entender que não houve adesão às manifestações.